Ela falou na terça-feira (26) numa audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH).

Igrejas têm papel na superação da violência contra a mulher, diz pastora
A pastora Romi Bencke fala em audiência pública conduzida pelo senador Paulo Paim a respeito da violência contra as mulheres. / Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Na avaliação da pastora luterana e secretária-geral do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), Romi Bencke, o elevado número de casos de violência contra a mulher no Brasil está ligado à ação de grupos fundamentalistas religiosos.

Ela falou na terça-feira (26) numa audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH).

A gente tem percebido no Brasil uma campanha que é protagonizada por grupos fundamentalistas e impacta diretamente na vida das mulheres.

Essa relação existe porque todo discurso fundamentalista é um discurso patriarcal, que desrespeita a vida das mulheres, a vida da população negra, a vida das pessoas LGBT — disse ela.

Ela citou um trecho do livro bíblico do Eclesiástico que, em sua avaliação, reforça o papel de submissão das mulheres e afirmou que as igrejas precisam atuar para que esse tipo de texto não seja interpretado hoje ao pé da letra.

As igrejas têm um papel extremamente relevante na superação da violência contra a mulher. Isso porque todos os pilares que sustentam o patriarcado foram construídos com base numa hermenêutica patriarcal da Bíblia.

Então a violência contra a mulher tem uma base de argumentação teológica também — argumentou.

Integrante da Campanha Nacional de Enfrentamento aos Ciclos de Violência contra a Mulher, Daiane Zito Rosa destacou a importância da educação para a redução do problema:

Nós precisamos pensar a vida dos homens que cometem opressões e violências e também precisamos construir políticas públicas que não nos tornem também opressores. Não precisamos de mais cadeias, de mais punição, de uma nova forma de matar homens pretos. Precisamos de educação.

A representante da Conferência dos Religiosos do Brasil na audiência pública, Maria Luiza da Silva, relatou o trabalho desenvolvido pela entidade religiosa Um Grito pela Vida, que tem como bandeira de luta a erradicação do tráfico de pessoas.

Segundo ela, as mulheres, sobretudo as negras, são as principais vítimas desse tipo de crime.

Não é demais enfatizar que a violência sofrida pelas mulheres favorece o tráfico de pessoas. É ululante o nível de violência contra as mulheres no Brasil. A crueldade dos agressores é inaceitável.

A sociedade não pode aceitar essa cultura que desvaloriza a mulher e a coisifica, colocando-a em situação degradante e humilhante. Por isso, é importante a constante realização de campanhas educativas.

Quando uma mulher é agredida, violentada nos seus direitos, na sua dignidade, toda a sociedade também está sendo agredida — ela disse.

O secretário nacional da Pastoral da Juventude, Davi Rodrigues da Silva, destacou o papel desempenhado pelos jovens católicos em várias lutas sociais ocorridas no país a partir da década de 1960.

Desde 2017, segundo ele, a Pastoral da Juventude vem atuando no enfrentamento da violência contra mulheres.

A audiência foi presidida pelo senador Paulo Paim (PT-RS). No início da reunião, ele exibiu um cartaz da campanha 16 Dias de Ativismo contra a Violência de Gênero, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) que ocorre anualmente entre 25 de novembro (Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres) e 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos).