Entenda o cenário da vacina BCG em municípios de MS

Desenvolvida no início do século XX, a vacina BCG revolucionou a proteção contra as formas graves da tuberculose, doença bacteriana infecciosa que afeta principalmente os pulmões, mas que pode se expandir para outras partes do corpo humano, como rins, ossos, intestino e meninges.
Responsável por deixar a maioria dos brasileiros com a famosa ‘marquinha’ na parte superior do braço direito, o imunizante deve ser aplicado logo após o nascimento do bebê – preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida – e apresenta eficácia elevada, principalmente contra a forma disseminada da tuberculose.
Por sua importância, a vacina BCG ganhou até data: 1º de julho. A escolha refere-se ao dia em que o imunizante foi apresentado ao público pela primeira vez, em 1921, pelos cientistas franceses Albert Calmette e Camille Guérin.
Vacinação em MS
Em 2024, Mato Grosso do Sul atingiu 105,02% da cobertura vacinal – sendo que a meta estipulada pelo Ministério da Saúde é de 90% -. Conforme os dados contidos na RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde), dos 79 municípios sul-mato-grossenses, 8 ficaram abaixo do esperado: Mundo Novo (84,40%); Nioaque (76,92%); Dois Irmãos do Buriti (86,87%); Jaraguari (86,36%); Corguinho (70,45%); Corumbá (76,98%); Rio Verde de Mato Grosso (85,71%); e Ladário (0,00%).
O Midiamax procurou as respectivas prefeituras para entender os fatores que influenciaram os números de aplicação da vacina BCG. Duas se manifestaram: Nioaque e Ladário.
Áreas amarelas ou laranjas representam municípios em que a cobertura vacinal ficou abaixo dos 90%. (Reprodução, Ministério da Saúde)
Aplicação da vacina BCG em Nioaque
A Prefeitura de Nioaque, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, explicou que a cobertura vacinal da BCG no município possui uma particularidade que impacta diretamente nos indicadores. Nioaque não possui maternidade ou hospital que realize partos, ou seja, os nascimentos de crianças nioaquenses ocorrem em municípios vizinhos, onde os recém-nascidos já recebem a vacina BCG logo após o parto, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde.
Por esse motivo, muitas dessas doses acabam sendo registradas no sistema do município onde o parto ocorreu, o que interfere na meta local de cobertura vacinal, mesmo que a criança resida em Nioaque. Esse impacto já é visto, inclusive, no balanço deste ano. Conforme a RNDS, a cobertura vacinal da cidade em 2025 é de apenas 64,10%.
A secretaria, no entanto, pontua que mantém ações de monitoramento e atualização do sistema para evitar subnotificações e garantir que todas as crianças que residem em Nioaque estejam com seu calendário vacinal completo. Por isso, em 2025, entre as estratégias estão: fortalecimento da busca ativa pelas equipes da Atenção Primária à Saúde, a intensificação das campanhas educativas junto às famílias, e o incentivo ao registro adequado de doses aplicadas, inclusive em articulação com os municípios de referência em partos para a população.
Vacina BCG em Ladário
Em Ladário, a cobertura vacinal também é marcada por uma particularidade: até 2024, a aplicação da vacina nos munícipes não ocorria na cidade, mas, sim, em Corumbá, onde há maior estrutura para atender a população. Portanto, conforme a Prefeitura de Ladário, os dados não refletem a realidade local. A não realização da vacina no município justifica o não atingimento da meta em anos anteriores.
Em 2025, a Secretaria Municipal de Saúde de Ladário iniciou ações para reverter esse cenário. Entre as estratégias adotadas, estão: capacitação das profissionais das salas de vacina para aplicação da BCG; abertura de mais uma sala de vacinação; e introdução da vacina BCG no próprio município, possibilitando que os recém-nascidos de Ladário sejam vacinados localmente.
