Ela chegou à rede privada nesta semana, e a dose não sai por menos de R$ 500 em Campo Grande.

Nova vacina contra a dengue poderá chegar ao SUS em 2024, dizem pesquisadores
Processamento da Qdenga, a vacina contra a dengue que poderá chegar ao SUS. / Foto: Divulgação/AI Takeda Brasil

Velha conhecida, a dengue não dá trégua. Todo ano, são notificados casos graves e mortes decorrentes da doença.

A solução já encaminhada para ajudar na redução dos piores quadros da infecção, que podem evoluir para óbito, é a oferta da vacina Qdenga na rede pública de saúde. Isso pode ser possível a partir de 2024.

A previsão é da médica e doutora em Medicina Tropical, Ana Lucia Lyrio, que coordenou os testes clínicos do imunizante em Campo Grande, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

"O Ministério da Saúde está estudando isso. É de interesse da população, pois somos um dos países com maior nível epidêmico do mundo, com os piores índices", ressalta a médica.

Lyrio avalia que a vacina apresentou boa resposta contra a dengue, sendo comprovada a eficácia de 80,2%.

Ela ainda acompanha 100 pessoas que participaram do estudo na Capital e não apresentaram forma grave da doença. "Tiveram apenas as reações adversas comuns após a vacinação, que é o que todo mundo que se vacina normalmente espera", diz.

Etapas - O epidemiologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Rivaldo Venâncio, concorda com a previsão. "Mais de um ano de tempo é razoável, porque a vacina ainda precisa passar pela Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias do SUS e seguir todo o trâmite de compra e distribuição", avalia.

Venâncio também coordenou testes em Mato Grosso do Sul da Qdenga e, ainda, da Dengvaxia, um primeiro imunizante aprovado no Brasil, mas que tem público de aplicação mais restrito em relação à vacina que tem chance de ser incorporada ao SUS.

Ele afirma que disponibilizar a vacina em larga escala contra a dengue no SUS impactará o perfil da doença. "Pode haver uma queda das médias de casos graves, especialmente nas regiões endêmicas onde incidem determinados sorotipos da doença", afirma.

O jornal O Globo destacou, em reportagem publicada em 21 de junho, fala do coordenador substituto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Daniel Ramos, que prevê distribuição da vacina nos postos de saúde em até um ano e meio, caso seja aprovada a incorporação ao SUS. A fala ocorreu durante um debate realizado na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados, no início deste mês.

"Algumas etapas adicionais precisam acontecer para podermos incorporar essa vacina. Nós aguardamos um posicionamento oficial da OMS a respeito, que deve sair em setembro. A previsão de incorporação dessa vacina no SUS, se tudo correr bem, é de aproximadamente um ano e meio", disse Ramos.

Ele mencionou, ainda, que poderá ser discutido acordo para a produção do imunizante no Brasil, na Bio-Manguinhos da Fiocruz. Isso, inclusive, baratearia o imunizante, que hoje é produzido pela farmacêutica japonesa Takeda.

Em MS - De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela SES/MS (Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul), nesta terça-feira (27), são 49.000 casos prováveis da doença registrados desde o início do ano.

Já os óbitos causados pela doença são 30, sendo dois por infecção concomitante de dengue e chikungunya.

População vai aderir? - Ana Lucia Lyrio e Rivaldo Venâncio acreditam que vai haver procura satisfatória da Qdenga, se ela for disponibilizada no SUS.

A dona de casa de Campo Grande, Mary Deleon, 57, a considera ótima alternativa para combater a doença, já que as medidas sanitárias não são adotadas por toda a população. "A gente não manda no quintal do vizinho", diz.

Caso chegue mesmo ao SUS, Mary se interessa em ser imunizada. "Essa doença afeta mais pessoas pobres, que não tem recursos para pagar no particular. Se tiver no SUS, vou querer tomar, sim", afirma.

Edileuza Rossi, 57, é corretora de imóveis e outra moradora da Capital que defende a incorporação da vacina da dengue ao SUS. "Deveria ser disponibilizada, sim, nos postos de saúde e incentivada a imunização", pontua.

Enquanto isso - A Qdenga chegou a Campo Grande e a outras capitais esta semana. Em clínicas pesquisadas pela reportagem, uma dose não sai por menos de R$ 500. São recomendadas duas delas, com intervalo de três meses entre as aplicações.

Mesmo com a vacina ao alcance de quem pode pagar, e possivelmente perto de chegar à rede pública, continuam valendo as medidas que combatam a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que transmite não somente a dengue, mas também chikungyna e zika vírus. Não custa repetir as principais: manter bem tampados caixas, tonéis e barris de água; não jogar lixo em terrenos; e cuidar para que recipientes não acumulem água da chuva.