A grande população de onças-pintadas em Mato Grosso do Sul tem causado conflitos para os produtores de gado do Pantanal, pois os felinos costumam se alimentar de bezerros recém-nascidos. Para preservar a espécie e resolver o problema, entidades estão se unindo na causa.

Com essa situação a Ong (Organização não-governamental) Panthera, fundada em 2006, está trabalhando para levar soluções aos pecuaristas. O médico veterinário Rafael Hoogesteijn, esteve em Campo Grande na terça-feira (4) para dar uma palestra sobre o tema.

Há mais de 30 anos, o veterinário dedica a vida profissional a elaboração de estratégias de manejo de fazendas pecuárias e problemas de predação por felinos no rebanho. Hoogesteijn afirma que a onça do Pantanal é a maior do mundo, mas mesmo assim, não representa perigo nenhum de ataque.

"Temos que acabar com essa história de que onça ataca. Ela apenas se defende do ataque e na história, não há nenhum relato de humano que foi morto por uma onça-pintada", informa.

O veterinário que é venezuelano, comenta que entende o lado dos pecuaristas que enfrentam a seca, cheia e também tem que lidar com a perda de animais para a onça-pintada. "A importância do gado na dieta da onça-pintada varia muito entre as populações, de acordo com as condições ecológicas locais, como exemplo, a abundância de presas selvagens, sendo assim, o gado faz parte da dieta dos felinos", avalia.

Técnicas - Para que esse problema acabe, a fundação auxilia os produtores a usar métodos que inibem a aproximação do felino ao rebanho. "É preciso sim fazer um investimento, mas os prejuízos serão bem menores e os métodos eficazes", alega.

Um dos métodos avaliados e que tem dado certo, é colocar búfalos com o rebanho de gado. "O boi pantaneiro também é outra solução. Ele é forte e defende a boiada, assim como o búfalo, inibindo o ataque da onça", informa.

Outra alternativa utilizada pela fundação Panthera, é uso de currais noturnos com cerca elétrica com carga de alta voltagem. "Mas é preciso utilizar até cinco fios para que o felino não pule ou não passe por baixo. Fizemos muitos testes até aprimorarmos e realmente as onças sempre acham uma falha humana e ultrapassaram uma barreira mal feita", explica.

Utilizando a tecnologia, existe sensores de aproximação que são colocados no curral noturno. "Se algo se aproxima, um alarme sonoro dispara e uma luz acende, espantando a onça do local", comenta.

Turismo – Em contrapartida, o interesse de turistas de todo o mundo em ver a onça-pintada movimentou R$ 30 milhões em Mato Grosso do Sul no ano passado. 

O médico veterinário Rafael Hoogesteijn explica que se comparar as perdas anuais com gado e os ganhos com o turismo, os produtores saem no lucro. "No Pantanal de Mato Grosso do Sul, um pacote para turistas por três dias custa R$ 6,5 mil, o produtor ganha R$ 12 mil em menos de uma semana", alega.

Já com as perdas, o veterinário também faz uma conta rápida. "No ano, o produtor deve perder 63 animais que custam R$ 880 a cabeça, a perda anual é de R$ 50 mil, então o lucro com o turismo é bem maior", informa.

No entanto, as práticas inadequadas com o turismo para avistar uma onça, pode causar danos sérios. Hoogesteijn explica que muitos turistas usam cevas ou iscas para dar às onças. "Eles se aproximam muito dos felinos e colocam em risco a própria vida. O uso de iscas para aproximar os felinos de barrancos ou lugares abertos para ser vistos pelos turistas, faz com que a onça perca o medo do homem, associando gente com comida", alerta.