Escola Visconde de Cairu chega ao centenário e abriu uma semana inteira de comemorações

Para comemorar 100 anos de escola, ex-alunos voltam ao lugar que marcou história
Jandira Arashiro está entre as alunas mais antigas da Escola Visconde Cairu / Foto: Kimberly Teodoro

Em 100 anos, a Escola Visconde de Cairu entrou para a história de muitas famílias tradicionais da colônia japonesa em Campo Grande. Para relembrar os dias no prédio da Rua Antônio Maria Coelho, estudantes, pais, professores e egressos se reuniram no Clube de Campo da Associação Nipo Brasileira para a abertura da primeira confraternização do centenário, que terá uma semana inteira de comemorações.

Mesmo quem passou por lá há muito tempo, ainda se lembra com carinho dos primeiros anos de ensino básico.

Aos 91 anos, Jandyra Arashiro conta com orgulho ter feito parte da turmas de 1937, 1938 e 1939, 3 anos em que apesar das dificuldades, saía da propriedade rural dos pais nos arredores de Terenos e vinha até a Escola Visconde de Cairu para estudar, em uma época em que muita coisa por aqui era "mato" e a solução era passar longos períodos na casa de conhecidos da família que morassem mais perto.
 
Durante muito tempo, a Visconde de Cairu ofereceu apenas o primário. Mas Jandyra, por ser a filha mais velha, só pode frequentar 3 anos de aulas. Os pais foram a primeira geração da família a vir do Japão, sem parentes por perto, coube a ela ajudar a mãe com os 9 irmãos que nasceram depois, sacrifício que, segundo ela, valeu a pena para ver todos eles concluírem o curso na escola e seguirem com os estudos até a universidade.

Depois de Jandyra e dos irmãos, os 6 filhos dela também passaram pela Visconde, entre eles, Neusa Arashiro e Ilton Arashiro, que acompanharam a mãe ao jantar onde foi homenageada ontem (19). Apesar de 4 anos parecer pouco, na época a importância do ensino primário era ainda maior, Ilton relembra da necessidade de fazer uma prova, "parecida com o vestibular", para ingressar no Ensino Fundamental e Médio nas escolas públicas da capital, ainda mais concorridas que as escolas particulares por volta dos anos 1970.

Neusa atribuí a boa base recebida da Escola Visconde de Cairu a boa colocação nos exames que garantiram o passaporte para os anos de formação que vieram depois. Segundo ela, além da tradição dos imigrantes de colocarem seus filhos ali, havia também a qualidade de ensino, as atividades culturais e os bons professores que incentivavam os alunos a manterem viva a vontade de aprender.

A ligação da família Nakao com a Escola Visconde de Cairu começou na década de 1930, com a matriarca Tomi Nakao, filha de imigrantes e a primeira geração a estudar lá, o resultado da própria experiência foram os 6 filhos que também iniciaram as aventuras pelo mundo do conhecimento ali.

Carlos Nakao diz que a herança foi a educação de qualidade, que formou médicos e engenheiros entre eles e muito provavelmente fez o mesmo por muitos outros ex-alunos, que saíam de lá para as escolas mais disputadas da cidade e com as melhores colocações nas provas de seleção. "Naquele tempo, quem queria estudar ia para as escolas públicas, que eram as mais difíceis de entrar e mais rigorosas no ensino, se você não quisesse estudar era melhor tentar uma particular", brinca. 

Formada em Medicina, Neuza Nakao se lembra da escola como uma segunda casa, onde além dos irmãos também estudavam os vizinhos e os filhos dos amigos da família. Ela se orgulha de ter sido a primeira da classe durante os 4 anos em que fez parte da escola, a "sede" pelo conhecimento nasceu ali de uma vontade insaciável de aprender, anseio que a acompanhou pelo resto da vida acadêmica.

Para o também médico Milton Nakao, a principal lembrança é a do concurso de redação dos alunos no 1º ano, do qual ele foi vencedor. Coincidência ou não, o prêmio foi um livro que contava a vida do músico Ludwig van Beethoven, que tinha otosclerose, uma formação anormal de osso esponjoso perto da orelha e que causa perda da audição, doença que hoje ele combate como médico.

A professora responsável por "prever o futuro" é uma das favoritas de Milton, Elza "Morena" ainda tem o rosto marcado na memória do médico, por ser a professora que primeiro formou a matriarca da família e depois fez parte da formação dele.

Caçula dos 6 irmãos, Ricardo Nakao é engenheiro e diz que o mais marcante foi a integração com a cultura japonesa e vínculo com a colônia que preservou tradições importantes para as famílias dos descendentes. "Educação nós aprendemos em casa, junto com as primeiras letras, mas com a escola veio a disciplina, o convívio com os outros alunos e o desenvolvimento daquilo veio de casa", conta.

Na memória dos irmãos, o que prevalece é o pátio e uma escada que fazia a ligação entre as duas partes do terreno, na época em desnível, o que hoje foi substituído por uma ginásio poliesportivo, mas que por volta de 1960 foi palco de muitas brincadeiras, como peão, pega-pega, bolita e o pique esconde pelas árvores da escola, que pela simplicidade despertam nostalgia em muita gente.

Parte da terceira geração da família, os dois filhos de Ricardo também frequentaram a Escola Visconde de Cairu nos anos 1990, entre eles Guilherme acompanhou o resto da família no jantar, e conta que nas lembranças dele a escada e o pátio já haviam dado lugar ao ginásio, mas a alegria das crianças e as brincadeiras continuavam as mesmas, independente de quanto tempo havia se passado entre a primeira vez que o tio mais velho passou pelos portões do prédio até o dia em que chegou a vez dele de fazer o mesmo.

Programação - Além do jantar de abertura do centenário, serão realizados mais dois jantares para ex-alunos, professores e colaboradores, no Clube de Campo da Associação Nipo Brasileira, no dia 21, às 19h para as turmas que fizeram parte dessa história até a década de 1990. No dia 22, também às 19h, será festa para as turmas que passaram pela escola até 2018. A entrada custa R$ 50,00 e deve ser adquirida antecipadamente na sede da Escola Visconde de Cairu.

O encerramento das comemorações será na feira anual, na sede da escola na Rua Antônio Maria Coelho, que esse ano tem a temática "Escola Visconde de Cairu, 100 anos de uma história de sucesso", em que os alunos narrarão a linha do tempo da instituição.