O furto de mais de 100 quilos de cocaína da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Aquidauana, em 2019 desviado pelo então delegado Eder Oliveira Moraes voltou ao centro das investigações criminais em Mato Grosso do Sul.
A droga, que desapareceu do cofre da unidade policial e resultou na condenação do delegado a 14 anos e sete meses de prisão, foi adquirida por Kleyton de Souza Silva, agora apontado como líder da organização criminosa desmantelada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na Operação Blindagem, deflagrada na última sexta-feira (7).
As apurações contra o grupo comandado por Kleyton tiveram início em julho de 2022, após a apreensão de um celular dentro de uma cela do Estabelecimento Penal de Aquidauana. A análise do aparelho revelou que o detento era, na verdade, o responsável por estruturar, ordenar e dirigir a organização criminosa armada, formada por mais de quatro integrantes e com clara divisão de tarefas. O grupo atuava em crimes de tráfico interestadual de drogas, usura cobrança de juros abusivos e comércio ilegal de armas de fogo.
As investigações iniciais também apontaram que Kleyton mantinha estreitos vínculos com o PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele utilizava contatos de membros da alta cúpula da facção para ampliar operações de tráfico, manter fluxo de armas e impor punições violentas a devedores. A estrutura interna permitia que ele controlasse o grupo mesmo estando preso.
Segundo o Gaeco, a rede criminosa só se sustentou porque, à época, contou com a colaboração de ex-chefes da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário). Documentos e depoimentos apontam que Alírio Francisco do Carmo e Aud de Oliveira Chaves atuaram para garantir que Kleyton permanecesse em unidades de segurança média incompatíveis com seu perfil de liderança e periculosidade. Alírio ainda promovia transferências de desafetos e fornecia informações sigilosas de sistemas internos, como o Sigo e o Seeu. Já Aud mantinha contato direto com a família do criminoso para evitar sua ida ao Presídio de Segurança Máxima, assegurando que ele continuasse a coordenar as ações ilícitas de dentro da prisão.
Em nota, a Agepen informou que a operação “não tem como alvo servidores atualmente em exercício”, mas que instaurou procedimento administrativo disciplinar para apurar os fatos. A instituição reforçou o repúdio a práticas ilícitas e destacou esforços constantes para impedir o acesso de internos a meios de comunicação.
O delegado condenado pelo furto da cocaína
O então delegado Eder Oliveira Moraes que chefiou a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Aquidauana foi preso em junho de 2019 e condenado por envolvimento com organização criminosa voltada para o tráfico de drogas. Ele desviou mais de 100 quilos de cocaína e repassava informações privilegiadas à traficante Sandra Ramona da Silva, com intermédio da advogada Mary Stella Martins de Oliveira, que tinha acesso livre ao gabinete do delegado. Em troca, recebia propinas. As ações ilegais foram descobertas por meio de interceptações telefônicas e confirmadas por investigações do Gaeco.
Operação Blindagem
A Operação Blindagem teve como objetivo desmantelar uma organização criminosa especializada em tráfico interestadual de entorpecentes, corrupção ativa e passiva, usura, comércio ilegal de armas e lavagem de dinheiro. O grupo operava a partir do sistema prisional e mantinha colaboradores em Campo Grande, Aquidauana, Anastácio, Corumbá, Jardim, Sidrolândia, Ponta Porã e Bonito, além de ramificações em São Paulo e Santa Catarina.
As investigações apontam que a organização enviava drogas para cidades do interior de Mato Grosso do Sul e para estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás. A estrutura contava com logística complexa, métodos diversos de transporte e rede de arrecadação de dívidas por meio de extorsão, violência e restrição da liberdade das vítimas.
A partir da apreensão do celular de Kleyton, foi possível revelar outra vertente da organização: o envolvimento de servidores públicos que, em troca de benefícios pessoais, garantiam ao líder acesso a celulares, informações sigilosas e proteção dentro do sistema prisional. Com essas facilidades, o criminoso mantinha influência direta sobre a rotina do presídio e expandia as operações de tráfico e usura.
Assim, a Operação Blindagem evidenciou não apenas a atuação estruturada do grupo, mas também como o furto da cocaína da delegacia de Aquidauana, em 2019, esteve diretamente ligado ao fortalecimento e financiamento dessa organização criminosa.











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