Na moda entre jovens, gás tóxico é vendido livremente no comércio

Um produto comercializado para momentos de festas, especialmente em formaturas escolares, e aparentemente inofensível está virando modismo entre jovens de classe média do interior de São Paulo, já trazendo preocupação para especialistas em Campo Grande pelo uso impróprio entre adolescentes. O gás de buzina já matou pelo menos duas pessoas neste ano.

Encontrado nas lojas de produtos para festas, supermercados e até lojas de conveniências por menos de R$ 20,00, o frasco da buzina pode ser comprado por qualquer pessoa, sem restrições.

Em duas lojas visitadas na Capital, a reportagem não teve dificuldade em achar o produto nas prateleiras. Uma das marcas verificadas é importada da China.

O rótulo de uma dessas marcas alerta para os cuidados a serem tomados no acondicionamento do frasco e no seu uso, já que o gás é altamente inflamável. “A utilização do produto por menores de 18 anos deve ser supervisionado por um adulto”, descreve um dos itens, que diz ainda que a “empresa não se responsabiliza pelo uso indevido”.

Ainda em maior destaque, com letras grandes, o rótolo pede para “não inalar. A inalação direta deste produto pode causar danos à saúde”. Mas é justamente essa recomendação que os jovens estão desrespeitando e que tem preocupado as autoridades e especialistas que atuam no tratamento e repressão a substâncias entorpecentes.

O gás que provoca a buzina é composto pela mistura dos gases butano (70%) e propano (30%), mesma composição é encontrada, em dosagens distantas, em botijões, isqueiros, aparelhos de ar condicionados e geladeiras. O produto está sendo usado, com maior frequência, por jovens como alucinógeno e o risco de morte é real.

Para o delegado da Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), João Paulo Sartori, o uso do gás de buzina por adolescentes para se drogarem não é novidade, mas ainda não houve registro recente na Capital de casos graves, como aconteceu no interior de São Paulo, na semana passada, em que uma adolescente de 18 anos morreu após a inalação do produto.

Segundo o delegado, a melhor forma de evitar que o fato ocorrido no estado vizinho aconteça por aqui é a prevenção. “As famílias precisam conscientizar os jovens. A educação em casa é responsável para coibir o uso dessas substâncias”, comentou, acrescentando que mudança na legislação para proibir o comércio desse produto também é bem vinda, “mas os jovens sempre buscam um subterfúrgio”, alerta Sartori.

Já o médico psiquiatra Marcos Estevão Moura disse que o uso desse gás de buzina é um modismo em São Paulo que ainda não teria chego a Campo Grande. Para ele, como já aconteceu mortes, “não podemos esperar que ocorra o pior. É preciso prevenção, controle e repressão, para evitar que essa moda chegue aqui”, comentou.

Marcos Estevão explica que o produto é um composto pela mistura do gás butano (o mesmo gás de cozinha) com o propano. Quando inalado ele provoca a isquemia cerebral, ou seja, a diminuição do oxigênio no cérebro, causando alterações no nível de consciência, sonolência e alucinações.

O psiquiatra alerta que pode haver confusão no cérebro e tontura, além do estado de euforia no início. “O risco entre uma dose para causar a confusão cerebral e a dose letal é muito tênue. Se exceder, o risco de morte é certo”, garante.

Conforme Marcos Estevão, a redução do oxigênio no sangue obriga o coração a trabalhar mais para suprir essa falta, havendo aceleração dos batimentos, a chamada taquicardia, podendo levar a parada cardíaca e à morte, como aconteceu com dois jovens no interior de São Paulo, a última na semana passada.

Para o especialista, esse gás e o "loló" são drogas de iniciação e virou uma opção acessível para jovens que buscam sensações semelhantes às provocadas por drogas ilícitas. Mesmo não sendo disseminado, como ocorreu com outros inalantes, a exemplo da cola de sapateiro nos anos 80 e 90, a preocupação é a facilidade para se adquirir o produto.