Barba chegou no Pantanal há mais de 40 anos e se tornou "patrimônio", morando em uma bifurcação da BR-262, que dá acesso a Estrada Parque, sendo um ponto de apoio aos turistas e até da PMA

A sinceridade vai falar mais alto neste texto. Estamos falando do Pantanal sul-mato-grossense, onde a onça-pintada reina, a natureza e a vida pulsam a todo momento e o paraíso alagado nos entrega imagens de tirar o fôlego: gente de todo canto do mundo quer ter este privilégio e conhecer o bioma. Mas, imagine o turista pousando em Campo Grande, passando por Bonito e seguindo viagem pela BR-262, até a Estrada Parque. Nenhuma parada? Nenhum posto de informação oficial? Nenhum banheiro ou um local para comprar ao menos um café? Por incrível que pareça, há décadas, quem faz este papel é uma pessoa, o “Barba”.
O apelido ele ganhou há muitos e muitos anos, já que sempre manteve a barba no rosto. Com o tempo, os fios brancos apareceram e Osmar Paulo de Lima aposentou. E agora recebeu nova intimação, para sua defesa. Caso contrário, pode ser retirado do local onde criou um comércio e ali fez seu ponto de atendimento aos turistas. Vive o dilema, vive o Pantanal “na pele” e, inclusive, é chamado por muitos de patrimônio da região.
Barba teme ser despejado do ‘ponto de apoio ao turista’, criado por ele há mais de 20 anos
Barba tem uma história enigmática: vai ser retirado do trevo, na BR-262, no Buraco das Piranhas, em frente à PMA (Polícia Militar Ambiental) ou não? O que começou com um falatório se tornou processo e o idoso, de 71 anos, teme a cada segundo.
“Eu saí de São Paulo em 1980, fui para Campo Grande e, um ano depois, já estava em Miranda. Me casei, tive filhos e morei no Rio Paraguai, com a minha antiga esposa. A gente vivia em uma casa flutuante, morei no Rio Paraguai até 1995 e depois separei. Fui trabalhar nas embarcações do Passo do Lontra até 2002, quando em setembro do mesmo ano eu fui para o Buraco das Piranhas”, relembrou.
(Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)
Neste endereço, uma empresa de pavimentação estava atuando na região e Barba foi contratado como vigia, permanecendo na bifurcação até o fim das obras, no ano de 2004. Em seguida, a contratada foi embora e ele permaneceu, tendo como prova, uma conta de energia em seu nome desde essa época.
Anos depois, em 2010, de acordo com o teor do processo contra ele, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) o intimou e Barba foi pessoalmente, até a capital sul-mato-grossense, sendo permitida a sua permanência no local. No entanto, a ação judicial teve andamento, principalmente, com a expectativa de obras na região e a construção de uma espécie de CAT (Centro de Atendimento ao Turista).
“Aqui é um lugar tranquilo, muito bom de se morar, sossegado. Acho que não tem coisa melhor do que morar no Pantanal, só se for igual, mas, melhor, eu acho que não tem não. Eu planto aqui, atendo as pessoas, vou levando a vida. E as onças continuam rodeando por aqui. Agora, nessa época do frio, elas saem do meio do mato e passam aqui pelo asfalto, aqui é mais quente, elas se esquentam um pouco”, brincou Barba.
‘Welcome to Pantanal Park Road – Information Here’: Barba atende número alto de turistas
Barba possui conta de energia no local desde 2004 (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)
Em seu estabelecimento comercial, construído de madeira e com o seu suor, existe uma placa na entrada “Welcome to Pantanal Park Road – Information Here” (“Bem-vindo à Estrada Parque do Pantanal – Informações Aqui”). Lá dentro, vende o que é necessário para região: repelente, gelo, bebidas, café, dá acesso ao banheiro e ainda faz almoço e janta para os turistas. No dia da visita do Midiamax, Barba preparava um espetinho na brasa da lenha.
(Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)
“O Barba é um parceiro de muitas pessoas, da PMA em especial, há muitos anos, ele ajuda hoje o IHP [Instituto Homem Pantaneiro], no monitoramento das onças pintadas na BR-262 e, inclusive, nos ajuda na limpeza de pontes, para que tenhamos menos mortes. Lamentavelmente, ele sempre soube que sua situação ali tinha uma irregularidade, mas, pode ter certeza, que haverá o esforço de alguns parceiros para que a gente, quando da obrigatoriedade da execução da saída, refazermos a estrutura”, comentou Ângelo Rabelo, presidente do IHP.
De acordo com o presidente, Barba deve ser realocado. “Cabe salientar que ele não é só um morador. Não temos ali um centro de atendimento ao turista, mesmo o número de turistas passando ali ser impressionante e o Barba cumpre este papel, recebendo turistas e servindo o cafezinho desde 2002. No entanto, é uma área pública, não cabe usucapião e a ideia é fazer o realocamento dele em um atividade que o mantém vivo, no caso o comércio”, argumentou.
O presidente diz ainda que, ao longo de tantos anos, o número de turistas atendidos pelo Barba é imensurável.
“Não só de turismo, mas também de fazendas que ficam horas ali esperando um ônibus, escolas, então, é uma pessoa muito querida por todos, merece o nosso respeito e admiração”, finalizou.
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