"Não tinha absolutamente nada contra ele até àquela data da prisão", afirma Tânia Borges em entrevista exclusiva ao Campo Grande News.

Presidente do TRE diz que cheque a PM era para “segurar” compra de carro

Emissora de cheque de R$ 165 mil apreendido na investigação contra a Máfia do Cigarro, a presidente do TRE/MS (Tribunal Regional Eleitoral), desembargadora Tânia Garcia de Freitas Borges, afirma, em entrevista exclusiva ao Campo Grande News, que a garantia do valor foi feita ao tenente-coronel Admilson Cristaldo Barbosa para “segurar” a compra de um veículo, mas a venda não se concretizou.

“No mês de março, eu estava tratando da venda do meu carro para comprar um SUV, carro mais alto, mais seguro para viagens. Estava em negociação com o doutor Roberto Vieira, que dependia de receber um crédito para realizar o negócio comigo e pediu que eu aguardasse. Soube que o tenente-coronel Admilson estava vendendo justamente um veículo que atendia as minhas necessidades, um Jeep Grand Cherokee”, afirma a desembargadora.

Interessada pelo veículo, a presidente do TRE explicou a Admilson que só poderia comprar a Cherokee se finalizasse a venda de seu veículo. O pedido foi para que o tenente-coronel aguardasse por um período, entre 30 e 40 dias.

Contudo, ele externou a necessidade de vender o veículo. Desta forma, foi combinado que deixaria o carro na revenda. Mas, para demonstrar o interesse na compra, a desembargadora entregou o cheque a Admilson, a quem conhece há 12 anos e, até então, tinha ótimas referências. O valor de R$ 165 mil era o preço integral do SUV.

Se a Cherokee fosse comercializada na garagem de carros, o cheque seria devolvido. Caso a desembargadora vendesse o carro, a compra da Cherokee seria finalizada. O cheque é datado de março deste ano, mas “bom” para abril.

“Quando foi em maio, ele foi preso. O carro, pelo que li no noticiário, continua na garagem à venda. Não vendi meu carro até hoje porque o doutor Roberto também não recebeu o crédito. Até já olhei outros veículos da mesma marca. Mas quero fazer uma venda casada, vender e comprar”, afirma a desembargadora, que ainda aguarda a venda de seu carro para o advogado.

Convite – Com previsão de assumir a presidência do TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) no fim de janeiro de 2019, Tânia Borges afirma que não fez negociação com o tenente-coronel para ele ocupar o cargo de chefe de segurança do tribunal. De acordo com ela, foi um convite para ele fazer parte da equipe.

“É prerrogativa de todo presidente escolher os cargos de direção do tribunal, escolher a equipe de segurança, que sempre composta por policiais militares e delegado. E toda a equipe tem que estar estruturada antes, para se estabelecer os planos de trabalhos, os projetos”, diz a desembargadora.

Futura presidente, ela afirma que vai manter o coronel Jonildo Theodoro de Oliveira na chefia da segurança do TJ/MS. Até então, Admilson Cristaldo entraria na equipe como um “braço-direito” do coronel.

“O tenente-coronel sempre foi pessoa que gozou de muito respeito dentro da PM (Polícia Militar), sempre se relacionou muito bem com todas as instituições: Poder Judiciário, Tribunal de Contas, Assembleia. Foi condecorado inúmeras vezes pelos serviços prestados, era comandante de um batalhão e um policial de alta patente. Não tinha absolutamente nada contra ele até àquela data da prisão. Nunca se soube de nada que pudesse implicá-lo em conduta desonrosa”, afirma.

A desembargador conta que conheceu Admilson Barbosa quando foi ministrar palestras na academia de formação dos policiais militares. Ele era um dos dirigentes.

A presidente do TRE é mãe de Breno Fernando Borges, preso por tráfico de drogas. O caso ganhou repercussão nacional depois que a desembargadora foi pessoalmente liberar o filho do presídio de Três Lagoas. Ela não quis comentar o tema, que está na Justiça.

Denúncia – Preso em 16 de maio, o tenente-coronel Admilson Cristaldo Barbosa foi alvo da operação Oiketicus, que investiga a ligação de policiais militares com a Máfia do Cigarro. Ele foi denunciado à Justiça Militar por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A investigação foi feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), braço do MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).

O que levantou suspeita foi o padrão de vida incompatível com os rendimentos que ele recebia na Polícia Militar. Nome da operação, oiketicus é um inseto conhecido popularmente como “bicho cigarreiro”.