Marido de Adriane Lopes comanda prefeitura de gabinete da Assembleia Legislativa.
A exoneração de Youssif Domingos da Secretaria Municipal de Governo e Relações Institucionais (Segov) de Campo Grande, oficializada em 31 de outubro de 2025, é muito mais que uma simples substituição no primeiro escalão. A ação mostra um verdadeiro poder paralelo na Capital, comandado pelo marido da prefeita Adriane Lopes (PP), deputado estadual Lídio Lopes (sem partido).
O evento, que coincidiu precisamente com o anúncio de um pacote drástico de austeridade fiscal pela administração, funciona como o epicentro de um terremoto político que expõe a profunda crise de governabilidade e a paralisia decisória que afligem a gestão da prefeita Adriane Lopes.
Enquanto a nota oficial da Prefeitura de Campo Grande atribuiu a saída a "motivos pessoais e familiares", fontes políticas e parlamentares ouvidos pela reportagem pintam um quadro radicalmente distinto. A versão que circula nos bastidores do poder, e que fundamenta esta reportagem, é unânime: Domingos, um político experiente e com vasta capilaridade era uma figura meramente decorativa, sem "autonomia alguma no cargo, e nem poder de decisão".
Segundo consta, o episódio de sua saída foi emblemático da desorganização e do vácuo de poder: o secretário não teria sido formalmente comunicado de sua própria exoneração, sendo informado do fato apenas ao chegar para trabalhar.
Segundo essas mesmas fontes, a Segov, pasta nevrálgica de qualquer administração, é, de fato, controlada por Lídio Lopes, que comandaria a articulação política diretamente de seu gabinete na Assembleia Legislativa. A queda de Youssif e a ascensão do adjunto, o advogado Ulisses Rocha, ocorrem no exato momento em que a gestão enfrenta o que é descrito como um "caos administrativo histórico".
Este cenário é marcado por um colapso fiscal que levou ao estouro da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), , uma "epidemia de buracos" que obriga moradores a realizarem reparos por conta própria, e a falência de serviços básicos de saúde e segurança educacional.
O DIA DAS BRUXAS
O dia 31 de outubro de 2025 ficou marcado por uma confluência de eventos que selou o destino da articulação política da capital. A exoneração de Youssif Domingos, substituído imediatamente por seu adjunto, Ulisses Rocha, foi o ato central. Oficialmente, a prefeitura justificou a mudança como um pedido do próprio secretário por razões "pessoais e familiares", narrativa parcialmente ecoada em outras publicações que mencionaram "questões familiares e de saúde".
Contudo, apuração indica que que Youssif percebeu que o ambiente estava além da desorganização rotineira de uma administração. Esta informação alinha-se diretamente com as alegações de fontes políticas sobre a total disfuncionalidade e falta de autonomia da pasta.
A informação que circulou nos corredores políticos foi a de que o secretário "chegou para trabalhar e foi informado do fato", um detalhe simbólico da percepção de desorganização e tratamento no núcleo da gestão.
O ponto principal, entretanto, é a conexão causal direta entre a queda do articulador político e a crise financeira. A saída de Youssif não foi um evento isolado; ocorreu exatamente no mesmo dia em que a prefeita Adriane Lopes anunciou o pacote de austeridade mais severo de seu mandato.
No mesmo 31 de outubro, a prefeita anunciou:
A redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias em todas as repartições públicas, pelo prazo de 120 dias (exceto serviços essenciais);
O corte de 20% em seu próprio salário, no do vice-prefeito e no de todos os secretários municipais.
Como Secretário de Governo, Youssif era o principal responsável pela articulação com a Câmara Municipal e o funcionalismo, atos que nunca pode decidir ou influenciar.
Duas narrativas foram circuladas durante a exoneração de Domingos: Youssif foi usado como o principal responsável pela falha da gestão em gerir politicamente o colapso fiscal que se avizinhava. E a outra diz que ele recusou-se a avalizar o pacote de austeridade e a condução da prefeita pedindo demissão para não associar seu nome ao "caos administrativo".
Em ambos os cenários, a conclusão é a mesma: a governabilidade da prefeitura, no momento em que mais precisava de articulação, ruiu. Ulisses já ocupava o cargo desde quando Adriane assumiu, em 2022, e tinha pouca ou nenhuma atuação de fato.
A nomeação de Domingos, no início da gestão, foi celebrada como um trunfo político. Ele era um ex-deputado e ex-vereador, elogiado publicamente por sua "experiência e vocação para o diálogo" e visto como um político qualificado. Sua indicação teve, inclusive, a chancela da principal apoiadora política da prefeita, a senadora Tereza Cristina (PP).
A questão central, portanto, é: por que nomear um político com tanta "capilaridade" para uma posição de "fantoche"?
A resposta, segundo parlamentares e fontes do Paço Municipal, é que a função de Secretário de Governo já estava ocupada, de fato, pelo deputado estadual Lídio Lopes, que na semana passada foi chamado de "Janjo” pelo deputado Pedro Pedrossian Neto, durante debate inflamado na Casa de Leis estadual. A influência do deputado na administração é vasta e opera em múltiplas frentes, criando um "governo paralelo" que esvazia as funções formais da Segov.











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