Mulher trans e negra, Emy Santos celebra oportunidade de levar seu trabalho para Europa

Artista sul-mato-grossense é selecionada para representar o Brasil em festival cultural na França
Mulher trans e negra, Emy Santos celebra oportunidade de levar seu trabalho para Europa / Foto: Acervo da Arista

Diretamente de Campo Grande, Capital do Mato Grosso do Sul, a artista Emy Santos foi relacionada para representar o Brasil, na França, no edital Bolsa Funarte Brasil Conexões Internacionais 2025 – Temporada Cultural Brasil-França. 

A Bolsa é destinada à participação de jovens criadores no Festival OFF Avignon e na Bienal de dança de Lyon. Ao todo, foram inscritos 143 projetos, e Emy foi selecionada na categoria ‘teatro’. As viagens estão previstas para julho e setembro. 

Com custo total de R$ 320 mil, 20 propostas foram contempladas. Destas, 17 (15,45%) correspondem a pessoas físicas, enquanto 3 correspondem a pessoa jurídica. O apoio financeiro é individual e o valor da bolsa para a categoria de teatro é de R$ 15 mil. 

O incentivo prevê cobrir despesas com passagens aéreas, seguro viagem, diárias de hospedagem, alimentação, ingressos para espetáculos, cinco ingressos para workshops e apresentações/desenvolvimento de performances curtas.

Emy Santos vai representar o Centro-Oeste, na categoria de teatro. A artista é a única representante de Mato Grosso do Sul,e celebra a oportunidade de vivenciar novas culturas e levar seu trabalho para a Europa. Além disso, Emy tem planos para desenvolver um projeto para compartilhar sua experiência no exterior.

‘Logo após voltar da França, vou desenvolver um projeto, no qual vou compartilhar os saberes, as trocas, os conhecimentos que foram adquiridos durante essa viagem. Então, é justamente ir lá, contribuir, com o festival, com o meu trabalho, e trazer também as experiências e dividir aqui no nosso território”.

Temporada Cultural 
A Temporada Cultural Brasil – França é organizada pelo Instituto Guimarães Rosa e pelo Institut Français (Paris), fruto de colaboração com a Embaixada do Brasil na França e a Embaixada da França no Brasil. A iniciativa é coordenada pelos Ministérios das Relações Exteriores e da Cultura da França e do Brasil.

O edital convoca jovens criadores brasileiros que atuem nos segmentos de teatro e dança para participação no Festival OFF Avignon e na Bienal da Dança de Lyon, respectivamente, compondo as comitivas brasileiras e contribuindo para fortalecer os laços do Brasil com o país europeu.

Sobre a artista
Emy Santos, artisticamente conhecida como Afro queer do Centro-Oeste, é formada em artes cênicas licenciatura pela UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), e fundadora do coletiva ‘De Trans Pra Frente’, o primeiro coletivo formada somente por pessoas trans e travestis no Estado, onde desenvolve trabalhos e ações educacionais, artísticas e culturais. 

Emy também foi ganhadora do Prêmio nacional pretas potências na categoria de artes cênicas (2023) e premiada pelo edital federal Sérgio Mamberti como agente cultural LGBTQIAPN+ no Centro-Oeste, sendo a única travesti preta a ter esse reconhecimento. 

A artista também é pesquisadora na área da arte, envolvendo questões interseccionais como: gênero, sexualidade e etnia racial a partir do corpo em movimento, além de fazer parte do grupo de pesquisa ‘Corpo Sendo’ (iniciativa CNPQ). 

Atualmente, Emy faz parte do coletivo de artista ‘’grupo casa” como professora de teatro e provocadora corporal e professora da Rede Pública Municipal de Educação de Campo Grande. Ela também foi diretora e intérprete da cena do espetáculo ‘Culto das travestis – 2024′, uma proposta contemporânea que mistura arte e vida, evidenciando a potência da arte trans brasileira. 

Para Emy, é importante que uma pessoa travesti e negra como ela saia das estatísticas e ocupe lugares. “Por muito tempo não ocupamos o lugar da educação, da arte, da cultura, sendo reconhecidas, tendo nosso trabalho valorizado. [Ocupar esses espaços] é romper com o sistema que coloca constantemente pessoas trans na marginalidade, na prostituição. Então, romper essas barreiras é criar possibilidades tanto pra mim, quanto outras pessoas que se identificam com o meu trabalho”, expressa a artista.