Afinal, o que está havendo? Os investidores e analistas estão otimistas ou pessimistas com o Brasil?
Bom, é sempre melhor acreditar no que as pessoas estão fazendo do que no que estão dizendo. E o que muitos estão fazendo, hoje, é comprar ações de empresas brasileiras.
Ações estavam baratas em comparação com emergentes
As ações das empresas brasileiras estavam baratas até algumas semanas atrás, conforme eu havia dito em uma coluna publicada em 24 de setembro.
Na ocasião, expliquei que o indicador P/L, que mede a relação entre preço e lucro das empresas listadas, estava atraente em comparação com outros países. Na época, o indicador estava em 8,5, ou seja, o preço das ações estava, em média, 8,5 maior do que o lucro por ação.
Isso significa que, se as empresas mantivessem seu nível de lucro a longo prazo, sem crescer nada, em 8,5 anos ela seria capaz de devolver 100% do dinheiro do investidor.
Tratava-se de uma situação vantajosa porque outros emergentes estavam com uma relação não tão boa. Na China, o P/L estava em 11,1; no México, em 12,8; e na Índia, em 20,6.
Agora, com a recente alta da Bolsa brasileira, o P/L das empresas brasileiras está em 10,55, bem mais próximo do verificado neste momento na China (11) e no México (12.9).
Nesse quesito, portanto, as empresas brasileiras deixaram de estar visivelmente mais baratas e praticamente alcançaram o patamar registrado em outros países emergentes.
Bolsa dos EUA já subiu muito
Também contribui para a alta da Bolsa brasileira o fato de que, nos Estados Unidos, os preços das ações subiram muito nos últimos meses.
Desde o dia 8 de abril, que foi o pior momento do ano para o mercado americano, até essa segunda (10 de novembro), a alta acumulada foi de 37,1%.
Cada vez mais analistas falam em uma possível bolha na Bolsa dos EUA, devido ao forte aumento de preço das ações de tecnologia. Desde 8 de abril, os papéis da Nvidia (hoje a maior empresa americana em valor de mercado) subiram 106,7%.
Outras grandes empresas de tecnologia tiveram forte alta nos EUA no período, como Tesla (100,7%), Google (98,2%), Amazon (48,5%) e Microsoft (42,7%).
Dessa forma, investidores que temem uma bolha nos EUA buscam vantagens em países emergentes, e o Brasil oferecia empresas com preços atraentes até o momento.
Eleições movimentam apostas
Outro fator que pode ajudar a explicar a alta recente da Bolsa brasileira é a proximidade do ano eleitoral.
O mercado tende a se beneficiar caso haja um ajuste fiscal, ou seja, corte de gastos do governo. Acredita-se, portanto, que, em caso de troca de presidente, a Bolsa possa se beneficiar e subir significativamente.
Dessa forma, pode haver investidores já se antecipando e comprando ações, não por terem certeza de que haverá troca de governo, mas por não quererem perder a chance de alta caso isso ocorra.
Tal hipótese, no entanto, é muito difícil de ser verificada. Só mesmo se fosse possível identificar e questionar as pessoas que têm feito compras volumosas de ações nos últimos dias.
O país não vai quebrar?
Com esses investimentos recentes, uma coisa é certa: existe gente com muito dinheiro que não está apostando na quebra do Brasil.
Fala-se muito da questão fiscal, quer dizer, dos altos gastos públicos e consequente aumento da dívida.
Mas o fato é que a maior parte dos países está com problema de endividamento hoje. Os países ricos estão atolados em dívida. Muitos emergentes, também. Uma exceção seria o México, que está em situação bem melhor que a do Brasil, mas também em trajetória de alta do endividamento.
Chance de queda dos juros
Embora o Banco Central tenha deixado claro que não pretende reduzir a taxa básica de juros a curto prazo, existe expectativa de que isso ocorra no ano que vem.
Uma queda dos juros aliviaria a situação das empresas nacionais, possibilitando mais investimentos e crescimento. Ao mesmo tempo, uma queda na taxa Selic reduziria os gastos do governo com juros, ajudando nas contas públicas.
Para completar, continua entrando dinheiro de longo prazo no Brasil. O investimento direto no país somou US$ 63,3 bilhões este ano até setembro, ligeiramente acima dos US$ 61,6 bilhões registrados no mesmo período de 2024.
Resumindo
A Bolsa brasileira estava aparentemente mais atrativa para estrangeiros, mas agora parece ter alcançado seus pares ou, ao menos, reduziu um pouco a vantagem após as recentes altas.
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Não me parece, portanto, uma alta exagerada, mas, sim, um ajuste que nos equipara a outros mercados.
Além disso, investidores estrangeiros parecem não dar bola para os analistas mais apocalípticos, pois têm aplicado não só no mercado especulativo, da Bolsa, mas também em projetos de médio e longo prazo, como mostram os dados de investimento direto no país.
Em tempo: esta coluna não é uma recomendação de investimento. Procure entender todos os riscos antes de tomar uma decisão.











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