Jovem com doença de Avril Lavigne busca na web ajuda para tratamento
Amanda, de 20 anos, teve a rotina alterada pela doença de Lyme. / Foto: Arquivo pessoal/ Amanda Bertolini

Uma viagem de formatura em 2009 para Bonito (MS) mudou drasticamente a vida de uma jovem de Campinas (SP). Um mês após voltar para a casa, Amanda Bertolini, na época com 14 anos, começou a ter alucinações, dificuldade de aprendizado, dor nas articulações e fadiga extrema.

Depois de uma luta para descobrir o que causava os sintomas, ela foi diagnosticada com a doença de Lyme, a mesma que afastou dos palcos a cantora canadense Avril Lavigne e é transmitida por carrapato.

"Passo os meus dias deitada, sentada em casa ou num médico. Quase nunca saio. Não dou conta, me estresso ou canso"
Amanda Bertolini

Como a doença não é tão comum no Brasil, segundo Rosemeire Bertolini, mãe de Amanda, a chance de cura da filha está na Alemanha. Para ajudar a família a arrecadar o dinheiro para o tratamento, amigos da jovem iniciaram a campanha "Fica bem, Amanda" na internet.

Evolução dos sintomas
Atualmente com 20 anos, Amanda conta que precisa do tratamento urgentemente porque a doença evoluiu. São mais de 70 sintomas diferentes como desmaios, perda de movimentos, de memória, sensibilidade à luz e som, ataques de raiva e de pânico, erupções na pele e ganho de peso.

"O primeiro foi a depressão, cada vez mais intensa, chegando a me fazer tentar três vezes suicídio. Além de todos os sintomas de 2009, tenho também febre, meu nariz gela, meu pé fica formigando, dor de cabeça, arritmia, problemas de pressão, perda da fala, esquecimento de palavras, confusão na leitura, me sinto suja e com dificuldade de foco", explica.

Rotina alterada
Amanda conta que, antes da doença, era uma das primeiras alunas de sua turma e agora tem dificuldade para entender o que as pessoas falam. Ela lembra que tinha uma vida agitada.

"Agora, passo os meus dias deitada, sentada em casa ou num médico. Quase nunca saio. Não dou conta, me estresso ou canso", desabafa.

Na tentativa de seguir a vida, Amanda conta que no ano passado se inscreveu para fazer o curso de serviço social na PUC-Campinas. "Antes da aula começar, mamãe foi despedida e fui internada numa clínica psiquiátrica. Me liberaram da clínica no dia que as aulas começariam. Tive uma crise de pânico saindo da confraternização, tentei suicídio novamente e voltei para a clínica", conta.

Quadro agravado

"A mãe de Amanda conta que, como o diagnóstico da doença demorou, o quadro da jovem se agravou. "Como demorou mais de um mês, o tratamento ficou comprometido e só conseguimos fazer a bactéria dormir na época", explica.
É incrível como as pessoas estão compartilhando, contribuindo, fazendo orações e enviando energias positivas"
Rosemeire Bertolini, mãe da Amanda

Naquele momento, a família acreditava que a doença tinha regredido, mas depois da forte depressão que Amanda teve em 2013, a mãe conta que procurou mais explicações.

"Somente no Carnaval deste ano, uma grande amiga da família lembrou do Lyme. E ela estava certa, era a doença que havia voltado", lembra.

'Fica bem, Amanda'
A mãe conta que o maior sonho de Amanda hoje é voltar para a faculdade e ter uma vida como as garotas de sua idade. Para isso, segundo ela, a filha precisa fazer um tratamento que é oferecido apenas na Alemanha, que custa em torno de 30 mil euros, cerca de R$ 130 mil . "É o único que oferece a cura e não a remissão da doença de Lyme", explica.

Como está desempregada desde janeiro, Rosemeire não tem como arcar com essa despesa. Por isso, amigos da jovem tiveram a ideia de fazer uma campanha em uma rede social para arrecadar fundos. "A página Fica Bem, Amanda, surgiu da ideia de uma amiga dela, que junto com outras criaram a campanha. É incrível como as pessoas estão compartilhando, contribuindo, fazendo orações e enviando energias positivas", conta a mãe.

Amanda conta que a ideia inicial era enviar mensagens inbox para amigos, mas depois de vencer o medo de ser exposta, ela aceitou criar a campanha. Desde que entrou no ar, a página "Fica bem, Amanda" já arrecadou R$ 105 mil, segundo a jovem.

"Fizemos as contas de quanto precisaríamos, juntando o tratamento, as passagens, uns dias de hotel para que eu possa descansar da viagem e comida para esses dias. Resultou em 30 mil euros. Nós não estamos buscando dinheiro, estamos buscando a minha cura", desabafa.

A mãe de Amanda salienta ainda que Bonito é um lugar maravilhoso e que deve continuar sendo visitado. "A solução para aproveitar o passeio e ficar livre do Lyme é o uso de repelente", finaliza.

Doença de Lyme
Em abril deste ano, a cantora Avril Lavigne revelou que sofria da doença de Lyme há oito meses. Ela teve o diagnóstico após uma viagem de aniversário a Las Vegas em outubro de 2014, durante a qual ela não se sentia bem.

A doença de Lyme faz parte de um grupo de zoonoses não muito comuns, mas com grandes chances de letalidade. No Brasil, ela foi descoberta em 1992. Segundo Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a versão daqui é causada por uma bactéria, que é transmitida por carrapatos.

A doença de Lyme caracteriza-se, em sua fase inicial, por uma mancha vermelha ao redor da área picada. Os sintomas podem ser mal-estar, febre, dor de cabeça, dor muscular e nas articulações, que podem durar várias semanas ou mais. Nos casos em que não houve tratamento, ela pode evoluir e comprometer o sistema nervoso, alterar a visão e o equilíbrio.