À reportagem do site Campo Grande News, o auxiliar de enfermagem Evandro de Souza de Oliveira, de 47 anos, conta que a mãe dele o acordou para avisar que estava com dor no peito, braços e mãos.

Idosa morre após mais de 5 horas à espera de vaga em hospital
Maria do Carmo de Souza Oliveira, de 71 anos. / Foto: Arquivo Pessoal

Uma idosa de 71 anos morreu na última terça-feira, dia 09 de junho, após passar mais de 5 horas à espera de uma vaga em um hospital em Campo Grande. Maria do Carmo de Souza Oliveira foi levada pelo Corpo de Bombeiros até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Leblon, com dores no peito e falta de ar. Ela chegou a ser medicada, mas não resistiu.  Para a família este é um caso de omissão de socorro.

À reportagem do site Campo Grande News, o auxiliar de enfermagem Evandro de Souza de Oliveira, de 47 anos, conta que a mãe dele o acordou para avisar que estava com dor no peito, braços e mãos. Ele aferiu a pressão dela e o resultado foi 8/5, bem abaixo dos 12 considerado “normal”.

Evandro acionou o Corpo de Bombeiros e a idosa foi levada para a UPA Leblon. Conforme o prontuário, ela deu entrada por volta das 8h20 e, a partir desse momento, começou o desespero da família.

"Colocaram ela em uma maca, sem colchão. Ela estava agonizando e as assistentes sociais não deixaram a gente ver como ela estava", lembra. Os filhos permaneceram ali, na recepção, sem respostas sobre o caso.

Profissional da saúde, Evandro reconheceu a gravidade. “Ela estava infartando e ali não tinha nenhum suporte para isso. Ela tinha que ter passado por eletrocardiograma de urgência, ter sido atendida por especialista. Era a única chance dela. Talvez morresse no hospital, mas nas mãos de um especialista”, declarou.

Evandro lembra de ter solicitado informações várias vezes e também dos pedidos feitos para ver a mãe. Após muito tempo, ele conta que um médico saiu para falar com ele.

 “Eu falei sobre a demora na transferência. Que poderia piorar a situação dela e o médico respondeu que sim, mas que ele não poderia fazer nada”.

O auxiliar de enfermagem voltou para a casa enquanto a irmã continuou no posto e ligou para a ouvidoria da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e relatou o caso. Eles responderam que tentariam resolver o mais rápido possível, mas não deu tempo.

Por volta das 14 horas, Evandro recebeu uma ligação do posto informando que o quadro da mãe dele havia piorado. Em seguida a irmã telefonou e ele entendeu. “Fala a verdade, ela morreu, né?”, questionou.

Quando ele retornou a mãe estava na mesma maca, com os chinelos no pé. “Não tiveram nem o trabalho de tirar. Não teve nenhum tipo de assistência, de humanidade. Quando eu cheguei minha mãe já estava morta".

Para ele, a dificuldade em achar uma vaga tem relação com a pandemia do coronavírus em que estão priorizando estes casos e deixando outros em segundo plano. "Isso pra mim é assassinado", declarou. "Acabou nossa vida, nossa alegria. Minha mãe era tudo para nós".

Evandro registrou boletim de ocorrência sobre o caso.

Em nota, a assessoria de imprensa da Sesau respondeu que, “ao dar entrada na unidade ela foi prontamente atendida, realizou os exames e foi medicada”. Segundo eles, a pressão arterial dela foi controlada e a equipe da unidade passou a monitorar a situação.

“Em razão da necessidade de exames complementares e atendimento de um médico cardiologista foi solicitada a transferência para uma unidade hospitalar, porém não houve sinalização de disponibilidade de leitos por parte dos hospitais”, responderam.

Ainda conforme a nota, o quadro da paciente evoluiu e ela morreu pouco depois das 14h em razão de uma parada cardiorrespiratória. Eles negam problemas no atendimento. “A Sesau reforça que a paciente recebeu toda a assistência possível na unidade e se solidariza com a perda da família”.

Em relação a queixa sobre atendimento dado pelo médico, a Sesau respondeu que “será apurada por meio de um processo de sindicância”.