Sequestro coletivo

Sequestrados: fomos todos sequestrados. Com o passar dos meses, fomos nos dando conta da terrível situação. Até os adesistas começaram a perceber. Os que se opuseram -- a maioria já nem se opondo mais -- se veem sem para onde ir, sem saber o que fazer. As reações parecem gritos no cativeiro distante de viv'alma.

Um país inteiro sequestrado. Açoitado diariamente, para se manter curvado, no máximo resmungando ao final de cada sessão de tortura moral.

Mentes e corações defensivamente anestesiados, quase prevendo que amanhã será pior, sem vislumbrar um remédio.

A política foi aniquilada: o poder foi transformado em quintal de gente para quem pouquíssimos, no próprio interesse dissimulado, abriria a porta de casa.

O dia-a-dia, um espetáculo nonsense. Ninguém mais é capaz de proferir um "Não acredito que fizeram ou disseram isso!"

O futuro se afasta, o homem míngua, a Nação derrete, a esperança (equilibrista?) esmaece, mesmo diante do show do artista insistente.

A polícia não vai nos resgatar. Nem as forças armadas. Muito menos o juiz ou o promotor. Dos bombeiros cortaram a verba, assim como do socorrista hospitalar.
Sindicato? Partido? Movimentos sociais? Cadê?

Quem pode fazer o resgate quando o sequestrado é um país inteiro, que já teve seus cofres exauridos pelos mandantes do sequestro?

Quem?

(*) Valdemir Pires é professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.