População de animais selvagens caiu 58% desde 1970, diz estudo
" The Living Planet Report 2016 " traz uma radiografia da vida animal no planeta e alerta para a redução dramática da biodiversidade / Foto: Roger Leguen / WWF

A biodiversidade do planeta vem diminuindo num ritmo alarmante e isso coloca em risco a sobrevivência das espécies e do próprio ser humano.

O alerta está no relatório The Living Planet Report 2016 (Planeta Vivo, em tradução livre), divulgado a cada dois anos pela Zoological Society of London (ZSL) e da organização ambiental WWF .

A população de animais selvagens caiu 58% desde 1970.

Os números mostram que as espécies que vivem em lagos, rios e pântanos foram as que mais sofreram reduções e que, se nada for feito, até 2020 a população de vertebrados estará reduzida a dois terços da atual.

As principais causas desse declínio são a ação direta do homem - incluindo a destruição de habitats e o tráfico de animais silvestres -, a poluição e a mudança climática.

A pesquisa pede mudanças imediatas na maneira como exploramos as fontes de energia e alimento do planeta, proteção da biodiversidade e apoio a modelos de desenvolvimento sustentável.

Sem desculpa

"Está claro que se continuarmos do jeito que estamos, vamos ver o declínio constante dos animais selvagens. Chegamos a um ponto em que não há mais desculpa para seguirmos assim", disse Mike Barrett, diretor de Ciência e Política da WWF.

"Sabemos quais são as causas e o impacto da ação do homem na natureza e nas populações de animais selvagens. Temos que agir agora", alerta.

O relatório estudou 3,7 mil espécies de aves, peixes, mamíferos, anfíbios e répteis - o que representa 6% do número total de vertebrados existentes no mundo.

Os pesquisadores então analisaram as mudanças no tamanho das populações desde 1970.

O estudo anterior, publicado em 2014, calculava que a população de animais selvagens diminuiria 50% em 40 anos.

Passados dois anos, essa estimativa foi 58% para o período.

Barrett explica que a situação é pior em alguns grupos de animais:

"Vemos uma forte redução especialmente entre as espécies de água doce. O declínio chega a 81% desde 1970 e está relacionado à maneira como a água doce é usada pelo homem e também à construção de represas, por exemplo."

A pesquisa também destaca a situação de espécies como os elefantes africanos - ameaçados pelo aumento da caça ilegal - e os tubarões, alvo da pesca predatória.

Os pesquisadores concluíram que os vertebrados estão diminuindo a uma taxa de 2% ao ano. Se isso continuar, até o fim da década essas populações podem sofrer uma redução de 67% (em relação aos níveis de 1970).

"Mas se as nossas previsões se confirmarem e houver aumento do comércio ilegal de animais silvestres, por exemplo, a queda será ainda pior", alerta o professor Robin Freeman, chefe da Unidade de Indicadores e Avaliação da ZSL.

"O mais importante sobre esses percentuais é que eles mostram a redução do número de animais em determinadas populações. Não se trata de extinção de espécies. Elas não estão desaparecendo e isso nos dá tempo de fazer algo", diz.

A boa notícia é que espécies como o urso panda e o tigre de Bengala, que já foram ameaçadas até de extinção, não estão nesta lista.

Metodologia sob questão

Mas a metodologia da pesquisa também foi criticada. O americano Stuart Pimm, professor de ecologia da Universidade de Duke University, nos EUA, vê "furos" nos dados do estudo.

"O relatório traz alguns números importantes, mas outros que são muito, muito imprecisos," disse Pimm.

"Por exemplo, ao analisar a origem de certos dados, não é de surpreender que eles venham maciçamente do Leste Europeu. Quando olhamos outras regiões, há poucas informações e os dados se tornam bem mais inexatos. Não há quase nada da América do Sul, da África e dos países tropicais em geral. Ao misturar os dados dessa maneira, fica difícil saber o exato significado dos números."

Para Pimm, as organizações "estão jogando tudo no liquidificador e anunciando um único número... isso é inútil".

Mas Freeman, da ZSL, diz que sua equipe conseguiu os melhores dados mundiais possíveis.

"É absolutamente verdadeiro que em algumas regiões e grupos, como o de anfíbios tropicais, temos lacuna de dados. Mas isso é porque não há mesmo informações sobre eles. Acreditamos que nossa metodologia é a melhor possível para calcular a diminuição de populações", afirma.

"Também é possível que a situação de espécies que não estejam sendo monitoradas seja muito pior."