Caso o certame não ocorra neste ano, as chances de a privatização do maior complexo portuário da América Latina sair do papel são reduzidas.

Governo protocola projeto de venda do Porto de Santos no TCU
Governo protocola projeto de venda do Porto de Santos no TCU. / Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Após quase três meses de atraso ante o cronograma original, o governo protocolou oficialmente, no dia 23, no Tribunal de Contas da União (TCU) o projeto de privatização do Porto de Santos. Os sucessivos adiamentos para a entrega final da proposta fazem com que o tema chegue à Corte com poucas perspectivas. Apesar de o governo insistir em prever o leilão neste ano, fontes que acompanham o processo já reconhecem esse cenário como, no mínimo, improvável. Além dos atrasos e da complexidade inerente ao caso, o projeto foi apresentado ao tribunal com outro complicador: a indefinição sobre o que será feito com a área em que o Ministério da Infraestrutura planeja transformar em um superterminal para movimentação de contêineres em Santos. 

Caso o certame não ocorra neste ano, as chances de a privatização do maior complexo portuário da América Latina sair do papel são reduzidas. Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia paralisar o projeto, se eleito. Pelo menos é o que indica a equipe do petista responsável pelas propostas para a área de infraestrutura. A ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior (no governo de Dilma Roussef) afirmou ao Estadão/Broadcast que o time de Lula tem "enorme preocupação" com o modelo formatado pelo governo Bolsonaro e que avalia como alternativa fazer a concessão de serviços específicos das companhias docas, como o de dragagem.

Como mostrou no início do mês o Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, antes de o projeto de privatização chegar oficialmente ao TCU, auditores do tribunal estavam cientes de que o presidente da Corte e relator da privatização, ministro Bruno Dantas, queria examinar o caso no menor prazo possível. À época, o governo indicava que enviaria a modelagem até 16 de setembro - previsão que não se cumpriu. Antes de bater o martelo, o Executivo precisa da aprovação do TCU, o que é seguido pela publicação do edital. Só depois, o leilão pode ser realizado.

Disputas e curto prazo põem leilão em xeque

Além do cronograma apertado para a realização do leilão do Porto de Santos, a falta de entendimento sobre o arrendamento do terminal para movimentação de contêineres (STS10) piora a situação, apontam fontes. No plano do governo, o porto seria concedido à iniciativa privada com a área do STS10 já resolvida. A possibilidade ou não de armadores (empresas de navegação) disputarem a administração do terminal atrasou o cronograma.

O Executivo ficou encurralado em meio à briga do setor - que opôs companhias de navegação, que querem participar do leilão do STS10, e a Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), contra a entrada dessas empresas no certame. Como resultado, até o momento o projeto do STS10 não foi nem mesmo aprovado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (Antaq).

Na avaliação de uma fonte, a questão só será decidida no momento da publicação do edital. Em nota, o Ministério da Infraestrutura informa que pretende enviar em outubro as propostas de arrendamento do STS10 e STS53 à Corte de Contas. A pasta ainda afirma que mantém a previsão de realizar o leilão no quarto trimestre deste ano.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.