Leonardo Zengo confessou ter matado um dos rapazes e disse que foi enganado pelos outros acusados.

Por medo do PCC, assassino de amigos pede para não ser levado a presídio
Luiz Kunyoshi (garrafa na mão) e Leonardo Zengo, quando chegava à delegacia, na quarta. / Foto: Adilson Domingos

Leonardo da Silva Zengo, 20, assassino confesso dos dois amigos executados durante “tribunal do crime”, na véspera do Natal em Dourados (a 251 km de Campo Grande), está com medo de ser condenado à morte por trair a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

eça-chave da Polícia Civil para elucidação do assassinato de José da Silva Câmara, 23, e Caio Henrique de Oliveira, 21, Leonardo da Silva Zengo afirma ter sido enganado por outros dois integrantes da facção, Luiz Fernando Escobar Kunyoshi, 22, o “Japa”, e Douglas Alves Cardoso, 23, “Gordão”. Os dois também estão presos.

Leonardo alega ter aceitado participar do sequestro e da morte de Caio e José acreditando que a decisão tivesse partido do comando do PCC. Entretanto, segundo a polícia, o grupo que está preso, embora faça parte da facção, agiu por conta própria.

Ao ser preso na tarde quarta-feira (28) junto com outros cinco envolvidos em uma casa na Rua Adroaldo Pizzini, no Jardim São Pedro, Leonardo Zengo pediu para conversar com os agentes do SIG (Setor de Investigações Gerais).

Medo de morrer – Aos policiais, ele disse que contaria toda a história, mas em contrapartida tinha um pedido a fazer: que não fosse levado para a PED (Penitenciária Estadual de Dourados), onde integrantes do PCC ocupam toda o raio II.

Segundo a história contada por Leonardo, na noite de 23 de dezembro, ele recebeu a ordem de “Japa” para buscar os dois rapazes na casa de Alexandro Tavares Capilé, o “Piolho”, no residencial Estrela Porã, onde as vítimas também moravam. Alexandro ainda não foi localizado pela polícia.

Leonardo Zengo disse ter sido informado por “Japa” que os dois rapazes deveriam “levar um corretivo”, já que teriam roubado a moto e agredido um casal do bairro onde moravam.

Caio e José estavam sendo mantidos reféns na casa de Alexandro Tavares Capilé, o “Piolho”. Do local, os dois rapazes foram levados para a casa de “Japa”, na Rua Eulália Pires.

Já no outro cativeiro, Caio teria tentado escapar e por isso os dois foram amarrados. Foto dos rapazes sentados no chão com as mãos amarradas circulou em grupos do aplicativo WhatsApp.

Leonardo disse que após as vítimas serem amarradas, ele foi embora. Ficaram na casa, Luiz Kunyoshi e Bruno da Silva Gentil, 23, que também está preso. Os dois estavam armados, segundo Leonardo.

“Decretados” – Na manhã de sábado (24), Leonardo Zengo disse ter recebido ligação de “Japa” mandando que retornasse ao cativeiro, pois as vítimas tinham sido “decretadas”, ou seja, receberam sentença de morte.

Caio e José foram então colocados em um carro, conduzido por “Japa”, e levados até a matinha na margem da BR-463, na saída para Ponta Porã. Leonardo Zengo e Bruno Gentil seguiram no carro, como seguranças.

Quando chegaram perto da mata, os dois rapazes foram retirados do carro e levados até o bosque, escoltados por Leonardo e Bruno. “Japa” teria ficado no carro, segundo a versão de Leonardo.

Segundo Leonardo, toda a cena foi transmitida por chamada de vídeo para Douglas Alves Cardoso, o “Gordão”. Morador no bairro Paulo Coelho Machado, em Campo Grande, Douglas estava em deslocamento para Dourados e chegou logo depois.

Leonardo alega que pediu para não matar Caio e José, mas teria sido ameaçado por Douglas: “se não matar, é você que vai morrer”. Com o revólver calibre 357 pertencente a “Japa”, Leonardo disparou um tiro na cabeça de José da Silva Câmara.

Com outra arma, revólver calibre 38, Bruno Gentil disparou três tiros em Caio Henrique e depois disparou mais um tiro em José. Com uma pá e picareta, os dois abriram a cova e jogaram os corpos, encontrados quatro dias depois.

A pá e a picareta foram encontradas pela polícia na casa de Laura Negrão de Assis, 24, na Rua Adroaldo Pizzini, onde seis dos sete envolvidos estavam escondidos. Laura teve a prisão preventiva negada pela Justiça e já está em liberdade. Bruno Gentil foi preso em Itaporã, onde mora.

Em silêncio – Luiz Kunyoshi, o “Japa”, Douglas Alves Cardoso, Henrique José Jara do Carmo, 27, e Laressa Michele Farias de Matos, 27, usaram o direito constitucional de ficar em silêncio no depoimento à polícia.

Bruno Gentil confessou participação nos fatos antes das mortes, mas negou ter sido um dos atiradores. Laura, mulher de Henrique, disse que sabia das mortes e ocultação de cadáver e confessou que “Japa” escondeu as armas em sua casa, mas negou participação direta nas execuções.

Ontem, o juiz plantonista Caio Marcio de Britto decretou a prisão preventiva de Douglas Alves Cardoso, Leonardo Silva Zengo, Bruno da Silva Gentil, Luiz Fernando Escobar Kunyoshi e Laressa Michele Farias de Matos.

Henrique José Jara do Carmo e a mulher dele, Laura Negrão de Assis, ganharam liberdade provisória. Entretanto, Henrique vai continuar preso, por forças de mandado de prisão por outro crime. Ele já estava sendo procurado pela polícia.

Apesar do pedido, Leonardo foi levado hoje para a PED. Também foram transferidos Douglas, Bruno e Luiz Fernando. Laressa continua na Polícia Civil esperando vaga em presídio feminino.

Laura foi colocada em liberdade e Henrique permanece recolhido na carceragem da 1ª Delegacia de Polícia, na Rua Cuiabá. A polícia aguarda informações sobre o mandado de prisão que existe contra ele.