Maior rede social do mundo já criou serviços similares e aposta agora em 'tomar emprestado' funções do app do fantasminha, dizem analistas.

Facebook promove onda de
Logos do Facebook e do Snapchat. / Foto: Divulgação/Facebook; Divulgação/Snapchat

Antes limitado a adolescentes que buscavam privacidade, o envio a amigos fotos e vídeos que ficavam no ar pouco o suficiente para não envergonhar, mas o bastante para gerar algumas risadas, deixou de ser restrito a um aplicativo só e passou a integrar as redes sociais e apps de mensagem mais usadas do planeta. Tudo isso graças ao Facebook, que promoveu uma onda de clonagem do Snapchat, app percursor nas imagens efêmeras, apontaram especialistas em software ouvidos pelo G1.

Por ora, o lance final desse embate foi a chegada do Stories ao Facebook, que foi liberado a todos os usuários da rede social nesta terça-feira (28).

“Não há dúvida que o Facebook está mirando o Snapchat, clonando sua principal função para os seus próprios apps, como o Instagram Stories e mais recentemente no WhatsApp em uma função chamada Status”, afirmou Raul Castanon-Martinez, analista da firma de pesquisa 451 Research.
 
Antes uma pausa sobre o funcionamento do Facebook Stories (que é igual ao Instagram Stories, que parece o WhatsApp Status e tem o jeitão do Messenger Day):

  • Você abre a câmera interna do app;
  • Grava um vídeo ou uma foto e pode incluir animações ou fazer alterações estéticas;
  • A partir daí pode compartilhar com todo mundo (que não esteja dentro de uma lista de restrição) ou, no Instagram e Facebook, enviar a imagem a alguns contatos.

Entendeu? Então você já sabe também usar o Snapchat.


 
Apps similares
 
A competição começou quanto o Snapchat era um app de troca de mensagens que sumiam, antes mesmo de adotar as imagens que somem, “quanto o serviço cresceu rapidamente no espaço das comunicações sociais", afirma Brian Blau, vice-presidente de Pesquisas do Gartner, ao G1. "O Facebook já tinha visto outros lançarem novos tipos de apps de comunicação que impactavam os ‘millennials’. Só que adolescentes e jovens adultos não estavam interessados no Facebook mas valorizavam as comunicações privadas."

“Esse recurso único do Snap, o dos conteúdos de vida curta, não era intuitivo para usuários maduros mas foi abraçado pelos jovens. E como o negócio do Facebook é, no geral, focado em comunicações sociais, serviços como o Snap podem ser uma ameaça, uma vez que ganhem escala.”
 
Se o Snapchat nasceu em setembro de 2011, o revide do Facebook veio um ano e três meses depois: em dezembro de 2012, surgia o “Poke”, um app que permitia o envio de vídeos, fotos e mensagens que expiram em poucos minutos. Lançar aplicativos próprios bastante similares ao Snapchat foi a estratégia adotada pelo Facebook antes de importar para seus serviços alguns dos recursos do Snapchat. Nessa linha, ainda vieram “Bolt”, “Slingshot” e “Flash”.
 

O sucesso
 
Esse último chegou especialmente para os brasileiros em novembro de 2016, mas cinco meses do do tiro certeiro: o Stories no Instagram. Diferentemente dos serviços anteriores, encerrados pouco depois, a iniciativa vingou e atingiu em cinco meses o mesmo número de adeptos que o Snapchat angariou ao longo de cinco anos.

"Eu não acho que Facebook e Instagram querem se tornar uma cópia do Snapchat, e eles não vão obliterar o Snapchat imitando suas principais funções. Eu acho que a estratégia deles é tomar algumas das funções que os usuários gostam e com que se acostumaram", pontua Blau.

Ainda na época que a nova função era apresentada, Kevin Systrom, um dos cofundadores do Instagram, não desviou da questão. “Eles merecem todo o crédito”, afirmou ao site TechCrunch, mas rebateu: “A questão é o que você faz com o formato”. Para o Facebook, não se trata de cópia. “O fato que podemos compartilhar vividamente é que nós não estamos copiando o Snapchat, que fez um ótimo trabalho com o formato pioneiro dos Stories”, afirma Sachin Monga, gerente de produtos do Facebook, em entrevista ao G1.
 
Ele concorda com Systrom, de que as imagens efêmeras são um formato de disseminação de conteúdo. “Nós aprendemos tanto quanto podemos os padrões mais desejados da indústria”, explica. “A tendência de ver conteúdos visuais compartilhados, por exemplo, está acontecendo em toda a parte. Isso porque todo mundo possui uma câmera em seu bolso e a velocidade da rede nunca foi melhor.”
 

Crédito ao Snapchat
 
Os especialistas em software consultados pelo G1 afirmam que, muitas vezes, o que pode parecer um recurso clonado de outro serviço, é, na verdade, um descompasso no planejamento de lançamento de novidades. “Nós devemos ser cuidados e não dar muito crédito ao Snapchat, já que o app até pode ter sido o primeiro em alguns recursos, mas isso não quer dizer que eles não estivessem nos planos do Facebook antes disso”, comenta Castanon-Martinez, do 451 Research.

“Muitas vezes quando arquitetos de software estão desenhando um recurso, todos eles chegam a conclusões similares e pode haver poucas opções de como apresentar essa função”, afirma Blau, e continua dando o exemplo de um dos formatos mais replicados das mídias sociais e que ganhou corpo no Facebook: a linha do tempo do Facebook no feed de notícias. “Quando estavam decidindo como listar as histórias, havia poucas formas, como colocá-las em ordem cronológica invertida, por algoritmo, baseadas nos usuários e por aí vai. O Facebook não foi o inventor da ordem dos conteúdos baseada no tempo nem ele será o último a implantar recursos como esse.”
 

Tecnologia e inovação
 
O analista da 451 Research lembra que não é a primeira vez que trunfos de concorrentes ressurgem repaginados no Facebook. Isso já ocorreu com o Twitter, no caso das hashtags. Uma apropriação semelhante, diz ele, ocorre entre apps de bate-papo, como WhatsApp, Telegram e Kik. “Esses apps ‘tomam emprestado’ um do outro constantemente, ao ponto de, quando um deles surge com uma nova ferramenta, você pode ter certeza que os outros dois irão lançar a mesma função dali a meses ou até semanas.”
 
Para o vice-presidente de Pesquisas da Gartner, a disputa entre Facebook e Snapchat mostra “os usuários não se importam quem invista” na função de imagens que se destroem e não será surpresa se ela surgir em outras plataformas.

Já Castanon-Martinez acredita que a Snap, que acabou de entrar na Bolsa de Valores de Nova York, não deveria apostar tantas fichas no que já fez no passado. “Se esses recursos podem ser facilmente replicados pelos competidores, então não são realmente uma vantagem competitiva para o Snapchat. Mais do que isso: reflete que o Snapchat não tem muito a oferecer em termos de tecnologia e inovação.”