Mato Grosso do Sul é um dos maiores corredores de entrada de produtos contrabandeados do país.Pelas fronteiras com o Paraguai e a Bolívia entram ilegalmente no estado: cigarros, bebidas, vestuário, eletrônicos, medicamentos, cosméticos, pneus, drogas e armas. Essas mercadorias abastecem os mercados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.

Essa é uma das conclusões do estudo “Rotas do Crime – As encruzilhadas do Contrabando”, lançado nesta quinta-feira (3), em Campo Grande, pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). O trabalho mapeou as principais entradas de mercadorias ilegais e o caminho percorrido por esse crime no país.

O presidente da entidade, Luciano Stremel Barros, apontou que no ano passado houve um aumento significativo de entrada e de rotas de contrabando em Mato Grosso do Sul, por conta da intensificação da ação policial contra esse crime no estado do Paraná.

“Essas mudanças comprovam que a dinâmica da indústria do contrabando é bastante adaptável, e se move mais rápido que o Poder Público, por isso, precisamos de ações ainda mais efetivas para combatê-las”, afirmou.

Stremel lembrou que apesar do contrabando financiar e estimular uma série de outros delitos, ele é antes de tudo um crime econômico, que ocorre porque o preço do produto fora do país é mais barato que no Brasil. Portanto, uma das primeiras medidas que ele sugere para combater esse crime é a redução da carga tributária para os produtos que são alvos da prática.

Ele lembrou que com o ingresso e distribuição destes produtos, que não pagam impostos, não geram empregos e ainda alimentam a criminalidade, o Brasil teve um prejuízo em 2015, somente com a evasão fiscal de R$ 115 bilhões, o que representou um crescimento de 15% em relação a 2014.

Outro aspecto destacado pelo presidente do Idesf foi o da necessidade de aumentar os efetivos dos órgãos de segurança. “O indicado é que o país tivesse um policial para cada 200 habitantes, mas nós temos 1 para cada 400. Com isso, temos uma carência de mais de 300 mil agentes, além de infraestrutura e veículos para que esses policiais possam fazer seu trabalho”, destaca.

Com essa falta de efetivo, ele apontou que as cidades que estão na rota do contrabando sofrem sérios problemas econômicos e sociais, como desemprego, violência, evasão escolar e baixa autoestima da população, o que dificulta o desenvolvimento destas municípios e seus habitantes.

Na publicação, o instituto cita o caso de alguns municípios do estado enquadrados como “cidades gêmeas”, por terem uma fronteira direta com uma outra cidade no país vizinho. O trabalho aponta que entre as “cidades gêmeas” do país, o município sul-mato-grossense de Coronel Sapucaia teve em 2013 o maior índice de homicídios, 95,84 por um grupo de 100 mil habitantes, e que Ponta Porã, Paranhos e Mundo Novo estavam na terceira, quarta e quinta posições dessa listagem, com índices de 48,96, 45,72 e 45,31, respectivamente.

Ainda como medidas para combater o contrabando, o presidente da entidade sugeriu o diálogo com os países vizinhos, ações conjuntas que envolvam o Poder Público, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada e ainda iniciativas específicas e efetivas na área de fronteira.