O uso da cocaína foi apontado como em crescimento, bem acima de outras drogas, como maconha, ecstasy e anfetaminas, principalmente em países da União Europeia.
O setor de Inteligência da Polícia Boliviana está com uma investigação em curso, que acabou tendo um relatório parcial divulgado em 28 de outubro, que sugere que o Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa brasileira, está demandando que a produção siga crescendo no país vizinho.
O uso da cocaína foi apontado como em crescimento, bem acima de outras drogas, como maconha, ecstasy e anfetaminas, principalmente em países da União Europeia.
Os dados mais recentes do conselho europeu mostram que os usuários de cocaína aumentaram em 42,3%, entre 2016 e 2021, enquanto o número de usuários de anfetaminas teve crescimento de 37,9%.
Apesar do lapso temporal da pesquisa, as investigações e a movimentação de organizações criminosas neste ano estão sugerindo que esse aumento identificado só vem sendo consolidado e, com isso, as rotas para o tráfico acabam sendo mais demandadas, incluindo o trajeto que corta Mato Grosso do Sul.
Com esse cenário, outras organizações estão associadas ou vinculadas ao PCC para manterem o domínio em regiões dos departamentos de Santa Cruz de la Sierra, que dá acesso ao Brasil via Corumbá, além de Cáceres (MT), e Beni, que se conecta com Rondônia e tem ligação principalmente por Guajará-Mirim.
“De acordo com análise efetuada até 28/10/2025, referindo-se a duas principais estruturas criminais de alto valor que operam no território nacional [boliviano], que são: A) a rede transnacional liderada pelo cidadão uruguaio Sebastián Marset, ‘Rey del Sur’; B) a organização nacional encabeçada por Yasser Andrés ‘Coco’ Vásquez Cardona. Ambas representam uma ameaça iminente à segurança interna e regional, com indícios de escalada violenta associada a alianças com o Primeiro Comando da Capital (PCC), do Brasil”, especificou o informe da polícia, divulgado pelo jornal El Deber.
Essas conexões transnacionais identificadas pelo setor de Inteligência da Polícia Boliviana dão indícios de que existe uma possível conexão sem fronteiras entre criminosos tanto na Bolívia como no Brasil, com ramificações no Paraguai.
O interesse dessas conexões é exclusivamente para favorecer rotas que fornecem drogas e, potencialmente, armas, além de serem um caminho para a geração de grandes lucros.
O atual governo boliviano está na reta final de seu mandato, e o ministro de Governo, Roberto Ignacio Ríos Sanjinés, ressaltou que o trabalho contra o narcotráfico segue integrado com diferentes forças de segurança para combater as organizações criminosas. Ele divulgou um balanço de ações em uma rede social.
“Foram apreendidas 175,25 toneladas de cocaína e 1.624,51 toneladas de maconha, entre plantios e substâncias destinadas à distribuição. Ainda, foram destruídas 5.242 fábricas de pasta base e 402 laboratórios de cristalização, além de 248 aeronaves apreendidas e 391 pistas clandestinas destruídas. Hoje, podemos afirmar que demos passos importantes para fortalecer nossa Polícia Boliviana”, defendeu Roberto Sanjinés, que está deixando o cargo com o fim do atual governo.
Por conta do cenário político, não houve referências por parte do atual ministro sobre o combate à corrupção dentro da polícia. Contudo, esse é um outro desafio a ser enfrentado, conforme sugere o documento do setor de Inteligência.
Os criminosos estariam com pessoas “infiltradas” em forças de segurança do país vizinho para conseguir antecipar informações de investigações.
Conforme as investigações especializadas, membros da Armada e da Polícia Boliviana teriam se corrompido e estiveram envolvidos em 12 sequestros de pessoas ligadas a traficantes em uma área onde o PCC passou a atuar por meio da logística do uruguaio Sebastian Marset, desbancando criminosos que antes atuavam em partes do país.
As apurações indicaram que quatro servidores já foram identificados e que Marset teria apoio desses infiltrados.
Sobre o combate à corrupção policial, o caso mais recente ocorreu em 22 de setembro, quando dois militares e um policial foram presos por suspeita de ligação com o traficante Yasser Vásquez em crimes ocorridos no departamento de Beni.
COMBATE BINACIONAL
Oficialmente, ainda não existe a confirmação de que forças de segurança brasileiras e bolivianas estão trabalhando focadas para prender Sebastian Marset e Yasser Vásquez, os dois nomes destacados pela Inteligência da Polícia Boliviana.
Porém, por conta da complexidade desse caso, fontes na Polícia Federal (PF) ressaltaram que é um assunto delicado para ser divulgado o andamento das investigações.
No contexto de trabalho fronteiriço, o superintendente da PF em Mato Grosso do Sul, Carlos Henrique Cotta D’Angelo, ressaltou que o trabalho investigativo atual está baseado, de forma geral, em combater o lado financeiro das organizações criminosas, sem mencionar nomes de grupos.
“A grande massa da prática da criminalidade envolve a busca pelo lucro, sempre há esse viés. A criminalidade aumenta porque há retorno de lucro. A forma mais inteligente de atuar é sufocar a parte econômica do crime. O dia em que o crime ficar mais custoso e desinteressante pelo lucro, haverá um resultado mais efetivo. Essa é uma lógica global”, comentou D’Angelo em visita feita a Corumbá, durante a posse do novo delegado-chefe da Delegacia do município, no dia 31 de outubro.
Segundo a PF, agentes da Polícia Boliviana estão previstos para serem mantidos em Corumbá de forma regular, para tentar aumentar o poder de investigação binacional. A Polícia Federal atualmente mantém agentes em La Paz e em Santa Cruz de la Sierra.











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