STF começa hoje o julgamento que irá decidir se mantém ou derruba liminar que suspende piso da enfermagem.

Sem indicativo de greve, enfermagem de MS se junta ao protesto nacional em favor de piso da categoria
Expectativa é que milhares de profissionais de MS se juntem à manifestação nacional. / Foto: Henrique Arakaki/ Midiamax

Os profissionais da enfermagem de Campo Grande se reúnem, nesta sexta-feira (09), na Praça do Rádio Clube, para um protesto nacional em prol da manutenção do piso salarial da categoria, previsto em R$ 4.750,00 pela Lei 14.434/2022. O STF (Supremo Tribunal Federal) começa a julgar, entre hoje até o dia 16 de setembro, se mantém ou derruba a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, que suspendeu por 60 dias a lei que criou o piso salarial da enfermagem, no domingo (4). 

O ministro justificou a liminar dizendo que deve ser feita melhor avaliação do impacto sobre o sistema de saúde, com riscos para demissões e fechamento de leitos.

De acordo com Lasaro Santan, da Siems (Sindicato dos Trabalhadores da Área de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), entidade que organiza a manifestação em Campo Grande, a intenção do ato é sensibilizar os ministros sobre a votação e mostrar a importância da categoria. “Hoje fazemos uma mobilização. Não é paralisação e nem greve. Os trabalhadores continuam com o serviço normal', afirma. 

Segundo os organizadores, a expectativa é que sete mil profissionais da área da enfermagem participem hoje da manifestação na Capital e interior do Mato Grosso do Sul. “Durante a semana teremos atos em outros lugares, como a Santa Casa, não contra a instituição, mas para mostrar quantos trabalhadores há nesses locais e sensibilizar sobre a importância do nosso serviço', afirma Lasaro. 

Os profissionais da área da enfermagem concentrados na Praça do Rádio vestem roupas nas cores pretas ou o uniforme da categoria, com faixas que relembram a aprovação da lei. Uma enfermeira de 41 anos que não quis se identificar e atua há 15 anos no ramo, conta que os profissionais da área de saúde foram importantes durante a pandemia, mas que agora foram esquecidos. 

“Temos colegas de trabalho com jornada tripla para conseguir uma boa remuneração. Inicialmente, algumas empresas podem acreditar que seja uma mudança ruim, mas se o piso salarial for aprovado, um trabalhador não vai precisar trabalhar em três ou quatro serviços, vai ser um profissional 100% com saúde física e mental. O que nós mais vemos são profissionais atuando cansados', lamenta.

Relato semelhante é de outra enfermeira, de 45 anos, com sete anos na área, que não quis se identificar. Ela contou que compareceu ao protesto porque acredita na luta e que a aprovação do piso salarial irá beneficiar os serviços prestados. 

“Isso irá melhorar o desempenho do profissional, o que irá refletir na qualidade do atendimento e na redução de acidentes hospitalares. Não é que o trabalhador não se esforce, é que não há valorização e nós estamos exaustos fisicamente e mentalmente', desabafa a enfermeira.

Frank Valdez, do grupo Gigantes da Enfermagem de Mato Grosso do Sul, explica que a manifestação é apartidária, sem viés político, que tem como objetivo evidenciar o trabalho dos enfermeiros. “Esperamos que os ministros olhem com carinho para a categoria que lutou tanto na pandemia', afirma.

O protesto em Campo Grande, com início às 10 horas desta sexta-feira, reuniu cerca de 80 pessoas na primeira hora de manifestação, com integrantes da Siems, Gigantes da Enfermagem, SINTE/PMCG (Sindicato dos trabalhadores públicos em enfermagem de Campo Grande - MS) e da Feessaude-MS (Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de MS).

Histórico
Em 14 de julho deste ano, o Congresso promulgou a Emenda Constitucional (EC) 124 para possibilitar que uma lei federal instituísse os pisos salariais nacionais para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e parteiras. Já em 4 de agosto foi sancionada a respectiva norma, a Lei 14.434, de 2022.

De acordo com a Lei, o piso salarial de enfermeiros fica definido em R$ 4.750; o de técnicos de enfermagem, R$ 3.325; e o de auxiliares e de parteiras, R$ 2.375.

Suspensão
A decisão cautelar de Barroso foi concedida no âmbito da ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 7.222. O jurista deu prazo de 60 dias para que entes públicos e privados da área de saúde informem o impacto financeiro do piso salarial, assim como os riscos para a empregabilidade na área e a possibilidade de eventual redução na qualidade dos serviços prestados na rede de saúde.

Na decisão, o ministro afirmou ser plausível o argumento de que o Legislativo aprovou o projeto e o Executivo o sancionou sem cuidarem das providências que viabilizariam a sua execução, como, por exemplo, o aumento da tabela de reembolso do SUS à rede conveniada.