Ministério da Saúde estima que até 2 milhões de pessoas apresentam transtornos bipolares, desde formas leves, até problemas mais graves.

O Sistema Único de Saúde (SUS) tem buscado cada vez mais ampliar o atendimento para quem sofre de Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).

Os pacientes, que já contam com atendimento gratuito de psiquiatras e psicólogos, também vão ter ao seu dispor uma linha completa de tratamento para a doença.

Neste mês, o SUS incorporou os medicamentos Clozapina, Lamotrigina, Olanzapina, Quetiapina e Risperidona ao tratamento.

O Ministério da Saúde estima que até 2 milhões de pessoas apresentam transtornos bipolares, desde formas leves, até problemas mais graves.

Por acometer adultos jovens e por se tratar de doença crônica de longa evolução, que prejudica os aspectos familiar, social e profissional dos doentes, o tratamento é muito importante para garantir a qualidade de vida das pessoas, das famílias e da sociedade.

Para o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) do SUS e os novos medicamentos disponíveis gratuitamente se complementam.

“As equipes de psiquiatras e psicólogos podem orientar a família sobre os cuidados e podem receitar o medicamento.

Medicamento que, sozinho, não cura, mas evita que as pessoas tenham essas crises que interferem na vida”, afirma.

“A partir do momento que o paciente é diagnosticado, eles precisam do remédio. A farmacologia atua para que nem a depressão nem a mania cheguem aos seus extremos. Em conjunto com isso, a terapia também é importante para o tratamento da pessoa”, afirma.

Descoberta, tratamento e mudança de hábitos

A engenheira civil Viviane Vaz descobriu, em 2001, que tinha Transtorno Afetivo Bipolar durante uma crise de mania, momento em que estava muito eufórica. Embora tivesse uma vida agitada, Viviane percebeu que as variações de humor estavam interferindo em sua vida social.

“Levava uma vida muito estressada, estudava engenharia civil o dia todo e ainda trabalhava à noite dando aula. Não dormia direito. Para manifestar a bipolaridade tem que ter um ambiente que favoreça o aparecimento da doença “ disse.

Desde quando foi diagnosticada, ainda naquele ano, a engenheira faz tratamento para controlar o transtorno.

Durante o tempo, ela buscou conciliar os medicamentos oferecidos com terapia, hábitos saudáveis e o apoio da família.

Para ela, a decisão do SUS em disponibilizar as medicações vem ao encontro da necessidade das pessoas afetadas pelo transtorno.

“A iniciativa do governo de distribuir as 5 medicações psiquiátricas pelo SUS é muito importante pois tem medicamentos que são muito caros. A quetiapina, por exemplo, é muito cara.

Com isso, mais pessoas vão ter acesso às medicações e isso vai facilitar as pessoas a aderirem ao tratamento", destacou.

Orientação quanto ao uso

O Ministério da Saúde também elaborou o primeiro Protocolo Clinico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). O material tem como objetivo orientar os médicos sobre a utilização dos novos medicamentos e em quais casos eles são mais afetivos.

“Esse protocolo vai orientar os médicos no SUS a prescreverem os medicamentos combinados de acordo com o quadro clínico do paciente, com o objetivo de conseguir o melhor resultado possível no tratamento do transtorno bipolar.

Além das pessoas terem acesso aos medicamentos de maneira facilitada, os pacientes passam a contar com um protocolo padrão feito com base em evidências científicas disponíveis e consultando especialistas de forma a ter uma padronização do tratamento desse transtorno”, explica o secretário Jarbas Barbosa.

O transtorno

Estima-se que os pacientes diagnosticados com transtorno bipolar podem desenvolver mais de 10 episódios de mania (euforia extrema) e de depressão durante toda a vida.

A duração das crises e dos intervalos entre elas, em geral, se estabiliza após a quarta ou quinta crise. Frequentemente, o intervalo entre os primeiro e segundo episódios pode durar cinco anos ou mais, embora 50% dos pacientes possam apresentar outra crise maníaca dois anos após sua crise inicial.

Para o psiquiatra Raphael Boechat Barros, a pessoa deve buscar atendimento quando começa a ter muito prejuízo em sua vida social com atitudes ligadas à depressão, como o isolamento, apatia, perda do prazer e também em fases de mania, uma espécie de euforia exacerbada.

Nesse caso, existem fases de gastos exagerados, condutas inadequadas e envolvimento em atividades de risco.

O especialista ainda comenta sobre um dos principais empecilhos da doença: o preconceito. “O preconceito tem diminuído com algumas campanhas que são feitas, mas muitas pessoas ainda tem receio de buscar ajuda psiquiátrica num geral”, disse.

A opinião do especialista é endossada por Viviane Vaz. Para ela, combater o estigma e ampliar a conscientização das pessoas são elementos chave no combate ao transtorno.

"Quando fazemos o tratamento, com o tempo, as nossas alterações de humor tendem a ficar normalizadas e aí passamos a ter uma vida normal, como qualquer outra pessoa", diz a engenheira, que, após a descoberta, criou um blog para compartilhar experiências e oferecer suporte.
Atendimento e disponibilidade do medicamento

O atendimento no SUS começa pela Unidade Básica de Saúde. Os interessados devem procurar a unidade mais próxima da sua casa. Após uma conversa com o médico, a pessoa será encaminhada para os atendimentos necessários.

Após a incorporação, o medicamento ou tecnologia pode levar até 180 dias para estar disponível ao paciente.

Medicamentos incorporados

Clozapina

Medicamento indicado para tratamento de esquizofrenia resistente ao tratamento; risco de comportamento suicida recorrente em pacientes com esquizofrenia ou distúrbio esquizoafetivo; e psicose durante a doença de Parkinson.

Lamotrigina

Indicado para prevenir episódios de alteração do humor, especialmente episódios depressivos.

Olanzapina

Indicado para o tratamento de episódios de mania aguda ou mistos do TAB (com ou sem sintomas psicóticos e com ou sem ciclagem rápida) e para prolongar o tempo entre os episódios e reduzir as taxas de recorrência dos episódios de mania, mistos ou depressivos no TAB

Quetiapina

Indicado como adjuvante no tratamento dos episódios de mania, depressão, manutenção do transtorno afetivo bipolar I (episódio maníaco, misto ou depressivo) em combinação com os estabilizadores de humor lítio ou valproato, e como monoterapia no tratamento de manutenção do transtorno afetivo bipolar (episódios de mania, mistos e depressivos).

Risperidona

Indicado para o tratamento de curto prazo para a mania aguda ou episódios mistos associados com transtorno bipolar I.