Mato Grosso do Sul tem mais da metade do gado da fronteira rastreado
Rastreabilidade é exigência para rebanho na fronteira de Mato Grosso do Sul / Foto: Divulgação

Ao menos metade das 650 mil cabeças de gado bovino das 13 cidades de fronteiras (Mato Grosso do Sul com a Bolívia e o Paraguai) tidas como Zona de Alta Vigilância (ZAV) já está rastreada por meio dos brincos eletrônicos, mas o sistema criado com a intenção principal de atacar a febre aftosa, pioneiro no País, continua sendo alvo de duras críticas de produtores. 

O projeto é tocado pela Itel Informática Ltda., empresa de Campo Grande, uma das maiores prestadoras de serviço do governo estadual no setor informático e a coreana Hana Latin América Importação e Exportação de Produtos Eletrônicos Ltda. A validade do contrato expira no segundo semestre deste ano e o custo é de R$ 27,9 milhões. Produtores de ao menos três cidades da fronteira que recebem o recurso eletrônico queixaram-se do dispositivo. Porém, não autorizaram a publicação de seus nomes por, segundo eles, temer represálias que podem prejudicar seus negócios “lá na frente”.

“Esta empresa, a  coreana [Hana] que junto com a Itel  ganharam a licitação de 27,9 milhões para ‘brincar’ e rastrear o gado bovino na fronteira, contra a febre aftosa, é uma tecnologia de alta frequência, que não devia ser usada para rastreabilidade de animais. Esta empresa fez de Mato Grosso do Sul um plano-piloto mundial, ou seja, pagamos para ser cobaia, o que já e um absurdo”, escreveu à redação um dos produtores contrários ao projeto, gerenciado pela Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal, conhecida como Iagro.  O programa foi licitado em outubro de 2013, ainda na gestão do ex-governador André Puccinelli (PMDB).

Por telefone, o fazendeiro explicou o que quis expressar ao dizer que a tecnologia, brinco, no caso, é de “alta frequência”. “Isso, alta frequência, o gado ‘brincado’, por vezes, não é captado pelo sistema, o que compromete o objetivo da tecnologia, que é a rastreabilidade dos animais”, justificou o pecuarista que assegurou ter “umas centenas” de cabeças de gado já “brincado”. A identificação dos animais é captada através de sinais de rádio, o conhecido radiofrequência.

Para o produtor rural, o armazenamento individual dos dados do gado deveria ser feito pelo método de  “baixa frequência”. “Tem mais: quando o animal perde o brinco, a empresa não tem outro para repor, não é certo isso”, reclamou o anônimo. No início do rastreamento, em outubro de 2013, o Correio do Estado tratou o assunto em questão numa entrevista com produtores rurais da ZAV, um deles da cidade de Bela Vista, membro do Sindicato Rural da cidade. 

Ele criticou o valor do contrato com a coreana e a Itel, disse que o Iagro já controla os animais na fronteira e o que o dinheiro gasto com o programa poderia ser aplicado em outros benefícios. “Por que inventar um novo tipo de rastreabilidade? Mudar o sistema é um tiro no pé”, criticou. À época produtores das cidades de Antônio João, Japorã e Ponta Porã também reclamaram da imposição do brinco eletrônico.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a nova direção da Iagro não quis se pronunciar oficialmente por estar em momento de transição. Segundo informações de pessoas ligadas ao órgão, a resistência ao programa de rastreabilidade animal seria uma tentativa de comprometer o andamento do projeto.  “Tem gente receosa, afinal o brinco eletrônico é rigoroso e capta as supostas irregularidades”, disse um servidor que não quis ser identificado. O servidor argumentou ainda que o controle animal por meio do brinco é uma antiga exigência federal e que é o que garante ao Estado o status de área livre de aftosa.

Odair Mendonça, um dos gestores da Itel, empresa que venceu o processo licitatório para administrar a tecnologia, negou a versão dos fazendeiros .“Existem episódios indicando alguma falha [no sistema], mas isso não é uma regra. Se houve alguma quebra de brinco, temos, sim, como repor o equipamento”, afirmou. “Hoje, mais de 300 mil animais foram identificados [por meio do brinco], já implantamos o projeto em sete das 13 cidades da fronteira. Isso é um avanço sanitário e fiscal”, disse o gestor.