Segundo a PF, o policial militar seria líder de esquema que lucrou mais de R$ 40 milhões com contrabandos

Líder de quadrilha, militar escapou de inquérito da PMMS por não usar farda para contrabandear
Somente investigação da Polícia Federal conseguiu prender o militar / Foto: (Reprodução)

Há quatro anos, a PM (Polícia Militar) já sabia que o policial militar Wellington da Silva Cruz atuava com contrabando em Mato Grosso do Sul. Isso porque, em 2021, instaurou inquérito policial para investigar o oficial por contrabando. Nesta quarta-feira (3), operação mirou esquema que lucrou mais de R$ 40 milhões com produtos ilegais e teria Wellington como líder.

Em CI (Comunicação Interna), a Polícia Militar pontuou que o policial estaria comercializando “diversas mercadorias de forma irregular, sonegando impostos e não fornecendo nota fiscal”. O PM teria agido por meio de cinco lojas, sendo quatro delas localizadas em Campo Grande e uma no interior do Estado.

A delegada Cláudia Angélica Gerei, na época titular da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), assinou o inquérito aberto em 12 de janeiro de 2021. O Jornal Midiamax teve acesso ao documento. A Decon é braço da Polícia Civil em Mato Grosso do Sul.

 Assim, pediu a apreensão das mercadorias encaminhadas pelo Procon à delegacia, bem com ouviu funcionários dos estabelecimentos. Além disso, terminou a intimação e o depoimento de Wellington.


Ação nas lojas
Naquele mesmo dia, ação da Decon e do Procon miraram uma das lojas denunciadas. “Intuito de averiguar denúncia de prática de descaminho e sonegação fiscal”, defendeu o relatório.

Contudo, no momento da fiscalização, um homem se identificou como gerente e disse que se tratava de distribuidora, não de vendas para varejo.

“Fato esse que inibiu a atuação do Procon-MS, que se ateve somente à documentação de atividade do estabelecimento e à apresentação das notas fiscais de entrada e saída dos produtos. Não fiscalizando o interior do estabelecimento, como o depósito e demais dependências”, explicou o texto.

Durante a ação, a equipe do Procon-MS presenciou pessoas buscando os produtos e recebendo apenas o recibo da compra. Assim, notificou a empresa a apresentar as documentações fiscais.

Denúncia de contrabando
No entanto, a suspeita do esquema de contrabando que seria liderado por Wellington começou em 2019. Isso porque uma denúncia anônima, em abril de 2019, apontou as lojas como irregulares.

O denunciante aponta Wellington e a ex-esposa como donos de cinco lojas. “Além de preferirem perder uma venda a ter que emitir uma nota fiscal”, apontou. No texto, a pessoa destaca que há sonegação de impostos, origem ilícita dos produtos e irregularidades fiscais.

“Não posso afirmar com precisão a proporção das irregularidades, porém, tenho certeza que as irregularidades estão presentes e estão ocorrendo nessas empresas”, pontuou.

Naquele mesmo ano, cerca de um mês depois, a denúncia foi encaminhada para a Decon, que realizou diligências. Ademais, sugeriu que a Dedfaz (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários) acompanhasse o caso.

O Midiamax procurou a Polícia Civil sobre o inquérito. Porém, não houve retorno até o momento. O espaço segue aberto para manifestação da parte.


Suposto líder
O policial militar Wellington da Silva Cruz seria o líder da quadrilha especializada em contrabando, alvo da Operação Uxoris. A ação foi deflagrada em Campo Grande e São Paulo, em 3 de dezembro.

A quadrilha lucrou mais de R$ 40 milhões, sendo alvo de oito mandados de busca e apreensão em Campo Grande e outro em São Paulo, cumpridos pela PF (Polícia Federal) e Receita Federal, por meio da Delefaz (Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários).

Na Capital sul-mato-grossense, uma loja de assistência técnica e um depósito, de propriedade de Wellington, foram interditados.

Dos R$ 43 milhões movimentados pela quadrilha, R$ 18 milhões teriam sido movimentados pelo líder, apontado como Wellington. Ele foi denunciado pela ex-esposa, que estava tendo seus documentos pessoais usados de forma indevida para a constituição de pessoas jurídicas de fachada.

Assim, em coletiva de imprensa na superintendência da PF, o delegado Anezio Rosa de Andrade, chefe da Delefaz, revelou que a quadrilha agia em torno de três a cinco anos no Brasil.

Com distribuidores em Mato Grosso do Sul e São Paulo, os criminosos enviavam mercadorias para todo o país, especialmente pelo marketplace — plataforma on-line que conecta computadores e vendedores.

“Mercadorias de diversos tipos, eletrônicos, utensílios domésticos, mercadorias controladas, cigarros eletrônicos”, detalhou Anezio.

O que diz a PMMS?
Conforme o Portal da Transparência, o policial recebe um salário de R$ 7,5 mil. Então, ao Midiamax, a PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) informou, por meio de nota, que a Corregedoria-Geral está colaborando com a Polícia Federal e permanecerá à disposição para prestar todo o apoio necessário ao andamento das investigações:

“A PMMS reafirma seu compromisso com a ética, a legalidade e a integridade, não admitindo condutas que violem os princípios que norteiam a atividade policial militar. A Corregedoria-Geral da PMMS acompanha o caso e já instaurou os procedimentos administrativos disciplinares para apuração completa dos fatos envolvendo o policial investigado.

A Instituição destaca, por fim, que não tolera comportamentos incompatíveis com a missão policial e trabalha de forma contínua para oferecer um serviço de qualidade à população sul-mato-grossense, fortalecendo a confiança e a segurança da sociedade.”