Trabalhadores de frigorífico fazem protesto contra salário atrasado e ameaçam parar trabalhos.

Fornecedores e funcionários da empresa Frigocorte, de Maracaju, estão sem receber
Funcionários indo para o setor de abate. / Foto: Robertinho

Os funcionários do Frigorifico Frigocorte, do município de Maracaju, tiveram uma ingrata surpresa há alguns dias. Os salários, que estavam atrasados, foram parcelados. Em nota o gerente administrativo Jeferson da Luz Gonçalves, alegando problemas financeiros, afirmou que o pagamento referente ao mês de junho seria pago de forma parcelada, em quatro vezes.

Considerando a crise política e financeira que atingiu o País e em especial o setor, seria até compreensível tal adequação, podendo até ser considerada uma demonstração de boa vontade a atitude da empresa em fazer algum tipo de acordo.

Ocorre que numa pesquisa simples na internet, os Maracajuenses, que estão a tempos atentos aos movimentos do ‘novo proprietário’ e responsável pela administração do Frigorifico, o empresário Ronaldo Ferreira Martins, perceberam que tem muitos motivos para se preocupar.

Ronaldo tem um histórico considerável de problemas com fornecedores e funcionários em outras empresas da qual fez parte, tanto no Paraguai quanto no Brasil, especificamente no estado do Paraná.

A história da compra do Frigorifico de Maracaju

Quando Ronaldo soube, por um amigo, que empresários Maracajuenses proprietários do Frigocorte, José Augusto de Lima Alves e Camila Ricarti da Silva, começavam a enfrentar dificuldades, deu início às negociações para a compra, que aconteceu em novembro de 2016.

Ciente de um passivo (dividas) que a empresa tinha, solicitou que fossem colocadas no contrato clausulas que o deixava livre para decidir a forma de quitação. Acertado o negócio, Ronaldo colocou seus 51% do Frigorifico em nome de Sandra Mariza Costa de Souza, sócia proprietária da “SJ Trading Importação e Exportação Eireli-ME”, aberta em outubro de 2016, apenas um mês antes do fechamento do negócio.

Ao assumir, Ronaldo não pagou as parcelas pactuadas no contrato realizados com os vendedores, acarretando prejuízos enormes para o frigorifico, deixando atrasar parcelas de acordos realizados anteriormente ao contrato de compra e venda, inclusive acordos de dívidas com a União.

Alegando que não continuaria honrando com as parcelas da compra do frigorifico por que não concordava com o passivo apresentado, Ronaldo ganhou tempo, e tudo continuou a funcionar.

Quem é Ronaldo Ferreira Martins?

A partir do nome, do ramo que ele trabalha, e da origem dos veículos, o histórico de Ronaldo (que tem dupla nacionalidade, mas é natural de Amambai/MS) começou a ser desvendado, deixando todos ainda mais apreensivos em Maracaju.

Na edição de um programa de TV investigativo do Paraná, apresentado pelo Cabo Galdino, o nome do empresário aparece envolvido em problemas de falta de pagamento de fornecedores e dos salários de funcionários do Frigorifico VPR, do município de Colorado. A data da matéria remete há quatro meses antes da compra do Frigorifico de Maracaju (julho de 2016).

Em outro programa jornalístico do Paraná, desta vez da RTV de Apucarana, pecuaristas e caminhoneiros, credores da VPR, são entrevistados e afirmam que lhes foi indicado o deslocamento até Apucarana para tratar dos débitos na empresa Aliança Química, que seria do grupo, onde os acertos novamente não aconteceram.

A empresa VPR foi citada, em janeiro de 2015, na quebra de sigilo do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, quando contas da JBS começavam a ser investigadas na Operação Lava Jato.

Segundo publicação da Gazeta do Povo a empresa “Gilson M. Ferreira Transporte-ME”, sediada em São José dos Pinhais e considerada como de fachada pela Polícia Federal (PF), teria recebido depósitos de R$ 800 mil da JBS, e parte dos recursos (cerca de R$ 226,4 mil) teriam sido movimentados através do frigorífico VPR Brasil, de Colorado (PR). Há época Ronaldo, enquanto diretor da VPR chegou a dar explicações a PF, negando as irregularidades.

Outra empresa onde Ronaldo Ferreira Martins figura como presidente é a San Pedro Frigorifico, localizado na cidade de Limpio, no Paraguai. Nesta empresa a situação se repete através das publicações encontradas nos jornais daquele País.

