Delegacias acionadas não aceitaram o caso, e pediram para direção do hospital retornar em 10 dias.

Ladrões furtam cabos de cobre de hospital, deixando pacientes e funcionários sem água
Foram furtados aproximadamente 250 metros de cabos unipolar de 50 milímetros. / Foto: Direção do hospital

No fim da tarde de ontem (25), ladrões furtaram cabos de energia da bomba de água do poço artesiano que abastece o Hospital São Julião, no Jardim Columbia, em Campo Grande. A unidade que conta com 105 leitos, sendo que 90% estão ocupados, ficou por um período sem água. A direção do hospital foi a duas delegacias, mas ambas não atenderam o caso, alegando que eles deveriam voltar dentro de dez dias.

O diretor do hospital, Amilton Alvarenga, contou na manhã de hoje (26) ao Correio do Estado por telefone, que logo depois de ter conhecimento do acontecido, decidiu levar esta situação até a delegacia. Com intenção de abrir um boletim de ocorrência a respeito, afinal, se trata de um centro que atende inúmeras vidas e que sem água, pode colocar várias em risco, Amilton foi a duas delegacias e não foi atendido por nenhuma, com a justificativa de que furtos não serão atendidos durante o período da quarentena do novo coronavírus, e que apenas ‘crimes mais graves’ seriam assistidos.  

O diretor conta que chegou à porta da primeira delegacia, que estava fechada, e um funcionário de dentro do local indicou que eles não o atenderiam. Dessa forma, decidiu ir até a uma Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac). Com paciência, Amilton explicou que era da direção do hospital, e que não se tratava de um furto qualquer, mas sim de fios de cobre responsáveis pelo funcionamento de todo circuito de bombeamento de água do hospital, e que isso coloca a vida de muitas pessoas em risco. Contudo, teve como resposta da delegacia que voltasse com a situação daqui a dez dias, e que no momento eles não atenderiam o caso e não registrariam o boletim.  

O hospital tem seu próprio sistema de água, que abastece o reservatório, com capacidade para suportar 250 mil litros. Essa água é distribuída por toda área pertencente ao hospital, equivalente a cerca de 230 hectares, incluindo desde área administrativa, blocos de centro cirúrgico, salas de terapia ocupacional, casa de funcionários, leitos, cozinha, área rural com horta e animais. Quando o reservatório chega a uma quantidade baixa de água, menor que o normal, um alarme toca.

Foi dessa forma que os profissionais presentes do local viram que a água não estava mais vindo do poço. Foram furtados cerca de 250 metros de cabos, unipolares de 50 mm (milímetros), que ligavam a bomba de água do poço artesiano até a casa de máquinas.
 

O reservatório fica cerca de dois quilômetros de distância dos demais prédios do local, que é totalmente protegido por muros, portas e concertinas (cercas de segurança). O diretor do hospital afirmou ao Correio do Estado que quem fez isso, estava mais que preparado, e que não se sabe ainda como eles invadiram o local.

“Quem fez isso veio preparado. A pessoa, ou as pessoas, entraram, arrombaram a portinha do quadro de segurança de comando, puxou 200 metros dos fios, um total de oito fios. Quatro pernas que vão do quadro, até o transformador, e quatro que ficam entorno do motor, que ficam presos juntos. Não se sabe como a(s) pessoa(s) entraram”, conta o diretor.

Os fios de cobre furtados são caros, específicos, por isso difíceis de encontrar. O diretor do hospital conta sobre as outras dificuldades encontradas, além dessas. “Estamos passando por uma pandemia, a maioria dos estabelecimentos está fechado, é muito difícil de encontrar. Além disso, estamos falando de um material que não é qualquer eletricista que sabe manusear, é muito específico, é necessário um técnico com essa capacitação, e nós não estamos conseguindo encontrar”.

Ontem a direção do hospital acionou o auxílio de caminhões pipa, para não faltar água em nenhum setor, além de já terem pedido racionamento de uma empresa particular, até que a situação seja regularizada. “Estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance. Mas, os caminhões só tem capacidade de trazer de 20 mil em 20 mil litros, então, vai demorar para encher tudo. Mas, a previsão é que até as 18 horas de hoje, tudo esteja estabelecido e reabastecido”.  

Amilton acredita que os responsáveis pelo furto, eram pessoas que conhecem desse setor elétrico, porque se trata de um fio com uma energização muito alta (360 volts). “Quem fez isso foi um grupo experiente, sabe mexer, vieram com alicates, foi uma ação muito bem planejada, porque é perigoso”. O diretor pretende reforçar a segurança do local, e analisar melhor os sistemas de segurança, de modo a analisar onde foi a falha que permitiu que o furto se efetivasse, e consertá-la.  

CORONAVÍRUS

De acordo com o diretor, o Hospital São Julião não está atendendo casos de Covid-19, porque a estrutura do hospital não possibilita isso. Contudo, ele está funcionando como uma retaguarda do Hospital Regional e dos postos de saúde que estão atendendo os casos de Covid-19. O fluxo de pacientes que não estão com coronavírus, mas que também precisam de atendimento, são direcionados ao São Julião. "Na falta de leitos nesses hospitais, pacientes em tratamento que não estão infectados vem para cá. Estamos com pouquíssimos leitos, operando na linha da lotação máxima”, confirma Amilton.