Ibovespa despenca 3,35% e dólar dispara 4,14% com teto de gastos ameaçado e Mantega na transição.

Prestes a voltar à cena do crime, Lula vê mercado financeiro nervoso por governo petista iminente
Ibovespa despenca 3,35% e dólar dispara 4,14% com teto de gastos ameaçado e Mantega na transição. / Foto: Divulgação

Enquanto Wall Street fez a festa hoje, com dados da inflação finalmente surpreendendo e vindo abaixo do esperado, o clima na Faria Lima não poderia ser mais diferente. Por aqui, só amargura: o Ibovesp despencou mais de 3%, voltando para o patamar dos 109 mil pontos. O dólar foi a 5,4149, um salto de mais de 4% – o maior desde março de 2020, quando a pandemia chegou.

O mau humor tem nome e sobrenome: risco fiscal. Se o mercado passou a primeira semana pós-eleição em relativa paz com o novo governo eleito, o caos voltou a reinar agora na Faria Lima com mais detalhes sobre a provável política econômica adotada pela gestão petista.

Lula injetou um boa dose de amargura no mercado em suas falas na manhã desta quinta-feira. Não houve exatamente uma grande novidade em seu discurso, que foi uma repetição do que já havia sido dito na campanha: um governo voltado para os pobres, responsabilidade social etc.
 
Se o ladrão após ser preso e ser solto voltar a sua casa como você sentiria?"
Eocnomista
O problema é que o petista deu a entender – ou pelo menos a Faria Lima assim o entendeu – que poderá abrir mão da responsabilidade fiscal para cumprir suas promessas.

“Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos?

É preciso fazer superávits? É preciso fazer tetos de gasto? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país?”, questionou Lula.

Não foram só as palavras que assustaram o mercado, é claro. A ideia concreta de retirar as despesas do Bolsa Família permanentemente do teto de gastos – algo que parece ser o plano A da nova gestão

para conseguir pagar o programa – foi extremamente mal recebida e entendida como um primeiro passo para o descontrole das contas públicas. Mesmo que o auxílio seja uma medida extremamente essencial, a Faria Lima quer que os números sejam planejados e claros, e teme que a retirada da despesa do cálculo signifique que o novo governo simplesmente passará a gastar mais e mais sem respeitar as regras de controle.

Nesse ponto, a bolsa já despencava no começo da tarde quando veio uma notícia que piorou ainda mais os humores. Os nomes da equipe de transição foram divulgados, e um em especial se destaca:

Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda nos governos Dilma e Lula. Ele entregará a equipe que cuidará da parte de Planejamento, Orçamento e Gestão – justamente a mais sensível para a pauta do dia.

Se o medo fiscal já era grande, com a confirmação do nome nada amado pela Faria Lima ele foi às máximas.

A nomeação do ex-ministro parece confirmar a tendência de uma política econômica mais voltada para a heterodoxia, à la governos Dilma, do que para um projeto mais voltado para o centro, à la Lula

I, como sinalizado na campanha com a formação da “frente ampla”. A presença do ortodoxo Pérsio Árida no processo de transição nem de perto acalma os temores.

A bolsa reagiu desabando 3,35%. O dólar disparou 4,14%.

O pessimismo do mercado foi tão protagonista no noticiário do dia que até Lula se pronunciou algumas horas depois do seu discurso.

O petista já tentou fazer as pazes com a Faria Lima nas últimas semanas. A todo momento relembra seus dois mandatos para reforçar que ele tem sim responsabilidade fiscal. Também adota um discurso conciliador e afirma apostar na frente ampla.

Mas, por outro lado, continua atacando teto de gastos e reforçando um discurso de responsabilidade fiscal vs responsabilidade social. E suas medidas práticas – como a nomeação de Mantega – falam mais alto do que suas palavras. Até porque elas lembram mais o governo Dilma do que seus próprios mandatos.

Para o petista reconquistar o mercado, vai ser preciso de muito mais. A relação já começou com o pé esquerdo.

O pessimismo foi tão extraordinário que nem um otimismo igualmente extraordinário em Wall Street segurou nossa bolsa (ainda que tenha limitado as perdas).

Em Nova York, os índices acionários tiveram a maior alta diária desde 2020 – tudo porque a novela da inflação finalmente teve um plot twist positivo. Com informações do portal VC/SA.