A Mil Tec Tecnologia da Informação Ltda, que se tornou herdeira de contratos de R$ 60.573.053,28 da Itel Informática com o Governo do Estado, está implicada nas investigações da operação Fazendas de Lama. A empresa, oficialmente no nome de um ex-sócio e de uma funcionária de João Baird justamente na Itel, foi alvo de buscas autorizadas pela 3ª Vara Federal de Campo Grande, especializada em crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e valores e crimes contra o SFN (Sistema Financeiro Nacional).

Ao acatar o pedido de busca, a Justiça Eleitoral reconheceu a alegação de que a Mil Tec é, na verdade, uma extensão da Itel Informática. Oficialmente, esta se incorporou integralmente à primeira no último dia 5 de fevereiro. A última, investigada na primeira fase da Operação Lama Asfáltica, foi baixada em janeiro deste ano justamente após as denúncias de improbidade administrativa em contratações com o poder público.

Com a incorporação, os serviços passaram a ser prestados pela Mil Tec. Somente neste ano, ainda estão vigentes R$ 60.573.053,28 em contratos com a baixada Itel Informática: R$ 13.578.000,00 com a Iagro (Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal) até setembro; R$ 21.906.720,00 com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) até março de 2019 e R$ 17.689.133,28 e R$ 7.399.200,00 com a Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda) até julho e dezembro, respectivamente, segundo os dados do Portal da Transparência do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.

Por meio de notas publicadas nos diários oficiais do Estado, é possível ver registro de R$ 28,6 milhões em empenhos já destinados diretamente à empresa. Alguns deles, em janeiro, antes mesmo da publicação da fusão das empresas em veículo oficial.

A Mil Tec tem desde 2004 como sócio Ricardo Fernandes de Araújo, que possui 91,6% da empresa e é ex-sócio da proprietária da Itel. Rosimeire Aparecida de Lima, que tem 8,3% do negócio desde fevereiro deste ano e se apresentou como representante da Itel em uma licitação da Prefeitura de Campo Grande em dezembro de 2014 para digitalização de documentos. Na ocasião, a Itel venceu a licitação.

Kamerof: elo entre Amorim e Baird

O grupo do empresário João Amorim, dono da Proteco Construções, e pivô da Operação Lama Asfáltica, se valia, segundo a Polícia Federal, de diversas empresas para tentar camuflar o suposto desvio de dinheiro público de obras.

As representações, em nomes de ‘laranjas’ ou até mesmo dos sócios ou das filhas de Amorim, supostamente transferia e emprestava dinheiro umas as outras, que acabavam repassados aos envolvidos, de acordo a apuração das investigações.

Este seria o caso da Kamerof Participações, que integrava a Itel Informática, ligando João Amorim e João Baird por meio da proprietária, Elza Cristina Araújo, também sócia da Proteco. Elza também mantinha a Arklyleius Holdings C.V., empresa declarada no Brasil como estrangeira, mas sem registros na Holanda, conforme declarado na Junta Comercial de São Paulo, segundo denúncia do Jornal Midiamax.

Nos registros comerciais da Holanda, João Amorim surge como diretor da Stichting van Shelling, com endereço da residência dele no Brasil como o declarado pela empresa às autoridades estrangeiras.

O suposto esquema para distribuição de dinheiro foi pensado anos antes. Em 2008, a Kamerof declarou uma distribuição de lucros de R$ 800 mil e, desses, emprestou para Ana Paula Dolzan, filha de João Amorim, R$ 770 mil, apesar de ter um capital social de apenas R$ 10 mil e não ter apresentado movimentação financeira. E mais: em 2007, quando sequer tinha registro de atividade, a empresa declarou aplicações de R$ 1.754.000,00.

Em 2010, a Itel distribuiu R$ 5,2 milhões a Kamerof. Por meio dela, Elza fez empréstimos a João Amorim, que tiveram como origem lucros distribuídos da Proteco (R$ 1 milhão) e da Kamerof (10,3 milhões, sendo R$ 4,7 milhões da Itel em distribuição de lucros).

O avião de João Amorim, que ficou conhecido como o “Cheio de Charme” pelas escutas telefônicas, também liga os empresários. Apesar de a Polícia ter concluído nas investigações que a aeronave é de Amorim, ele era registrado em viagens da gestão de André Puccinelli como avião da Itel Informática, de acordo com os relatórios policiais.