A sociedade brasileira é considerada a mais ansiosa do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

De emoção comum ao ser humano a causa de problemas sérios de saúde, a ansiedade se tornou ainda mais recorrente durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), período de instabilidade na vida cotidiana e de alterações cada vez maiores na rotina.
“A ansiedade é uma emoção comum a todos nós, um tipo de medo com expectativa. É ela que serve de motor para que possamos resolver nossos problemas. Sem ela, por exemplo, não nos levantaríamos para ir buscar comida na geladeira quando sentíssemos fome ou ficaríamos alertas às instruções do avaliador do Detran [Departamento de Trânsito]. Ela passa a ser doença quando as reações são desproporcionais ao problema ou quando surgem mesmo sem problema algum”, explica o médico psiquiatra Luís Gustavo Ribeiro de Campos.
A sociedade brasileira é considerada a mais ansiosa do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Com a pandemia, o medo que acompanha a população há muito tempo ficou ainda mais evidente, potencializado pelos problemas sanitários, o aumento do desemprego e as diferentes opiniões sobre o tema disponíveis nas redes sociais, por exemplo. “A pandemia exige que estejamos preocupados o tempo todo. Mas acredito que essa nossa ansiedade normal esteja sendo piorada pela discrepância de informações entre parte da mídia, alguns governantes e redes sociais. Dessa forma, pessoas sãs estão tendo suas primeiras crises de ansiedade patológica, e pacientes já estabilizados, recidivas graves”, explica.
Tipos
De acordo com Campos, existem diversos fatores que pioram a ansiedade do indivíduo. “Fatores biológicos, sociais e culturais fazem com que cada pessoa manifeste a ansiedade de uma forma diferente”, indica.
Enquanto para uns é comum sentir ansiedade o tempo todo, outros podem acumular e “estourar” de uma vez. “As que relatam ‘sentirem ansiedade’ costumam ser ansiosas o tempo todo, geralmente com preocupações e alguns sintomas físicos constantes. As que relatam ter ‘crises’, porém, têm uma tendência a ‘parecer que está tudo bem’, acumulam essa ansiedade e ‘explodem’ em crises de pânico, apagões, desmaios, paralisias etc. Em geral [essas crises] duram uma hora, mas às vezes levam dias para melhorar”, pontua Campos.
Quando os sintomas começam a ficar cada vez mais constantes e o sentimento de tranquilidade e bem-estar nunca vem é a hora de pedir ajuda médica. “As pessoas devem buscar ajuda quando a ansiedade começar a atrapalhar suas vidas. É normal ter ansiedade ao fazer uma prova, mas não é caso ela lhe faça esquecer tudo o que estudou. É normal diante da doença de um familiar, mas não se você parar de dormir ou comer em função disso. Assim como é normal diante da pandemia, em que temos de estar atentos ao nosso comportamento, mas deixa de ser caso a pessoa sinta tanto medo a ponto de sequer ir comprar seus mantimentos”, acredita.
Tratamento
A ansiedade pode ser amenizada tanto na adoção de um estilo de vida saudável quanto com o uso de medicamentos. “Existem muitas formas, e a melhor é a combinação de todas elas. Formas mais leves respondem bem à psicoterapia e à adoção de novos estilos de vida, como atividade física, meditação, prática de hobbies e higiene do sono. As formas mais graves costumam exigir tratamento medicamentoso, pois o fator biológico é muito intenso. [Esse último tratamento é] feito com o médico psiquiatra”, explica.
No caso do isolamento social, a atividade física ficou restrita, assim como os programas ao lado de familiares e amigos. “Temos de tentar levar a nossa rotina o mais parecida possível com a que tínhamos antes. Quem está em home office deve se disciplinar a seguir horários, como costumava ser. Os mais extrovertidos, que saíam com frequência, podem recorrer a novos hobbies ou às redes sociais”, adverte Campos.
Para os pais com filhos em casa e sem aulas, o jeito é investir em atividades que gastem muito tempo. “Provavelmente quem mais estão sofrendo são as crianças, e para elas os pais terão de ser criativos. Sugiro que busquem atividades que as mantenham atentas por um longo período de tempo, como livros ou jogos complexos, e que sejam recompensadas sempre que se mantiverem ocupadas. Não gastem dinheiro com algo que elas vão enjoar em instantes”, recomenda o médico.
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