João Henrique revelou na tribuna detalhes desta ação já declarada inconstitucional pelo STF.

Deputado denuncia tentativa ilegal de uso de depósitos judiciais pelo Governo de MS
Deputado estadual João Henrique Catan (PL-MS). / Foto: ASSECOM

O deputado estadual João Henrique Catan (PL-MS) subiu na terça-feira (16/12) à tribuna da Assembleia Legislativa de MS para revelar o que considera entre outras coisas uma afronta direta do Governo do Estado ao Legislativo de MS relativa no uso indevido e inconstitucional dos depósitos judiciais. Diante dos fatos mostrados, o deputado, nesta mesma data, protocolou um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que suspende os efeitos da Resolução SEFAZ nº 3.482/2025 , publicado pelo Governo do Estado no último dia 12. A norma, editada pela Secretaria de Fazenda, autoriza a utilização de depósitos judiciais e administrativos pertencentes ao Poder Judiciário e aos contribuintes, o que, segundo o parlamentar, é inconstitucional, cria grave risco fiscal e atropela como competências da Assembleia Legislativa.

Durante o discurso, o parlamentar afirmou que a criação desta medida vai de encontro à responsabilidade fiscal de um estado cujas contas estão no vermelho, já que o secretário de Fazenda teria legislado por conta própria, editando uma resolução “sem debate público e em pleno recesso parlamentar”.

"Estamos diante de um ato unilateral que tenta regular matéria já declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. É uma manobra que invade a competência da Assembleia e ameaça a estabilidade financeira do Estado, ao permitir o uso indevido de valores que pertencem ao Poder Judiciário e aos jurisdicionados", declarou o deputado.

ESTADO DEVE R$ 2,3 BILHÕES DE DEPÓSITOS JUDICIAIS

O deputado João Henrique explicou que o governo estadual já foi condenado a devolver mais de R$ 2,3 bilhões referentes a valores sacados indevidamente de contas judiciais em operações anteriores — montante que ainda não foi restituído ao Poder Judiciário.

Ele ressalta que a nova resolução “repete o erro do passado”, pois também autoriza o uso dos depósitos para específicas diversas, entre elas pagamento de despesas de capital, financiamento de PPPs (parcerias público-privadas) e recomposição de fluxos previdenciários — o que contraria a Lei Complementar Federal nº 151/2015, que restringe a destinação desses recursos apenas ao pagamento de precatórios e títulos públicos.

O deputado relembrou, inclusive, que o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Sérgio de Paula, recém-empossado na Corte, suspendeu a tramitação do PPP do Hospital Regional ao acolher representação que aponta risco de falta de competitividade no edital e possível explosão de custos para o Estado ao longo dos 30 anos de contrato, determinando a paralisação do processo até que as irregularidades sejam comprovadas em profundidade

"É um absurdo. O Estado está deficitário, não paga o que deve ao Judiciário, e ainda quer sacar mais dinheiro dessas contas. Esses recursos não pertencem ao Executivo, são garantias de cidadãos e empresas que aguardam decisões judiciais", denunciou Catan.

IRREGULARIDADES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS

O deputado também usou a fala para chamar a atenção a irregularidades em licitações e parcerias públicas, citando o caso da empresa Construcap, envolvida na Operação Lava Jato.

Segundo João Henrique, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS) emitiu sucessivas medidas cautelares para suspender contratos firmados pela gestão estadual, o que, na avaliação dele, “indica uma ação administrativa em desconformidade com a lei e com graves falhas de transparência”.

"O Estado está abandonando estruturas como o Hospital Regional, enquanto vende à população a ideia de que as PPPs seriam uma solução milagrosa. Ao mesmo tempo, há contratos questionados e processos suspeitos de favorecimento, que precisam ser investigados com rigor", afirmou.

Ao explicar o PDL, o deputado afirmou que o objetivo da medida é proteger as prerrogativas da Assembleia Legislativa e restabelecer o controle constitucional sobre o uso dos recursos públicos. Ele destacou que apenas a lei aprovada pelo Congresso Nacional pode dispor sobre o uso de depósitos judiciais e que qualquer tentativa de faze-lo por resolução estadual é nula de pleno direito.

"A Assembleia Legislativa não pode ser atropelada por decretos e resoluções criadas para tapar buracos de caixa. O governo tenta usar dinheiro de depósitos judiciais para maquiar as contas públicas — uma pedalada fiscal disfarçada, que prejudica o Judiciário e os contribuintes", criticou.

João Henrique Catan informou que oficiará a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para acompanhar o caso e adotar medidas jurídicas contra a Resolução SEFAZ nº 3.482/2025. "O papel do Parlamento é fiscalizar, zelar pela legalidade e defender o patrimônio do cidadão. É hora de resgatar o respeito às instituições e à lei", concluiu o deputado.