Philip Gregório da Silva era fornecedor de armas para o Comando Vermelho e comprou o jogo do bicho em Pedro Juan Caballero

Morto no domingo, no Rio de Janeiro (RJ), e investigado pela Polícia Civil do estado fluminense, o traficante Philip Gregório da Silva, também conhecido como Professor, é apontado como um dos donos do jogo do bicho em Pedro Juan Caballero, município paraguaio que faz fronteira com Ponta Porã – apesar de ele ter morado a mais de 1.500 km de distância de lá.
Segundo fontes do Correio do Estado que não quiseram ser identificadas, o traficante – que já tinha atuação na fronteira de Mato Grosso do Sul, de onde internalizava armas e drogas – havia comprado há algum tempo a operação do jogo do bicho na cidade do Paraguai.
Ele teria adquirido a operação dessa contravenção após o antigo grupo que controlava o jogo ilegal ser alvo de ações policiais no Brasil, em meados de 2023.
PH, como era conhecido na fronteira, teria usado o lucro dessa atividade para também comprar armamento pesado para ser usado pela facção Comando Vermelho (CV), da qual era um dos membros. Ele seria um dos fornecedores de armas da organização criminosa, além de ter uma “marca” de cocaína.
De acordo com a investigação da Polícia Civil do RJ, o esquema de Philip era extenso e envolvia diversas empresas de fachada e laranjas, que movimentavam o dinheiro adquirido com o tráfico de drogas e a venda de armas, além do jogo do bicho.
“As investigações identificaram Philip Gregório da Silva, o Professor, como uma das figuras centrais da engrenagem financeira do CV, responsável por eventos como o ‘Baile da Escolinha’, que funcionava como ferramenta de dominação cultural e captação de recursos para o tráfico de drogas e armas”, diz trecho de nota da Polícia Civil fluminense sobre a operação realizada ontem e que mirou o núcleo financeiro do Comando Vermelho.
Ainda conforme as investigações, esse núcleo financeiro teria sido responsável pela lavagem de mais de R$ 250 milhões – valores oriundos do tráfico de drogas e da aquisição de armamentos de uso restrito.
A nota da Polícia Civil do RJ ainda mostra que, segundo o delegado titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes do Rio de Janeiro (DRE), Jeferson Ferreira, um restaurante situado em frente ao local onde é realizado o “Baile da Escolinha” funcionava como um dos pontos de lavagem de dinheiro, sob a fachada de atividade empresarial lícita.
“Eles usavam os bailes funks para auxiliar na lavagem de dinheiro e gerar montantes de dinheiro limpo que era revertido na compra de armas e drogas que vinham da fronteira do País”, disse o delegado, se referindo às atividades que o investigado tinha nas cidades gêmeas de Ponta Porã, em MS, e Pedro Juan Caballero, no Paraguai.
“O esquema criminoso utilizava pessoas físicas e jurídicas para dissimular a origem ilícita dos valores, promovendo o reinvestimento em fuzis, em cocaína e na consolidação do poder territorial da facção em diversas comunidades”, complementa a nota da Polícia Civil do RJ.
MORTE
Philip morreu no domingo, com um tiro na cabeça. Segundo a polícia, a principal suspeita é de que ele cometeu suicídio, uma vez que teria discutido com sua amante.
O traficante estava foragido da Justiça desde 2018, quando fugiu do sistema prisional.
Ele morava escondido no Complexo do Alemão, no Rio, onde era tratado como o “dono” da comunidade Morro da Fazendinha, localizada dentro do complexo.
Conforme a Polícia Civil do RJ, apesar da morte de Professor, as investigações não serão afetadas.
“Permanece clara a sua importância dentro do esquema, sobretudo na consolidação da cultura do tráfico e na estruturação de empresas de fachada para dar aparência de legalidade ao dinheiro sujo”, diz a nota.
OPERAÇÃO
Ontem, parte dos integrantes desse esquema de lavagem de dinheiro criado por Philip foi alvo de mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Na ação, foram apreendidos quatro veículos de luxo, dispositivos eletrônicos e documentos. Entre os alvos estava a influenciadora digital e esposa de MC Poze do Rodo, Viviane Noronha.
“Ela [Viviane] e sua empresa figuram como beneficiárias diretas de recursos oriundos da facção Comando Vermelho, recebidos por meio de pessoas interpostas [laranjas] com o objetivo de ocultar a origem ilícita do dinheiro. As análises financeiras apontam que valores provenientes do tráfico de drogas e de operadores da lavagem de capitais da facção foram canalizados para contas bancárias ligadas à mulher”, afirma a Polícia Civil do RJ.
O músico Marlon Brendon Coelho Couto, conhecido como MC Poze do Rodo, foi preso na semana passada, mas um habeas corpus concedido nesta segunda-feira deu liberdade ao rapper, o qual foi solto ontem, em meio a uma multidão de fãs.
O artista foi preso por apologia ao crime e envolvimento com o tráfico de drogas e também é investigado por lavar dinheiro para o Comando Vermelho.
AL-QAEDA
A investigação também apontou que Mohamed Ibrahim, que já esteve na lista dos procurados pelo FBI por suposta atuação como operador de valores da Al-Qaeda, também teria lavado dinheiro do tráfico para o Comando Vermelho.
“Entre os remetentes identificados nas análises financeiras destacam-se um segurança pessoal do traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, chefe da facção no Complexo do Alemão, e outro indivíduo com histórico relevante no sistema financeiro informal ligado à facção e procurado pelo FBI por suspeita de atuar como operador de valores para a Al-Qaeda, conforme dados de cooperação internacional”, continua a nota da Polícia Civil do RJ.
Apesar do que diz o comunicado, Mohamed não é mais procurado pelo FBI. O nome dele foi retirado da lista de foragidos em 2019, após ser interrogado em São Paulo (SP) por agentes americanos.
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