O fogo de artilharia atingiu os arredores da cidade e houve dez ataques ao redor da usina local, explicou pelo aplicativo de mensagens Telegram.

Comandante russo admite que situação é “tensa” para suas forças na Ucrânia
Caminhões do exército russo que participam da invasão da Ucrânia. / Foto: Sergei Malgavko/TASS via Getty Images

O novo comandante das forças russas na guerra do Leste Europeu fez um raro reconhecimento das pressões que vem sofrendo com as ofensivas ucranianas para retomada das áreas ao sul e ao leste, que foram anexadas apenas algumas semanas atrás.

Em outro sinal de preocupação da Rússia, o chefe da estratégica região sul de Kherson, instalado pelo Kremlin, anunciou nesta terça-feira (18) um “deslocamento organizado e gradual” de civis de quatro cidades no rio Dnipro.

“A situação na área da ‘Operação Militar Especial’ pode ser descrita como tensa”, revelou Sergey Surovikin, general da Força Aérea Russa que agora comanda as forças de invasão, ao canal de notícias estatal Rossiya 24.

Sobre Kherson, Surovikin declarou que “a situação nesta área é difícil. O inimigo está atacando deliberadamente a infraestrutura e os edifícios residenciais”.

As forças russas na localidade recuaram de 20 a 30 quilômetros nas últimas semanas e correm o risco de ficarem presas na margem ocidental do rio Dnipro, de 2.200 quilômetros de extensão, que corta a Ucrânia.

Vladimir Rogov, membro do conselho instalado pela Rússia que governa Zaporizhzhia, também no sul, disse que as forças de Kiev intensificaram o bombardeio noturno de Enerhodar, controlada pelos russos. Na cidade vivem muitos dos funcionários da usina nuclear de Zaporizhzhia.

O fogo de artilharia atingiu os arredores da cidade e houve dez ataques ao redor da usina local, explicou pelo aplicativo de mensagens Telegram.

A Reuters não pôde verificar independentemente os relatórios do campo de batalha.

Tanto a Ucrânia quanto a Rússia negaram atacar civis, embora Kiev tenha acusado as forças de Moscou de crimes de guerra.

O presidente Vladimir Putin ordenou o que chama de “operação militar especial” em 24 de fevereiro para “garantir a segurança russa e proteger os falantes de russo na Ucrânia”.

A Ucrânia e seus aliados acusam Moscou de uma guerra não provocada para tomada de seu território.

Ataque contínuo
As posições das tropas russas em Kupiansk e Lyman, no leste da Ucrânia, e na área entre Mykolaiv e Kryvyi Rih, na província de Kherson, foram citadas por Surovikin como sob ataque contínuo.

Ele pareceu admitir que havia o perigo das forças ucranianas avançarem em direção à cidade de Kherson, que fica perto da foz do rio Dnipro, na margem oeste.

Kherson, uma das quatro províncias ucranianas parcialmente ocupadas que a Rússia afirma ter anexado, controla tanto a única rota terrestre para a península da Crimeia, anexada em 2014, quanto a foz do Dnipro.

Depois de organizar o que Moscou chamou de referendos em setembro, que Kiev e governos ocidentais denunciaram como ilegais, Putin proclamou as províncias de Donetsk e Luhansk na fronteira oriental da Ucrânia — conhecidas como Donbass — bem como Kherson e Zaporizhzhia como regiões de pleno direito da Rússia.

Vladimir Saldo, chefe da região de Kherson, instalado na Rússia, expôs que o risco de ataque das forças ucranianas levou à decisão de evacuar alguns civis das quatro cidades.

“O lado ucraniano está reunindo forças para uma ofensiva em larga escala”, comunicou Saldo. Os militares russos estavam se preparando para repelir a ofensiva, continuou. “Onde os militares operam, não há lugar para civis”.

Mísseis e drones
Na semana passada, a Rússia desencadeou a maior onda de ataques com mísseis e drones contra a Ucrânia desde o início da invasão. A motivação aconteceu como vingança por uma explosão que danificou a ponte do território russo para a Crimeia.

Kiev não assumiu a responsabilidade pela explosão, mas a celebrou.

A Ucrânia convidou especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) para inspecionar o que diz serem drones de origem iraniana abatidos usados ​​pela Rússia em violação de uma resolução do Conselho de Segurança, de acordo com uma carta vista pela Reuters.

A dependência da Rússia de drones fabricados no Irã expõe como o país está “falido em termos militares e políticos”, afirmou o presidente Volodymyr Zelensky em seu discurso em vídeo na noite de terça-feira.

A Ucrânia acusa a Rússia de usar “drones kamikaze” Shahed-136, fabricados no Irã. O país nega fornecê-los e o Kremlin também negou usá-los.

No entanto, dois altos funcionários e dois diplomatas iranianos explicaram à Reuters que Teerã prometeu fornecer à Rússia mais drones e mísseis.

A Rússia destruiu quase um terço das usinas de energia da Ucrânia na semana passada, expressou Zelensky. Segundo o presidente, outras dez regiões eram alvo nas últimas 24 horas, pedindo aos ucranianos que reduzissem o consumo de eletricidade de noite.