O trabalho começou faz cerca de um ano no projeto voluntário Nova, que atende vítimas de violência sexua

Sobreviventes de estupro e artistas se encontram para sensibilizar com amor

Com apresentações musicais, recital de poesia e uma exposição artística na qual vítimas de estupro expõe suas dores e expressam pedidos de socorro em pinturas, cerâmicas e artesanatos, será aberto hoje (21), às 19h, o evento “Sensibilizar, Amar”, na sede do Projeto Nova. A entrada simbólica é de R$ 5,00.

Por meio da arte, o evento quer conscientizar a população sobre a importância de se falar sobre estupro, abuso e violência sexual. Por isso, estão previstas apresentação de música instrumental, pocket show de Chicão Castro e Marina Peralta. Os visitantes poderão experimentar um hambúrguer gourmet feito pela chef Natalia Borges e ainda conferir um recital com a poetisa Delasnieve Daspet. O Coletivo de Mulheres Negras também participa do “Sensibilizar, Amar”.

O trabalho começou faz cerca de um ano no projeto voluntário Nova, que atende vítimas de violência sexual com histórico de vulnerabilidade social. A professora de cerâmica e artesã Daniele Teixeira esteve presente no projeto para uma oficina com os 28 sobreviventes – termo pelo qual as pessoas atendidas são chamadas.

Nessa oficina, Daniele os convidou para produzirem obras que falassem sobre seus sentimentos. O resultado foi impactador, como a psicanalista voluntária Viviane Vaza explica. “Se você olhar bem para essas peças vai notar a representação de corpos humanos estão sem os membors inferiores, sem olhos, sem boca, sem rosto. Isso tudo quer dizer algo sob o aspecto psicológico”, explica.

Além deste trabalho, estarão expostas mais quatro instalações, entre quadros e fotografias. Ainda segundo Viviane, por meio de uma roda de conversa com os sobreviventes de estupro, a poetisa Rafaela Gizi e a ilustradora Elaine Moraes trabalharam em conjunto criando quadros que retratassem um pouco do que foi ouvido anteriormente.

A artista Daniela Rodrigues também criou três gravuras sobre o que é ser vítima de estupro. "O meu projeto de trabalho de conclusão de curso de artes visuais foi baseado nas vítimas de violência sexual. As gravuras que estarão expostas no evento são algumas dessas feitas nessa época", diz.

Ela completa: "Minha intenção é fazer pensar sobre como essa pessoa fica, o estado emocional dessas pessoas. Eu entrevistei várias pessoas na época para poder Muitas delas falam que perde a fé na vida, a esperança, então o olhar dessas pessoas é vazio. Ali eu retrato mulheres e até meninos. A arte traz a possibilidade de trazer a cura, de refletir sobre aquilo". Por fim, o fotógrafo Rafael Carrilho expõe fotografias que retratam o abuso sexual.

Essa é a segunda edição do “Sensibilizar, Amar”. O projeto Nova desde 2011, trabalha para promover qualidade de vida aos sobreviventes do abuso e da exploração sexual em Campo Grande. Pesquisa realizada pelo Projeto, em 2017, aponta que 94% das pessoas assistidas sofreram abuso sexual na infância, 48% afirmam terem sido vítimas de violência doméstica praticada pelo parceiro e 64% se envolveram com a prostituição. Por conta da violência, 75% das pessoas atendidas tiveram consequências cognitivas e 83% sofreram algum tipo de comprometimento psiquiátrico.