A fala de Lula marca mais um contraponto explícito com o presidente Jair Bolsonaro, visto entre os indígenas como um inimigo dessa população.

Lula promete ministério e fim de proposta de exploração das terras indígenas
Lula discursa em acampamento indígena em Brasília. / Foto: Reprodução

Em visita ao acampamento Terra Livre, organizado em Brasília por diversas etnias indígenas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duas promessas, mesmo sem a campanha eleitoral ter começado oficialmente: um ministério para cuidar das causas indígenas e o enterro da proposta de exploração das terras, apresentada pelo atual governo.

“Agora vocês me deram uma ideia: se a gente criou o Ministério da Igualdade Racial, se a gente criou o Ministério de Direitos Humanos, se a gente criou o Ministério da Pesca, por que a gente não pode criar um ministério para discutir as questões indígenas?”, disse Lula em discurso para uma plateia formada por índios mas também por partidários do ex-presidente que lotaram a tenda onde foi recebido. “Não vai ser branco como eu ou uma galega como a Gleisi (Hoffmann). Terá que ser um índio ou uma índia. Será alguém para poder dirigir da mesma forma que fizemos o Ministério da Igualdade Racial.”

Antes de ir até o acampamento, Lula se reuniu por cerca de duas horas com lideranças indígenas no hotel onde costuma se hospedar em Brasília. Uma fonte ouvida pela Reuters contou que Lula ouviu pedidos, ideias, mas também cobranças, entre elas a de que situações como a da hidrelétrica de Belo Monte –em que a obra deslocou indígenas, ribeirinhos e criou um caos ambiental– não se repitam.

A ideia do ministério, no entanto, surgiu apenas no discurso. Uma segunda fonte contou que, durante a conversa, a deputada Sonia Guajajara (PSOL-MA), ao ouvir de Lula que em seu governo vários indígenas tiveram cargos, respondeu que eles gostariam de ter ministros também. Mas a ideia do ministério não foi aventada.

A fala de Lula marca mais um contraponto explícito com o presidente Jair Bolsonaro, visto entre os indígenas como um inimigo dessa população. O acampamento, montado há duas semanas em Brasília, marca uma período de protestos contra políticas adotadas pelo atual governo.

“Se nós voltarmos ao governo ninguém vai fazer nada em terra indígena sem concessão de vocês, a decisão de vocês e a concordância de vocês”, discursou.

A fala de Lula, no entanto, incluiu também o reconhecimento de que, se chegar novamente ao governo, terá que fazer mais. 
“Certamente os governos do PT não fizeram tudo o que deveriam ser feito, mas certamente ninguém fez mais do que nós fizemos”, disse. Eu estou disposto a voltar a governar esse país, 12 anos depois de deixar de ser presidente. Em 12 anos a gente aprende muito, sabe o que fez, o que não fez, o que pode fazer mais.”

O ex-presidente, que está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, disse ainda que planeja um “revogaço” contra medidas aprovadas pelo atual governo e que afetam os povos indígenas, assim como a retomada das demarcações de terras.

“Esse país tem muita terra”, disse Lula. Para ele, não é “necessário ofender as nossas reservas florestais, as terras onde moram nossos indígenas, para plantar e garimpar”, disse.
“Nós já provamos, a ciência já provou, que não é preciso queimar uma árvore para criar uma cabeça de gato, derrubar uma árvore para plantar soja. Temos terras degradadas que podem ser recuperadas para se plantar o que quiser.”