Professora conta que se formou advogada, mas, realização profissional só ocorreu com aulas de produção textual em MS. Ela corrige 1,2 mil redações por semana

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Professora de MS ficou conhecida como 'Mãe Dináh' do Enem após acertar tema 8 vezes / Foto: Raquel Siufi/Divulgação

O olhar técnico da professora é o mesmo que divide a atenção com as duas filhas. Quando elas estão na escola, Raquel Siufi, de 42 anos, diz que "não para um instante" e fica caçando textos da atualidade, além de corrigir 1,2 mil redações por semana. Nesse domingo (4), ela repetiu a façanha pela 8ª vez e acertou o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
"Eu fiquei acompanhando nas redes sociais e logo vi o tema no Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais]. Poucas horas antes de terminar, alguns alunos saíram e logo me mandaram mensagens, dizendo que se sentiram seguros e quase não sobrou linha para escrever a redação. No período de estudos, passamos muito tempo juntos e, com isso, criamos uma relação muito bacana", afirmou ao G1 a professora.
No dia 31 de outubro, ela conta que a aula falou sobre as tecnologias e como elas interferem na vida humana. Dias antes, os alunos discorreram sobre espionagem de dados, pesquisas no google que nos tornam pessoas manipuladas, perda da liberdade ao nos tornarmos algoritmos e fake news, ainda de acordo com Siufi.

Atuante na produção textual há 23 anos, Raquel diz que também aproveitas as redes sociais para disparar textos para os alunos. "Estou sempre focada em algo específico para o Enem e as provas de vestibular. A maioria dos meus alunos quer Medicina e eu brinco que já devo ter uns seis hospitais formados, bem grandes. Eles recebem de 3 a 5 redações por semana e eu tenho um e-mail que eles mandam dúvidas, a cada 40 minutos eu atualizo e respondo", ressaltou.


Além da aula presencial, a professora também dá o curso on-line. "Tenho alunos do Brasil inteiro. Eu envio o material para eles produzirem os textos. A diferença é que a quantidade máxima que eles fazem é de 12 redações, mas, fica a critério de cada um. Nos feriados e finais de semana, muitos escrevem uma introdução e já me mandam, então o retorno é bem rápido. Fico esmiuçando e aprofundando temas o tempo todo", explicou.

Conforme Siufi, a profissão escolhida por ela é um "sacerdócio" e a faz muito feliz. "Eu sou advogada, mas, larguei a profissão para dar aulas e é o que eu mais gosto de fazer no mundo. Os alunos contam comigo e este processo acaba se transformando em gratidão, já que eles ficam confiantes e não querem me decepcionar, é muito bacana", ressaltou.

Como "porta de entrada" para a universidade, o Enem existe desde 2009. "O tema do ano anterior foi a floresta amazônica e nós acertamos. No próximo, o indivíduo frente à ética nacional e, na época do movimento migratório para o Brasil, foi o momento em que nenhum professor acertou. Depois, acertamos na publicidade infantil, algo até que divulgamos na época. Teve também a violência contra a mulher, intolerância religiosa, desafio na formação educacional dos deficientes, entre outros na prova aplicada aos presidiários que também acertamos", disse.

Bianca Godin, de 20 anos, fez o curso no ano de 2015 e entrou no curso de Medicina, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). "Ela passa vários temas durante o ano e trabalha bastante o que está em voga. A Raquel também tem o hábito de procurar o que está sendo mais cobrado. Na minha época, caiu o tema do feminicídio e, uma semana antes, eu acabei escrevendo e também ao longo do ano. Isto me ajudou bastrane, ela é bem determinanda e coloca os alunos sempre em primeiro lugar", disse.

O estudante João Manuel Alcova Silva, de 19 anos, conta que também faz o cursinho para medicina. "No começo, quando a gente abre a prova, parece um bicho de sete cabeças. Depois, ao ler os painéis certinho, a gente vê que não é nada diferente. Na semana passada, ela passou algo bem semelhante e novamente na última quarta-feira, antes da prova. Me ajudou bastante, no meu caso tinha muitos argumentos prontos e era só encaixar tudo no texto", finalizou.