O Última Hora, um dos maiores jornais, traz diversas notícias que começaram a ser publicadas em abril de 2015, tratando do atraso no pagamento de fornecedores e funcionários. Em uma das primeiras reportagens, Ronaldo concedeu entrevista e justificou que a situação se devia ao fato de não ter recebido por vendas feitas a compradores russos e que logo tudo seria solucionado inclusive por que estaria fechando contratos com compradores da Venezuela. Na matéria diz ainda que a empresa teria emitido, meses antes, títulos no valor de US$ 9.3 milhões para expandir seus negócios.

Nos capítulos que seguem, aconteceu a derrocada. Datando de 06 e junho de 2015 a notícia trata do indiciamento de Ronaldo e Vânia, junto de César Florentín, que seria gerente financeiro da empresa, com denúncia de que teriam aplicado golpe milionário realizando transações com cheques sem fundos. Naquela data o promotor Miguel Vera teria solicitado a prisão domiciliar dos acusados.

Em 12 de fevereiro de 2016 a última notícia dava conta de que o Banco Central do Paraguai (BCP) teria rebaixado a classificação de crédito do frigorifico para a categoria 3 (arriscado para investir) e Bancop e IPS teriam iniciado ações judiciais contra a empresa, assim como BBVA Paraguai e Regional. Até aquela data boa parte dos credores continuava sem receber do Frigorifico San Pedro e cerca de mil funcionários teriam sido dispensados também sem receber pagamentos.

A pergunta que todos se fazem a partir dessas descobertas é: Os funcionários e fornecedores do Frigocorte de Maracaju também terão o mesmo destino dos seus colegas das outras empresas administradas por Ronaldo?

Funcionários

Na manhã desta segunda-feira (1) nossa equipe se dirigiu ao frigorifico e encontrou vários funcionários na entrada do estabelecimento, afirmando que não iriam realizar o abate e desossa dos animais, devido o não cumprimento ao pagamento de salário.

Os mesmos cobram cerca de 35% do salário referente ao mês de junho/2017, que está em aberto com os 82 funcionários do frigorífico.

Através de um representante do frigorifico, sendo este Rubens de Oliveira Centurion (34) ao qual afirmou que até as 14:30 hs desta tarde a empresa estaria quitando o saldo devedor com os funcionários, com referência ao mês salarial de junho.

Diante desta afirmação e comprometimento de Rubens com os funcionários decidiram retomar os trabalhos e realizaram o abate dos animais e a sua desossa.

Gerência

Ao entrarmos em contato com o Gerente Administrativo Jeferson da Luz Gonçalves, este nos relatou que houve um problema com a provisão realizada na agência bancária, não podendo ser efetuado um saque da quantia vultosa para realizar o pagamento dos funcionários, devido ao banco não possuir o valor solicitado pelo Frigorífico.

Contudo foi agendado nova data para realização do saque, sendo o dia de hoje e que o pagamento ocorreria nesta tarde. O gerente frisou ainda que os funcionários estiveram por 65 dias recebendo, mesmo estando parado e que ainda os funcionários eram agraciados com uma cesta básica, como bonificação.

“Eles tiveram por 65 dias recebendo remuneração estando em suas casas, sem estarem trabalhando efetivamente, e infelizmente tivemos um problema organizacional, que acarretou no atraso dos pagamentos dos funcionários e de alguns fornecedores, mas emiti uma nota informando o problema e que estaríamos pagando em quatro parcelas o salário em questão. Hoje iremos liquidar os salários com referência ao mês de junho e no máximo até o dia 10/08 estaremos pagando integralmente o salário referente ao mês de julho”, finalizou Jeferson.

Questionado Jeferson com respeito ao recolhimento do FGTS dos funcionários, ela afirmou que está realizando o pagamento e que em breve irá conciliar os saldos devedores deixando em dia as suas obrigações com a classe dos funcionários.

Pagamento

Fomos informados pelos funcionários que o pagamento está ocorrendo nesta tarde, mas os funcionários ainda estão temerosos em não serem agraciados com o recebimento do salário referente ao mês de julho.

De todas as formas estaremos acompanhando o caso bem de perto.

Fornecedores e funcionários da empresa Frigocorte, de Maracaju, estão sem receber
Fornecedores e funcionários da empresa Frigocorte, de Maracaju, estão sem receber