Centro Municipal de Belas Artes é o mais antigo elefante branco de Campo Grande

Obra inacabada se transforma em "lar precário" de moradores de rua

Um arranjo de pimenta artificial serve de “decoração” que tenta dar algum aspecto de lar ao mais antigo elefante branco de Campo Grande: o Centro Municipal de Belas Artes. Precários brinquedos, patinete, bicicleta ergométrica, colchões, pedras amontoadas que servem de fogão, roupas, sapatos, dão à obra, iniciada no século passado, uma utilidade provisória: abrigo a pessoas em situação de rua.

A “casa improvisada” é apenas uma das funções adquiridas pelo local enquanto as obras não são retomadas. O empreendimento, que já recebeu cerca de R$ 10 milhões de dinheiro público, também é usado para outros fins, como consumo de drogas e como “motel”. “Acontece de tudo aí”, contou o aposentado João Fernandes, 69 anos, que mora na região desde que nasceu.

João se lembra da época em que a área era usada para cultivo de hortaliças. “Era tudo horta de um japonês”, conta sobre o local que abriga uma obra iniciada há quase três décadas e que já passou por nove gestões e seis prefeitos.

“Poderia até mesmo construir um lagoa artificial aqui. Água tem bastante pra isso”, sugere o aposentado, que acredita que a obra será finalizada. “Tenho esperança nisso. Acho que vai ficar muito bonito. Mas por enquanto, essa 'belas artes' não têm nada de belo”, finalizou.

A obra foi orçada em R$ 35 milhões. Como resultado de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado em 2007 com o MPE (Ministério Público Estadual), a prefeitura elaborou projeto para transformar o prédio em Centro de Belas Artes. Para continuidade do empreendimento, o Ministério do Turismo destinou R$ 8,3 milhões, pagos em duas parcelas, em 2008 e em 2010.

Recentemente, o promotor de Justiça Humberto Lapa, titular da 31ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público, e o prefeito Marquinhos Trad (PSD) estiveram no local. O MPE cobra a retomada das obras, porque a prefeitura recebeu dinheiro do governo federal.

Tentativa de casa – Enquanto isso não ocorre, o arranjo de pimenta artificial sobre uma mala velha cumpre precariamente seu propósito: “enfeita” o ambiente, tomado por muita sujeira, mato alto, garrafas pets, copos plásticos e objetos que aparentam estar em uso, como roupas, tênis, chinelos e colchões.

Além de adultos, é possível que tenha criança no lugar. Isso é indicado pela presença de alguns brinquedos: um dragãozinho de plástico, uma boneca e um patinete. 

Tudo no lugar é precário, inclusive o próprio prédio. Há diversas infiltrações, deterioração do material e as paredes da construção inacabada estão marcadas por pichações. Na parte inferior de uma escadaria, está pichada a palavra "opinião" sobre a pergunta "cadê?" A questão é emblemática, pois há muito a ser encontrado, sobretudo o caminho para conclusão da obra.