Desde que a doença respiratória surgiu no centro da China, no final de dezembro, as autoridades de saúde correram para localizar onde e como o vírus foi transmitido pela primeira vez do seu hospedeiro animal aos seres humanos.

ONU busca ligação animal a infecções humanas pela COVID-19
Centro de isolamento em Bangladesh foi contruído para oferecer cuidados de saúde para refugiados com COVID-19. / Foto: ONU

O principal trabalho de rastreamento da origem de transmissão animal da infecção pela COVID-19 em humanos está em andamento e deve ser realizado para evitar futuras emergências de saúde, disse um importante cientista da Organização Mundial da Saúde na sexta-feira (8), depois que a OMS confirmou mais de 3,5 milhões de casos de infecção e 250 mil mortes em todo o mundo.

Desde que a doença respiratória surgiu no centro da China, no final de dezembro, as autoridades de saúde correram para localizar onde e como o vírus foi transmitido pela primeira vez do seu hospedeiro animal aos seres humanos.

Segundo o especialista em segurança alimentar e zoonoses da Organização Mundial da Saúde (OMS), Peter Embarek, acredita-se que um mercado atacadista da cidade de Wuhan, agora fechado, "tenha desempenhado um papel" no surto, mas não está confirmado se a origem do vírus ocorreu lá.

 

 
"Todos esses estudos preliminares, entrevistas e coleta de dados ajudarão a identificar, em tempo e em termos geográficos, a origem do novo coronavírus.

Nesse caso, poderia ser no mercado de Wuhan, mas também poderia estar fora ou mais longe, e, portanto, não faz sentido começar a testar animais em todo o lugar, antes de fazer esse trabalho de base", disse.

Em uma videoconferência com jornalistas, Embarek destacou o fato de que muitas pessoas apresentaram poucos ou nenhum sintoma de infecção pela COVID-19, provavelmente contribuindo para a rápida disseminação do surto.

"Aprendemos muito sobre a doença e sabemos que a grande maioria dos casos apresenta sintomas leves ou inexistentes; portanto, não seria surpreendente que, naquele momento, houvesse muitos casos leves que não foram detectados, porque nós nem sabíamos que eram casos leves.

E isso poderia explicar como algumas das pessoas que não tinham vínculo com o mercado poderiam ter sido infectadas", explicou.

Em surtos anteriores de coronavírus, como o episódio da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) em 2012, encontrar o elo animal-humano estava longe de ser simples, mesmo que "todo mundo estivesse procurando a origem", explicou Embarek.

No final, foram necessários meses de pesquisa epidemiológica e um pouco de "sorte" antes que a transmissão relacionada a camelos fosse identificada.

No decorrer, autoridades de saúde do Qatar relataram dois casos suspeitos vinculados a uma fazenda, confirmando, posteriormente, serem relacionados a dromedários.

"Como eu disse para o vírus MERS, que demorou cerca de um ano para encontrarmos a origem do vírus, nunca é tarde, mas é importante tentarmos encontrar a origem para entender o que aconteceu no início do evento para evitar uma repetição e novas pandemias nos próximos anos com outros vírus diferentes", explicou.

Para os cientistas, colocar o vírus original "antes de se adaptar aos seres humanos" sob um microscópio poderia ajudar a desvendar segredos genéticos que também poderiam ajudar a proteger as gerações futuras.

"Assim, poderíamos entender melhor como ele se adaptou aos seres humanos, como evoluiu e quais são as mudanças na composição do vírus que provavelmente fizeram essa adaptação", disse Embarek.

"Às vezes podemos ver mutações, mas realmente não entendemos qual mutação é crítica e qual é menos crítica, porque eles estão sofrendo mutações o tempo todo e, em 99% dos casos, essa mutação não significa nada", explicou.

Para o especialista, é complexo exigir controles de saúde mais fortes nos mercados úmidos, já que é uma característica comum da vida cotidiana em toda a Ásia.

Para ele, "é uma questão de separar o público dos animais vivos e as pessoas que vendem e abatem esses animais. Portanto, é mais sobre gerenciamento do que regulamentos e inspeções e limpeza e desinfecção", afirmou.

Gatos e furões suscetíveis, cães menos
No que diz respeito à transmissibilidade da infecção por animais que regularmente entram em contato com seres humanos, o funcionário da OMS observou que os gatos eram suscetíveis ao vírus e também podem transmitir a doença a outros gatos.

Os furões também foram infectados juntamente com os cães "até certo ponto", enquanto porcos e aves parecem ter maior resistência à doença.

Sem transmissão de mosquitos ou parasitas
Dr. Embarek também afirmou que o novo coronavírus não poderia ser transmitido por mosquitos e parasitas.

"Houve discussões sobre mosquitos e se outros animais poderiam transmitir o vírus, e esse não é o caso. Esses vírus têm afinidades muito específicas com determinadas espécies animais e com habilidade limitadata de se ligar e infectar células específicas de diferentes espécies.

Eles não podem invadir e infectar espécies animais específicas, de modo que não é possível que eles invadam tudo o que tocam ou se movem", explicou.

Trabalhando com a China
Questionado sobre o nível de colaboração da OMS com as autoridades de saúde chinesas para combater a COVID-19, ele respondeu que "a China tem provavelmente todo o conhecimento necessário para realizar as investigações, uma vez que possuem muitos pesquisadores muito qualificados para fazer isso".

Ao mesmo tempo, ele observou que "poderia ser útil ter discussões e colaborações com grupos e pesquisadores de todo o mundo que tiveram – ou passaram por – eventos similares, estudos semelhantes para compartilhar experiências, já que isso sempre enriqueceu e melhorou a velocidade, a qualidade e a probabilidade de sucesso desses estudos muito complexos", concluiu.