Você já parou para contar quantas vezes toca em algo na rua e leva a mão à boca, nariz ou olhos?

Infectologista explica porque só o isolamento é eficiente

“O vírus é um agente dentro de uma célula, protegido. E onde houver umidade pode ser um agente de transmissão.” A explicação é do infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, professor da Faculdade de Medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e envolvido nas ações nacionais contra o corona vírus como coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz.

Durante os trabalhos da fundação na cidade do Rio de Janeiro, o médico-pesquisador conversou com a reportagem por telefone. Ele explicou que, ao tomar contato com a umidade, o corona encontra o cenário para a contaminação. Assim, a pessoa que toca um corrimão, um caixa automático, o assento do ônibus, a maçaneta que outra pessoa contaminada tenha deixado o vírus, pode contribuir para a transmissão.

Mas não basta o contato com locais contaminados, alerta Cunha. É preciso que a pessoa leve o vírus até mucosas, na boca, narinas, coloque as mãos nos olhos.

Por isso, o infectologista é enfático. “Lavar, lavar, lavar, lavar as mãos e o rosto”, diz, enfatizando repetidas vezes o verbo. Os cuidados chegam a ser obsessivos, admite.

Cunha explica que manter a distância é outro elemento importante, citando que, nos diálogos, muitas gotículas podem ficar no rosto das pessoas, imperceptíveis, e, ao passar a mão no rosto e nas mucosas, adquire-se a doença. Ele recomenda pelo menos um metro e meio de distância. 

São comportamentos que exigem uma cautela permanente, seja para aqueles que estão no isolamento imposto como forma de prevenção ou aos que estão trabalhando nos serviços que não pararam. A ida ao mercado, receber o cartão bancário depois de uma compra, as sacolas de compras, lembra.

O médico ainda orienta que a regra da distância nas conversas, no contato, deve seguir dentro de casa, com os demais familiares, em especial com idosos e as pessoas vulneráveis, como fumantes, doentes em tratamento com quimioterapia, radioterapia, hemodiálise, entre tantas outras enfermidades expostas à ação mais severa da doença.

Voltando da rua- Cunha reconhece que há medidas difíceis de serem adotadas no dia a dia, dados os hábitos e ritmo de vida, como sempre retirar os calcados ao entrar em casa. Mas ele considera menos grave dentre as hipóteses de contágio. “Ninguém chega, passa a mão no sapato sujo e depois a leva à boca”, compara.

Porém higienizar as maçanetas do lado de dentro e de fora da porta de entrada é uma medida que ele defende.

Por excesso de cautela, não é incomum que circulem vídeos nas redes sociais, alertando às pessoas que retirem os sapatos, recolham as roupas trazidas da rua, lavem todos os produtos adquiridos.

Novamente ele lembra que o essencial é várias vezes ao dia lavar mãos e rosto. A sacola do mercado não vai contaminar o ar da casa, compara, relembrando a regra da necessidade do contato do vírus com as mucosas.

Quanto aos alimentos, Cunha sugere que nem só em tempos de Covid-19, mas sempre as pessoas deveriam lavar com água e sabão as frutas, verduras, ovos antes de preparar ou consumir. “Quando nada, vai tirar o agrotóxico”.

Sabonetes- Cunha ainda alerta, como têm feito muitos profissionais de saúde, que o uso de sabonetes antissépticos não é indicado. Explica que eles podem causar ressecamento e provocar microfissuras na pele, que são imperceptíveis e que podem propiciar um ambiente de entrada do vírus no organismo.