Temas pouco discutidos e belas imagens: o sucesso de "O Rei do Gado"
Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) e Luana (Patricia Pillar). / Foto: TV Globo / Divulgação

Desde que reestreou no último dia 12 de janeiro, “O Rei do Gado” teve a propaganda de que seria a novela reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo” em homenagem aos 50 anos da Globo. Uma grande propaganda e, com ela, uma enorme responsabilidade.

Entrar num horário onde o sucesso está cada vez mais difícil, tendo o telespectador vespertino como um dos mais exigentes e, sobretudo, ter a missão de alavancar a audiência de “Malhação” e por consequência tentar fazer isso com o restante da grade noturna, não é uma tarefa das mais fáceis.

Tudo isso porque “O Rei do Gado” quase não saiu do papel e não teve a sinopse aprovada. José Bonifácio de Oliveira, o Boni, ex-todo poderoso da Globo, chegou a dizer em 1995 que não queria mais um núcleo de italianos em novela das 20h, após o fiasco de um núcleo parecido em “A Próxima Vítima”, de Silvio de Abreu, em 1995. Ficou só na conversa.

Benedito Ruy Barbosa, o autor de “O Rei do Gado”, ficou aliviado quando teve sua ideia aprovada sem mexer numa só linha meses depois. Conseguiu Luiz Fernando Carvalho para a direção, além de garantir Antônio Fagundes no papel principal. Segundo o que era dito na época, o folhetim poderia perder o horário para Aguinaldo Silva, que projetava “Mar Morto” (cogitou-se a ideia de se fazer uma minissérie posteriormente, após perder a faixa para Benedito), que se transformou no sucesso de “Porto dos Milagres” quatro anos mais tarde.

Ineditismo

Em “O Rei do Gado”, vieram discussões que até então jamais tinham sido trazidas à tona em novelas (ao não ser em “Meu Pedacinho de Chão”, do próprio Benedito, em 1971), como a reforma agrária (discutida até hoje) e a luta dos trabalhadores do Movimento dos Sem Terra (MST).

Laço na mão

O diretor Luiz Fernando Carvalho conseguiu conduzir e dar um tratamento cinematográfico à novela, com sequências longas, iluminação detalhista, imagens belíssimas como pano de fundo e foi um dos pontos fortes do folhetim.

A título de curiosidade, como Benedito Ruy Barbosa e Luiz Fernando são perfeccionistas, numa gravação na Itália foram contratados atores verdadeiramente italianos (os diálogos foram legendados, ainda na primeira fase) e “importados” cerca de 100 nigerianos radicados para viverem os pracinhas negros numa determinada cena. Tudo por conta do realismo exigido pelo autor.

Nem tudo são rosas e as barrigas (aquela fase em que nada acontece) criadas pelo autor foram bastante criticadas na época, já que o folhetim teve nove meses de exibição.

Sou desse chão...

Uma das grandes marcas da novela é a trilha sonora. A própria abertura é marcante e atrai até aquele mais distraído. Com uma seleção de músicas escolhidas de maneira cirúrgica para a trama, “O Rei do Gado” teve dois CDs lançados e tiveram, juntos, a maior vendagem de cópias de trilhas de novelas até então. Apenas o primeiro volume, entre CDs e LPs, bateu a marca de 1,5 milhão de vendas.

Laça a fera

Em 1999, “O Rei do Gado” também teve reprise no “Vale a Pena Ver de Novo” onde não decepcionou, e em 2011 retornou ao canal Viva, da Globosat. Ainda assim, foi escolhida para representar os 50 anos da emissora carioca no “Vale a Pena Ver de Novo” numa rereprise.

Hoje, “O Rei do Gado” vem marcando médias em torno dos 17 pontos, superando até mesmo as inéditas "Malhação" e "Boogie Oogie" em algumas oportunidades. Um respiro para as tardes globais.