Prefeitura de Bonito começa a cobrar taxa ambiental em meio a crise histórica de atropelamentos de fauna.
Reconhecida internacionalmente como a capital do ecoturismo, Bonito inicia no próximo dia 20 de dezembro a cobrança da Taxa de Conservação Ambiental (TCA), no valor de R$ 15 por dia de permanência para turistas. A medida, regulamentada pelo Decreto nº 412, assinado pelo prefeito Josmail Rodrigues, tem como finalidade declarada a proteção ambiental e a sustentabilidade do destino turístico.
A cobrança, porém, começa em meio a uma grave e persistente crise de atropelamentos de fauna silvestre, registrada há mais de dez anos nas ruas da cidade e nas rodovias de acesso, revelando uma contradição entre o discurso de conservação e a ausência de ações estruturais efetivas.
Mortes de animais expõem omissão prolongada
Levantamento técnico realizado em apenas oito meses nas rodovias MS-178, MS-382 e MS-345 registrou 463 animais silvestres mortos por atropelamento, além de 210 travessias observadas, indicando risco constante tanto para a fauna quanto para motoristas.
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Embora existam passagens de fauna em alguns trechos, especialistas apontam que elas não funcionam adequadamente. Segundo o secretário-executivo do Observatório Rodovias Seguras para Todos, Tiago Toma, o problema é conhecido e recorrente:
“A passagem de fauna sem cercamento é realmente ineficiente. Sem o cercamento, os animais atravessam onde encontram oportunidade, não onde está a passagem”, explica.
Falta de investimentos mesmo com soluções conhecidas
De acordo com o Observatório, já existem estudos técnicos que identificam pontos críticos (hotspots) e indicam onde as passagens e o cercamento deveriam ser implantados, mas as medidas seguem sem execução.
Para Tiago Toma, a permanência dos atropelamentos está diretamente ligada à falta de decisão política:
“Depende de ações efetivas do Estado. As medidas existem, os estudos existem, mas ainda não foram implementadas”, afirma.
Ele ressalta que o problema não afeta apenas a biodiversidade, mas também a segurança viária:
“A morte de um animal na estrada é um dano ambiental e um risco real para quem usa a rodovia.”
Taxa ambiental sem plano claro de aplicação
Apesar da criação da TCA com o argumento de fortalecer a conservação ambiental, não há detalhamento público claro sobre a destinação dos recursos, especialmente para enfrentar o problema dos atropelamentos, um dos impactos ambientais mais visíveis da região.
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Entidades ambientais defendem que parte da arrecadação seja destinada a medidas comprovadamente eficazes, como passagens de fauna associadas ao cercamento, capazes de reduzir em mais de 80% o risco de colisões, conforme estudos técnicos.
Cobrança por conservação sem proteção da fauna
A situação levanta um questionamento central: como cobrar uma taxa ambiental enquanto a fauna silvestre segue morrendo nas vias urbanas e rodovias de acesso ao principal destino de ecoturismo do estado?
Para o Observatório Rodovias Seguras para Todos, a solução passa por planejamento, transparência e prioridade política. Enquanto isso não ocorre, a Taxa de Conservação Ambiental corre o risco de se tornar uma medida arrecadatória dissociada da proteção efetiva da biodiversidade que sustenta o nome e a economia de Bonito.











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