A implantação da aplicação da vacina BCG em Ladário é recente, começou em junho, mas representa um avanço significativo para a saúde pública local. Com essas iniciativas, o município já registra avanços: a cobertura vacinal, que era de 0,00%, passou para 3,45% em 2025.
Vacina BCG na Capital
Em 2024, Campo Grande atingiu 99,89% da cobertura vacinal. A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) destaca que, em 2025, a Capital atingiu 96% de cobertura vacinal parcial, com 4.635 crianças vacinadas com dose única até o dia 26 de junho.
No entanto, a imunização gratuita nas unidades de saúde segue um cronograma específico, sendo realizada exclusivamente no período da manhã.
Às segundas-feiras, a imunização está disponível na USF Caiçara e na Clínica Escola da UFMS. Nas terças-feiras, a vacinação ocorre na USF Ana Maria do Couto e na USF Iracy Coelho. Às quartas-feiras, a aplicação da BCG é feita na UBS 26 de Agosto, na USF Cidade Morena e novamente na Clínica Escola da UFMS.
Nas quintas-feiras, a vacina está disponível na USF Nova Bahia, e às sextas-feiras, na USF Coronel Antonino e na Clínica Escola da UFMS.
Quando a vacina BCG deve ser aplicada?
A vacina BCG previne contra as formas graves da tuberculose – como a meníngea e a miliar – e deve ser aplicada em crianças ao nascer, ou, no máximo, até os quatro anos, 11 meses e 29 dias. Conforme Frederico Moraes, coordenador de imunização da SES (Secretaria Estadual de Saúde), a criança que perdeu a oportunidade na maternidade deve procurar a unidade de saúde mais próxima para receber a dose.
Fiquei sem a ‘marquinha’. Minha imunização não está garantida?
A vacina BCG é feita com o bacilo de Calmette-Guérin – uma forma enfraquecida da bactéria que causa a tuberculose -, glutamato de sódio e solução fisiológica.
Segundo Frederico, após aplicado, o imunizante naturalmente desencadeia no organismo um processo de reação no local da aplicação que evolui dentro de 6 a 12 semanas, período que pode variar de pessoa para pessoa.
Essa reação inclui uma mancha vermelha que evolui para uma pequena ferida e eventualmente cicatriza. É possível que ocorram úlceras grandes, gânglios ou abscessos na pele e disseminação do bacilo da vacina. Conforme o Ministério da Saúde, os gânglios ocorrem em cerca de 10% dos vacinados. Caso haja reações incomuns, o serviço de vacinação deve notificar as autoridades de saúde e encaminhar o paciente para acompanhamento e tratamento adequados.
Portanto, a reação no local da aplicação e a formação de cicatriz são esperadas e não requerem produtos, medicamentos ou curativos. Vale pontuar, porém, que a ausência da ‘marquinha’ não significa que a imunização foi ineficaz. Tanto que em fevereiro de 2019 a revacinação de crianças sem cicatriz deixou de ser recomendada pelos órgãos de saúde.
Sintomas da tuberculose
O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse, que pode ser seca ou com secreção. No entanto, o paciente pode apresentar febre, sudorese noturna e até emagrecimento repentino.
A transmissão da doença ocorre por via respiratória, por partículas eliminadas por meio da tosse, fala ou espirro de uma pessoa com tuberculose ativa sem tratamento.
Quando outros indivíduos respiram essas partículas, há a possibilidade de infecção. No entanto, com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias, o risco de transmissão reduz consideravelmente. Vale ressaltar que a doença não se transmite por objetos compartilhados.
A bactéria é sensível à luz solar e a circulação possibilita a dispersão das partículas infectantes. Ou seja, ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem a probabilidade de transmissão.
Tratamento contra a tuberculose
Caso o paciente seja diagnosticado com a tuberculose, o tratamento é gratuito e está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde). Durante o processo – que dura, no mínimo, seis meses – o paciente administra quatro medicamentos, que compõem o esquema básico: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol.
Quando tratada adequadamente, a tuberculose tem cura.
Olá, deixe seu comentário!Logar-se!