Fronteiriço e com divisa entre cinco estados, Mato Grosso do Sul enfrenta ameaça tripla quando a questão são organizações criminosas.
A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) confirma presença de pelo pelos três facções no Estado, sendo PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e TCP (Terceiro Comando Puro). O último preocupa a Agência e acende alerta para ascensão no território sul-mato-grossense.
Em audiência pública no Senado, o coordenador-geral de análise da Abin, Pedro de Souza Mesquita, relatou o cenário atual das facções no Brasil. “São 31 grupos criminosos, há 31 grupos que são capazes de afetar a segurança pública de pelo menos um estado. Desses grupos, três atuam nacionalmente”.
São nacionais: PCC, CV e TCP. Os três já atuam em Mato Grosso do Sul. Operações marcam ações contra as organizações no Estado.
Esquemas que movimentam bilhões também estão entre as ações das facções em MS. Um deles chega a R$ 52 milhões e resultou em pedido de convocação de um dos líderes do PCC para depoimento na CPI do Crime Organizado.
Fronteiras de MS
A CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) é presidida pelo deputado Dep. Filipe Barros (PL-PR) e tem como vice o senador por Mato Grosso do Sul, Nelsinho Trad (PSD).
O coordenador-geral da Abin afirmou que as fronteiras são essenciais às facções. “A questão do crime organizado não é só interna, ele tem um coeficiente externo hoje, mais do que nunca”, destacou.
Mato Grosso do Sul se localiza lado a lado com o Paraguai e Bolívia. Contudo, também tem divisão entre Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Ou seja, se encaixa na problemática ressaltada por Mesquita:
“Existe claro um problema de fronteira, mas também existe um problema de divisa. É cruel e, ao mesmo tempo, injusto, culpabilizar o estado do Rio de Janeiro ou estado de fronteira”, disse.
PCC
A fronteira é usada principalmente pelo PCC, apontada como internacionalizado pelo coordenador da Agência. “Quando a gente fala hoje em transnacionalidade, a gente precisa olhar para esse ator, o PCC”, afirmou.
Então, destacou que o Primeiro Comando da Capital é “o maior case que temos no país e é sem sombra de dúvidas, hoje, o grupo que mais afeta nossa estabilidade”. Sofisticado, é assim que o PCC atua nacional e internacionalmente, comentou o integrante da Abin. “É aquele grupo que de forma mais sofisticada se transnacionaliza”.
Comunicado interno interceptado pela Agência mostrava que o PCC procurava membros fluentes em espanhol, para expansão dos trabalhos em outros países. “Hoje temos um estado de 28 países, 2078 membros atuais”, disse Mesquita sobre o processo que ocorreu nos últimos 15 anos.
Em MS, o PCC se estabeleceu e expandiu desde a transferência do líder César Augusto, conhecido como ‘Cezinha’, na década de 90.
Comando Vermelho
Logo, a internacionalização do PCC abre espaço em território brasileiro, aponta o coordenador. Ele afirmou na audiência que os locais onde o PCC tem deixado de ocupar espaço, há crescimento das outras duas organizações.
“Inevitável a gente falar da nacionalização do Comando Vermelho nesse processo”, disse.
Mesquita afirmou que o Comando Vermelho está em Mato Grosso do Sul, assim como demais estados. No entanto, ainda não é o principal grupo em alguns estados. “Do norte, a gente só não tem o CV como principal grupo em Roraima e no Amapá, mas ele também está presente. E nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, como relevante. Todos esses outros ele está presente”, detalhou.
A expansão do CV se dá por parcerias entre outros grupos menores, que porventura enfrentaram desafios com o PCC. “A partir do momento que ele sai, ele [CV] começa a se aliar a grupos nesses estados que estavam enfrentando o avanço do PCC, lá atrás em 2013”.
Oferta de armas e drogas desencadeia os apoios dentro dos estados. “Ele [CV] começa a oferecer à esses grupos um acesso logístico de armas, drogas, uma cadeia de comando muito mais descentralizada do que a facção paulista e vai se proliferando”.
Terceiro Comando Puro
Mas o alerta principal para Mato Grosso do Sul e o cenário nacional é para expansão do TCP. “Ascensão de um terceiro polo de poder. É um relatório que a gente mapeou este ano, que é justamente a ascensão do Terceiro Comando Puro do Rio de Janeiro em âmbito nacional”, revelou o coordenador-geral.
Na procura por território, o TCP acaba “replicando em muito o próprio Comando Vermelho e ocupando lugares que o PCC era dominante e hoje já não é mais”. Assim, Mesquita reforçou que o ‘espaço’ existe porque o PCC “cada vez mais olha para fora”.
Entre os estados que possuem ascensão do TCP, destacam-se: Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.
Com réplica de ações do CV e, ao mesmo tempo, rival da facção, o TCP ganhou classificação como ‘interessante’ no relatório. “É interessante esse método, porque ele oferece a mesma rede de fornecimento de fuzil, a mesma rede de droga”, apontou Mesquita.
Ademais, o coordenador-geral disse que “o que mais nos preocupa nesta ascensão é que a gente está vendo a nacionalização de um processo fluminense”. Assim, revelou preocupação sobre milícias e confrontos.
Por fim, cravou que todo confronto realizado em Mato Grosso do Sul e no Brasil possui, hoje, ação do Comando Vermelho. “Todos eles envolvem o CV, não há confronto de organizações criminosas hoje no Brasil, em cada estado, que não envolva o CV”, finalizou.











Olá, deixe seu comentário!Logar-se!