Para quem não gostava de atividade física, Danieli não só espantou as sombras da doença, como encarou o Caminho da Fé, das maiores trilhas de peregrinação brasileiras feita por devotos de Nossa Senhora Aparecida.

Depois do câncer, Danieli se apaixonou novamente pela vida pedalando
Depois de uma vida entre o escritório e o sofá, Daniele afastou o sedentarismo pedalando / Foto: Arquivo pessoal

Danieli Mathias estava acostumada à vida entre o escritório e o sofá. Zona de conforto repentinamente invadida pela sombra de um câncer de tireoide, que no momento do diagnóstico teve o peso de uma sentença de morte. Os problemas de saúde foram a faísca necessária para que Daniele redescobrisse na bicicleta, uma maneira de viver e ver a vida de outro jeito. 

O diagnóstico de câncer ocorreu há cerca de 4 anos, durante uma consulta de rotina ao dermatologista, por causa da queda excessiva de cabelo e ganho de peso.
Danieli diz ter planos de refazer o caminho.
“Comecei a chorar, achei que ia morrer, porque é uma palavra muito forte. A calma só veio depois de chegar ao hospital do câncer, onde o médico me explicou que as chances de cura eram grandes, que o tumor estava no começo e que eu não precisaria fazer nem iodoterapia. No meu caso, o tratamento durou entre 1 e 2 meses, só o tempo do preparo para a cirurgia de remoção da tireoide. Hoje a única coisa que ainda preciso fazer é o acompanhamento de 6 em 6 meses, para ter certeza de que está tudo bem”, relembra.

Sem a tireoide e levando uma vida sem exercícios, Danieli engordou 22 kg. Para ela, que sempre foi magra, não teria sido um grande problema, se o peso não tivesse a levado novamente ao hospital sob suspeita de infarto. Com ultimato do médico, era hora de fazer alguma atividade física.

Maior incentivador da esposa, o marido, Alan Figueiredo Silva, vendeu a bike e comprou um modelo feminino para que ela tivesse mais conforto e só conseguiu outra para acompanhá-la depois de 9 meses. A atitude foi um dos principais motivo pela qual Danieli acabou se apaixonando pelo esporte.

Da primeira volta pedalando, até a viagem que marcou definitivamente a nova vida de Danieli, foi 1 ano de planejamento e cerca de R$ 1.800 investidos. Ela, o marido e mais 3 amigos fizeram de carro o percurso de 1140 km de Miranda até Águas da Prata, onde começa o Caminho da Fé, uma das maiores trilhas de peregrinação brasileiras feita por devotos de Nossa Senhora Aparecida e inspirada no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

“Saímos de Águas da Prata, interior de São Paulo e fomos até Crisólia, uma distância de 66,20 km, nesse dia foi a única vez em que pensei em desistir, aqui em Miranda é tudo muito plano e lá o caminho é praticamente feito só de morros.Não andamos nem 1 metro e já enfrentamos uma baita subida, quando cheguei lá me cima pensei em voltar, já que ainda estava só no começo, mas pensei ‘fiz tudo isso para vir até aqui e não vou desistir agora’. Nesse dia o casal de amigos que estava com a gente resolveu voltar para Águas da Prata, seguimos viagem em 3 pessoas”, relembra.

O segundo dia do caminho foi de Crisólia até Todos do Mogi trecho de 55,9 km, o terceiro dia foram mais 42,5 km entre Tocos do Mogi e Consolação, quando o outro amigo que acompanhava Danieli e Alan desistiram, o casal continuou por mais 3 dias, de Consolação ao Pé da Luminosa, distância de 46,5 km e de Luminosa a Campos do Jordão, com 33,1 km percorridos, De Campos do Jordão ao destino final em Aparecida foram 63,7 km, totalizando 310 km feitos de bicicleta, passando por estradas de terra e trechos tão altos que foi preciso descer da bicicleta e seguir a pé, nem as manhãs frias e os dias quentes foram o suficiente para fazer o casal mudar de ideia.

“O Engraçado é que nós não somos devotos de Nossa Senhora Aparecida, nossos amigos são, mas eles acabaram desistindo no meio da viagem e só nós concluímos o percurso. Passei por uma fase em que quase morri e que foi marcada pelo desespero, depois disso tive a chance de voltar a me encantar com a vida. Sempre fui uma pessoa mole, voltei mais forte, não só física como espiritualmente”, afirma.

Danieli diz ter planos de refazer o caminho, uma oportunidade não apenas de se desafiar, como ela acreditou ser no começo da viagem, mas também de repensar a vida. O trajeto deixou na lembrança a gentileza das pessoas, que unidas pela fé aprenderam a cuidar uma das outras, em um percurso feito para que os corajosos o suficiente para encarar, consigam ver lá de cima o mundo encoberto pelas nuvens.