Ao contrário do que dizem, muitas vezes esses lugares não são resultado de abandono da família.

Quando a mãe fez 85 anos, filha tomou difícil decisão de procurar lar de idosos
Andressa conta que a separação da mãe foi dolorosa, mas necessária para o bem estar de Helena / Foto: Kimberly Teodoro

Depois de 85 anos de uma vida cheia de histórias, Helena* buscou a tranquilidade para envelhecer com segurança no Sirpha Lar do Idoso. Com o acolhimento, os dias ganharam novas cores de liberdade para quem foi uma mulher independente e não se acostumou com a solidão que veio com a viuvez.

A decisão tomada em conjunto com a filha Andressa*, de 46 anos, foi dolorosa, mas está longe do estereótipo do abandono que a maioria das famílias que passa por essa escolha carrega. Com um filho de 12 anos e a rotina de quem trabalha fora, dar a atenção e os cuidados médicos de que a mãe necessitava ficaram difíceis, principalmente, depois do diagnóstico de diabetes tipo 1, aquele em que a pessoa precisa de doses diárias de insulina. O conforto de Helena foi o fator definitivo.

“Quem gosta de ficar sozinho? Eu não”, questiona Helena, que diz não ter um único dia que não seja animado no lar. Morando há 2 anos no Sirpha ela se sente em casa e tem sempre companhia, muito comunicativa ela conhece todo mundo, funcionários e acolhidos. “Aqui temos horário para comer, tomar os remédios, e atividades como fisioterapia, música, temos a visita de religiosos uma vez por semana, e ninguém te obriga a nada”, afirma, retomado o ponto dos horários de refeições e medicamento mais de uma vez.

De acordo com Andressa, a insistência nos horários é porque a mãe sempre foi muito nervosa e preocupada com tudo. Além de ter passado boa parte da vida tomando responsabilidades para si, o estado de espírito se agravou com a diabetes, que também sofre influência emocional, mas que desde o acolhimento do lar, são preocupações que não fazem mais parte da rotina de Helena.

“Ela reclamava muito de dores e doenças que ela não tinha, era psicológico. Há 2 anos, todas essas coisas desapareceram. Hoje, ela tem a certeza de alguém do lado para ajudar sempre que precisar”, relata a filha, que escolheu o Sirpha depois de visitar outros 4 lares para idosos. Para ela, além das instalações e do atendimento médico, o cuidado que os profissionais têm com os acolhidos foi essencial na escolha.

“Nos sentimos à vontade aqui, tanto eu fico tranquila sabendo que ela está sendo bem cuidada, como ela ganhou a segurança de estar acompanhada o tempo todo. Todos os funcionários são dedicados e é visível que fazem o trabalho dele com amor, muitos dos idosos aqui são melhores tratados por eles do que pelos próprios membros da família”, conta.

Por ser filha única, Andressa cuidou sozinha dos pais a vida inteira. Mesmo depois de casada, ela continuou na casa deles quando a idade chegou, a diferença é que na época, o pai ainda estava vivo e os dois ajudavam um ao outro. Situação que mudou depois da morte dele. Helena não queria depender de ninguém e ainda passou quase 1 ano morando sozinha, só com a idade ela aceitou ir morar com a filha.

Sempre muito ativa e a frente do próprio tempo, uma das coisas que Helena mais preza é a liberdade de ir e vir, o que a idade dificultou muito e passou a tirar a paz da filha, que ia trabalhar e na volta não encontrava a mãe, “muito arteira” em casa. Liberdade que ela acabou por encontrar no lar, com o bônus de ter todas as necessidades atendidas sem precisar ir longe e do convívio social do qual ela tanto sentiu falta.

As visitas são constantes e hoje Andressa diz passar mais tempo de qualidade com a mãe. “Apesar de morarmos juntas na época, estávamos separadas pela rotina”.

Saudade mesmo, Helena só tem do neto, que por estar em semana de provas da escola não acompanhou a mãe dessa vez, mas prometeu vir no domingo, um dos momentos favoritos dela, que conta que ele está tão à vontade que até dorme na cama da avó.

“Optar por um lar de idosos não é um bicho de sete cabeças e precisa ser desmistificado, quem precisa recorrer a essa forma de cuidado é crucificado, mas fiquei muito tempo me perguntando sobre essa decisão, principalmente pela imagem que as pessoas têm. Mas eu sei que foi a decisão certa, apesar de dolorosa, é um ato de amor reconhecer que os idosos precisam de cuidados especiais”, afirma Andressa.

Os nomes citados na reportagem são fictícios para preservar a imagem das fontes, que ainda sofrem com as cobranças sobre a decisão pelo lar de idosos.