Entre dezembro de 2024 e abril de 2025 Campo Grande recebeu a doação de uma dúzia de novas ambulâncias, mas a Capital é apontada por ainda operar dez viaturas alugadas.

Com 12 viaturas novas, prefeitura insiste em ambulâncias de aluguel e entra na mira do MP
Entrega de ambulâncias do SAMU ao município em abril deste ano. / Foto: Marcelo Victor / Correio do Estado

Após o Conselho Municipal de Saúde e a bancada sul-mato-grossense apontar que Campo Grande seguiu com o uso de ambulâncias alugadas, mesmo com 12 novas viaturas doadas pelo Ministério, o município chefiado por Adriane Lopes (PP) agora é alvo de inquérito civil instaurado pelo Ministério Público para apurar o assunto.

Toda essa movimentação para apurar a ociosidade das novas ambulâncias partiu de representações formais dos deputados federais, Geraldo Resende (PSDB) e Camila Jara (PT), e do Conselho Municipal de Saúde (CMS), presidido por Cleonice Alves Albres.

Como bem acompanha o Correio do Estado, em meados deste ano o MPMS instaurou a notícia de fato para apurar esse caso de novas paradas e uso de viaturas alugadas, ressaltando os principais problemas dessa situação, que além de gerar gastos excessivos também compromete a conservação dos veículos doados.

Agora, em 08 de outubro, foi assinada a instauração do inquérito civil, pelo Promotor de Justiça Marcos Roberto Dietz, oficiando da notícia de fato: o Município de Campo Grande; Câmara Municipal; os representantes e a Procuradoria-Geral de Justiça.
Entenda

Sobre a situação das ambulâncias em Campo Grande, através do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi anunciado em novembro de 2024 a vinda de 20 novas ambulâncias para Mato Grosso do Sul, das quais a maior parte (seis no total) seriam destinadas para a Capital.

Com os recursos Viabilizados pelo parlamentar do Partido dos Trabalhadores (PT), Vander Loubet, à época Campo Grande já havia "gestado" o contrato por aluguel de ambulâncias por nove meses, quando sinalizada uma mudança para a situação.

Sem regime de dedicação exclusiva de mão-de-obra, a vencedora do licitação para atender a demanda do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi a "A&G Serviços Médicos", encarregada da manutenção das ambulâncias a serem usadas pelos servidores da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau).

Essas seis ambulâncias em questão foram recebidas em dezembro do ano passado, com outras sete entregues no dia 25 de abril de 2025, compra essa também garantida com recursos federais.

Essas sete ambulâncias para Campo Grande foram entregues no lançamento inédito do "Samu Indígena", representando um investimento de R$ 2.734.000,00, oriundos do Ministério da Saúde/ Governo Federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Dessa leva, Segundo a prefeitura, são seis ambulâncias de suporte básico e uma de suporte avançado, com o primeiro tipo de veículo equipado com torniquetes, faixas, ataduras, prancha rígida para acidente e redblock, composta por técnico de enfermagem e um condutor socorrista.

Já o veículo de suporte avançado tem equipamentos complexos e possui as características de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI): ventilador mecânico, monitor, intubação e bombas de infusão, composta por um médico, enfermeiro e condutor socorrista.

Porém, cerca de dois meses antes dessa entrega, durante audiência quadrimestral na Câmara de Campo Grande a então secretaria de Saúde, Rosana Leite, confirmou que essas novas ambulâncias seria o principal condicionante para revisão do contrato do aluguel de viaturas.

Na ocasião Rosana explicou que o processo de locação de 10 viaturas seria revisto graças às sete novas ambulâncias e consequente renovação da frota, o que foi chegou a ser confirmado pela própria prefeita em 25 de abril, o que poderia gerar uma economia de quase dois milhões de reais.
Empacada no emplacamento

Diferente do imaginado, as novas ambulâncias não resolveram o problema de imediato, já que as viaturas ficaram meses empacadas em uma verdadeira novela no processo de emplacamento.

Em 18 de junho houve a primeira tentativa de contratação direta para o emplacamento dos veículos hospitalares, que fracassou devido a falta de um interessado.

Esse problema só se resolveu com a contratação direta em 30 de junho da empresa Placas do Xefe, que fica na Avenida Salgado Filho, em Campo Grande, com a prefeitura "correndo contra o tempo" antes que chegasse o fim do prazo de locação das demais ambulâncias.

Ainda no início de junho a própria chefe do Executivo de Campo Grande, Adriane Lopes, chegou a afirmar que é mais barato ao município locar os veículos do que manter uma frota própria.

“Manter uma ambulância própria custa, em média, R$ 35 mil por mês. Com a locação, pagamos R$ 15.800 por unidade, já com seguro, com troca e substituição imediata, se necessário. É bem mais barato alugar do que manter uma frota própria, especialmente em uma situação emergencial como a que enfrentamos”, disse.

Adriane Lopes inclusive prometeu que, com o fim do contrato, em 8 de julho já estariam totalmente "documentadas, asseguradas e prontas para atender a população", já que o Samu trata-se de um serviço que a chefe do Executivo diz que não pode ter a qualidade reduzida.

"Nós conseguimos recuperar o padrão do atendimento e não vamos permitir que ele volte a ser como era antes, com falhas no socorro”, complementou Adriane, afirmando que o município contava com 22 ambulâncias em circulação.