Índios dizem temer ataques e denunciam água envenenada
Paulo Pimenta ao lado de um dos líderes do grupo, que segura pintura do rosto de Marcos Verón

Índios guarani-kaiowá da aldeia Taquara, no município de Juti, a 320 km de Campo Grande, temem novos ataques ao acampamento montado na Fazenda Brasília do Sul, palco da morte do cacique Marcos Verón, em 2003, e que voltou a ser ocupada no dia 15.

O temor foi manifestado por líderes do grupo ao presidente da CDDH (Comissão de Direitos Humanos) da Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que esteve nesta quarta na aldeia Taquara.

Ao parlamentar e a servidores da Funai e do MPF (Ministério Público Federal), os índios relataram violações e denunciaram que novos ataques podem acontecer no final de semana. Segundo a assessoria de Paulo Pimenta, os guarani-kaiowá pediram proteção às autoridades federais, já que crianças e mulheres estão no acampamento.

Água envenenada - “Os indígenas se mostram inconformados com a possibilidade de envenenamento de mais uma fonte de água, pelos ruralistas, que pretendem avançar em área dos guarani-kaiowá para plantar cana. Esse é o motivo da nova resistência”, afirma a assessoria.

"Não vão acabar com a nossa água. As únicas áreas e riachos que ainda estão preservados são as que estão próximas aos nossos acampamentos. O resto já foi tudo envenenado", disse uma liderança citada pela assessoria de Paulo Pimenta. "Nossa área é de 9.700 hectares, já reconhecida pela Funai. Quando sair a homologação de nossa terra queremos que ela ainda esteja preservada. Por isso, vamos resistir e continuar com nossas retomadas", explica outro líder da Taquara, que não teve o nome divulgado.

No dia 15 deste mês, pelo menos 600 índios saíram da área na qual tinham permissão da Justiça para permanecer e seguiram para perto da sede. A movimentação gerou tensão. Uma equipe do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) foi ao local, o que deixou o clima ainda mais tenso.

Luta de duas décadas – Segundo Paulo Pimenta, há 19 anos os índios lutam pela demarcação das terras. Em 2010, o Ministério da Justiça reconheceu a área sob disputa como território dos guarani-kaiowá. Desde então os índios aguardam a homologação da área pelo governo federal.

Pimenta disse que a presença de autoridades federais na região demonstra que nenhum ato de violência contra os guarani-kaiowá será ignorado pelo poder público. Ele prometeu levar os relatos de ameaças ao Ministério da Justiça.

O Ministério Público Federal informou que trabalha para agilizar uma nova perícia antropológica na área para desbloquear o procedimento de demarcação, suspenso por uma liminar do STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo a assessoria, Pimenta ainda vai se reunir com índios do Tekohá Tey Jusu, em Caarapó, onde vivem 30 famílias.