VÍDEO: Com assédio constante, mulheres sentem-se inseguras até para pegar ônibus

O dia a dia de mulheres que usam regularmente o transporte público não é fácil. É no ônibus lotado que assediadores sentem-se  ‘encorajados’ a tocá-las sem consentimento. Expostas constantemente a situações constrangedoras, elas muitas vezes ficam inseguras ao pegar um ônibus, algo tão rotineiro.

O dicionário Michaelis define a palavra “assédio” como ‘impertinência, importunação, insistência junto de alguém para conseguir alguma coisa’. Sendo assim, é configurado como assédio sexual qualquer ato que leve ao constrangimento dessa natureza. O abuso pode vir na forma das famosas ‘encoxadas’, carícias ou até quando o abusador expõe seu órgão sexuais às vítimas.

Na última quarta-feira (20), um homem foi denunciado à polícia após ser ‘pego’ se masturbando dentro de um transporte público da Capital. O caso foi registrado na Dean (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) como importunação ofensiva ao pudor. Por conta dos últimos casos como este, o Jornal Midiamax conversou com algumas passageiras de coletivos da Capital.

A auxiliar de logística Juliana Matos dos Santos, de 26 anos, conta que um homem já ‘se esfregou’ nela enquanto ela atravessava a catraca. Quando ela pediu para que o abusador parasse, foi respondida com um xingamento. “Até uma mulher que estava sentada, acho que era parente dele, me disse que se eu não quisesse andar de ônibus, que comprasse um carro”, diz.

A dona de casa Thais Jesus Cardoso, de 27, também relata que já passou por situação parecida, e diz que o assédio no coletivo é comum. “Quando as pessoas veem que tá muito lotado, aí eles começam. Eles vêm por trás, tentam se esfregar na gente. Mas a gente evita, eu mesmo saio de perto”. Veja o depoimento dela NESTE VÍDEO:

Ao ser questionada se já teria visto acontecer com outras mulheres, responde: “Sim, é que também umas usa as roupas mais decotadas, um short um pouco mais curto, e homem é homem, né? Mas não é por isso que eles podem se aproveitar delas”.

Mesmo entre as que nunca sofreram abuso, o sentimento de medo ao utilizar um coletivo prevalece. Entre as entrevistadas, difícil encontrar alguém que dependa do transporte público e nunca presenciou assédio ou ouviu de alguém uma história parecida.

A operadora de telemarketing Danielle Santos, de 20 anos, relembra de uma vez em que um homem começou a ‘passar a mão’ em sua amiga no banco e, mesmo que a vítima mudasse de lugar, o agressor a seguia.

A estudante Kessy Adrielly, de 14, utiliza o ônibus diariamente para ir na escola e também já presenciou um caso. “O cara estava se esfregando na menina, e ela virou e xingou. Ele fingiu que nem estava vendo”.

Beatriz de Almeida, por sua vez, afirma que nunca presenciou nenhum caso, e só pelos casos noticiados na imprensa. Mesmo assim, ela ainda se sente insegura ao utilizar o transporte. “Eu fico com medo dos homens. Sempre procuro ficar longe deles”.

Denúncias de abuso sexual podem ser feitas gratuitamente no Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher, não só pela vítima, mas como pelos demais passageiros que testemunharam a situação. A titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) reafirma a importância de se fazer a queixa. “A denúncia tem de ser feita para que a polícia possa agir. A gente vê muitas conversas e especulações por aí, mas grande parte não chega na polícia”, diz.

Casos famosos

Os abusos em Campo Grande começaram a ser noticiados com a prisão de Lucimário Luiz da Silva, apelidado de ‘Maníaco do 087’, pela Polícia. O homem recebeu o codinome porque atacava mulheres que usavam a linha do ônibus 087, que faz o trajeto Terminal Nova Bahia – Centro, um dos mais usadas pela população.

Outro caso com bastante repercussão foi em 2013, quando uma jovem de 21 anos foi abusada por senhor de idade não identificada dentro de ônibus da linha 061, que faz o trajeto bairro Moreninhas – Centro, em um dos horários de maior lotação. Ele chegou a ejacular na roupa da passageira. Outros passageiros teriam visto o abuso, mas não fizeram nada para ajudar. (Supervisão Jéssica Benitez)