As investigações indicam que Alírio Francisco 'ganhou' uma caminhonete no valor de R$ 75 mil dos criminosos.

Líder de grupo alvo de operação contra o PCC tinha influência com ex-chefes da Agepen
Alírio Francisco do Carmo e Aud de Oliveira Chaves. / Foto: Divulgação

Os ex-chefes da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) Alírio Francisco do Carmo e Aud de Oliveira Chaves são investigados no âmbito da Operação Blindagem contra o PCC (Primeiro Comando da Capital), por suspeita de facilitar e ‘blindar’ as transferências do líder Kleyton de Souza Silva, em Mato Grosso do Sul.

A organização criminosa, ligada ao PCC, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), fazia o tráfico interestadual de drogas, além de praticar corrupção ativa e passiva, agiotagem, comércio ilegal de armas de fogo e lavagem de dinheiro.

Assim, a estrutura era comandada de dentro de presídios e contava com uma rede de colaboradores em Campo Grande, Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Jardim, Sidrolândia, Ponta Porã e Bonito, bem como integrantes nos estados de São Paulo e Santa Catarina.

Prisão e busca
Na última sexta-feira (7), Alírio Francisco foi preso em cumprimento de mandado de prisão. Já Aud Oliveira, ex-diretor-presidente da Agepen, teve o endereço residencial como alvo de mandado de busca e apreensão.

As investigações do Gaeco apontam que Alírio, em 2022, atuava como chefe da Divisão dos Estabelecimentos Penais da Agepen. Então, na época, o grupo o cooptou mediante vantagens indevidas, para facilitar transferências de presos, realizar apreensões seletivas de celulares e garantir a permanência de Kleyton de Souza em presídios.

Já Aud Oliveira teve o nome citado, uma vez que a sua participação pode ter ocorrido na prática de atos ilícitos. Entretanto, a real motivação por trás da sua atuação decorreu de um ‘favor’ pessoal, revelando sua anuência com as práticas ilícitas da organização criminosa. Por fim, a participação de Aud não foi conclusiva.

Mas, segundo o documento, Aud, à época, manteve contato direto com a tia de Kleyton. Com isso, ele teria sido responsável por assegurar a não transferência do preso para o Estabelecimento Penal de Segurança Máxima.

Assim, ele ficou em uma unidade prisional mais branda, o que, segundo as investigações, contribuiu diretamente para a continuidade e expansão das práticas criminosas coordenadas dentro do presídio.

Transferências blindadas
Conforme o Gaeco, Alírio Francisco tinha participação na ‘blindagem’ da transferência do líder. Em uma conversa de Kleyton de Souza com Thiago Gabriel Martins da Silva, este afirmou ter ‘dado’ uma caminhonete no valor de R$ 75 mil para o chefe da então Divisão dos Estabelecimentos Penais da Agepen, a fim de ‘blindar’ as possíveis transferências do primo dele.

“Mané, eu dei uma F-250 para ele, para ele blindar meu primo lá, que os caras queriam ‘dar bonde’, o Wesley foi lá dar bonde, não conseguiu tudinho. A caminhonete vale 75 mil reais, você disse”, disse Thiago para Kleyton, em uma conversa de 2022.

“A Agepen informa que a operação mencionada não tem como alvo servidores atualmente em exercício nas unidades penais do Estado. Ainda assim, a Corregedoria da Instituição instaurou procedimento administrativo disciplinar para apuração dos fatos.

De acordo com o Gaeco, a operação é fruto de investigação iniciada há mais de dois anos.

A Agepen repudia qualquer prática ilícita ou ato de corrupção e atua de forma integrada com os demais órgãos de segurança e de justiça para coibir tais condutas. A instituição trabalha de maneira contínua para impedir o acesso indevido de internos a meios de comunicação externa, investindo constantemente em tecnologia e na capacitação de seus policiais penais para fortalecer esse enfrentamento.”

Vinte e oito presos ligados ao PCC
A Operação Blindagem prendeu 28 pessoas de organização criminosa ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) na última sexta-feira (7), em Mato Grosso do Sul e outros estados.

Ao todo, as equipes foram às ruas para cumprir 35 mandados de prisão preventiva e 41 de busca e apreensão. Conforme o Gaeco, o grupo não localizou sete alvos nos endereços.

Confira a lista completa de presos:
Alexssandro Pereira Silva
Alírio Francisco do Carmo
Brenda Yasmin Martins de Freitas
Daniel Ferreira Dornelles
Francisco Assidir Nogueira Sutil
João Rodival Balbuena
Johan Fabiano Rodrigues Lescano
Karoliny de Oliveira Faria
Kleyton de Souza Silva
Lana da Silva Gonçalves
Luana da Silva Gonçalves
Lucas Wesley de Souza Santo
Michel Lescano dos Santos
Monique Siqueira Lopes Meireles
Osvaldo Vianna dos Santos Júnior
Paola da Silva Januário
Selma Nunes Roas
Shirlei Martins
Tiago Paixão Almeida
Luan Guilherme Lindner Bettoni
Luiz Otávio da Silva Silveira
Maro Aurélio Ribeiro
Dayane Silva de Aguiar
Diego da Silva Frameschi
Ivanir Fernanda dos Santos Nunes Rodrigues
Glaucimar Queiroz Machado
Mauro Ricardo Fabreau
Fabrício Aparecido da Silva Guilherme
Assim, os mandados foram cumpridos em Campo Grande, Aquidauana, Sidrolândia, Jardim, Bonito, Ponta Porã e Corumbá, além de Porto Belo (SC), Balneário Piçarras (SC), Itanhaém (SP) e Birigui (SP).

‘Blindagem’: investigações
As investigações, que duraram 25 meses, revelaram que a organização criminosa atuava em diversas frentes, enviando drogas para cidades do interior de Mato Grosso do Sul e para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás, utilizando diferentes métodos.

Eles utilizavam caminhões com fundo falso para garantir a ocultação dos entorpecentes. Para dificultar uma eventual fiscalização nas estradas, a organização transportava produtos alimentícios lícitos com nota fiscal e a droga em compartimentos escondidos.

Além disso, o grupo realizava remessas por Sedex, utilizando os Correios, e também transportava drogas em veículos de passeio e utilitários, inclusive por meio de passageiros transportados em vans.

Organização ligada ao PCC
A investigação ainda descobriu a ligação do grupo com o PCC (Primeiro Comando da Capital), que fornecia suporte por meio de membros de sua alta cúpula, para ampliar o tráfico e aplicar punições violentas a quem estivesse em débito com o grupo criminoso.

Nisso, foram identificadas práticas de extorsão com uso de arma de fogo, violência e cárcere de vítimas, justamente para a obtenção do pagamento de dívidas oriundas do tráfico de drogas e da agiotagem.