O ex-vereador Cristóvão Silveira e sua esposa Fátima foram mortos uma semana antes de seu casamento, pelo caseiro de sua chácara em Campo Grande. Filipi diz que até hoje não consegue lidar com o horror da lembrança para "deixar os pais partirem".

Filipi Silveira ao lado da mãe, Fátima e o pai, Cristóvão Silveira. Eles foram mortos em 2017 / Foto: Arquivo Pessoal

"Por que esses seres fizeram os piores tipos de maldade que se pode fazer com um ser humano com eles? Meu pai foi 'finalizado' de uma vez só, minha mãe viveu ali diversos sofrimentos e com o corpo já sem vida passou pelas piores maldades, por quê? Por quê?"

As palavras de dor e indignação são de Filipi Silveira, filho do ex-vereador Cristóvão Silveira e sua esposa Fátima Diniz Silveira. Esses dois sentimentos são constantes na vida do jovem há exatos dois anos quando os pais foram brutalmente assassinados pelo caseiro da chácara da família em Campo Grande (MS). "Fiquei doente, sozinho e vazio", desabafa.
 
De acordo com as investigações, o casal foi morto a golpes de faca e facão em um crime planejado pelo caseiro da chácara, Rivelino Nunes Magelo, com a participação de seus três filhos, Rogério, Rivaldo e Alberto.

Filipi diz que é muito difícil falar sobre o caso. Além da perda abrupta dos pais, que por si traz grande sofrimento, o alto grau de violência do crime lhe choca profundamente.

"Eu fico me perguntando, por quê? É de uma maldade tão grande, o que aconteceu com os meus pais foi um latrocínio mas com os maiores requintes de crueldade. [...] Eu só posso desejar que justiça seja feita e mesmo que isso aconteça, não alivia em nada a dor, nada vai trazer meus pais de volta", lamenta.

Rivelino foi condenado também por vilipêndio a cadáver, relacionado ao corpo de Fátima.

"Eu sou filho. Acordo todo dia e penso, acordo todo dia e sofro. Como pode um homem fazer uma maldade dessas? Ele não tem mãe? Não tem esposa? Ele não tem uma filha? Como é que alguém pode fazer uma coisa dessas com uma mulher? Não dá para entender."
 
Segundo o advogado da família, Fábio Trad Filho, Rivelino foi condenado a 46 anos de prisão. Rivaldo e Rogério foram condenados a 44 anos de prisão por latrocínio e Alberto a 3 anos por receptação, mas foi solto ainda em 2017. Um quarto envolvido no crime, Diogo, morreu em uma troca de tiros com a polícia. Pai e os outros 2 filhos foram condenados em 2018 e cumprem pena em regime fechado.
 
"Como latrocínio é crime hediondo, a progressão de pena para regime semiaberto é bem dificultosa. No caso do Rivelino, que já tem mais idade (, com pelo menos 40 anos em regime fechado é provável que ele morra dentro da prisão", explica o advogado.

Casal assassinado estava prestes a se casar
 
Filipi conta que os pais estavam vivendo um momento muito feliz: "Eles estavam prestes a se casar no religioso, minha mãe estava começando a organizar um jantar aqui em casa. No dia que eles foram para a chácara, meu pai tinha separado o terno. No dia que eles morreram, chegaria o vestido de noiva dela", relata, emocionado.

"No dia que minha mãe provaria o vestido de noiva e que nós deveríamos estar organizando a festa, acabamos organizando o velório deles. Meus pais foram enterrados com as roupas que usariam no casamento. A cerimônia seria no dia em que aconteceu a missa de 7° dia."
 
Após o crime, Filipi viveu dias de absoluto terror ao lado do irmão. Sozinhos, eles tiveram que lidar com a grande repercussão do caso e todos os trâmites judiciais que se seguiram. O jovem que é ator e cineasta enfrentou a depressão, hoje atenuada com tratamento e o apoio de amigos. Sofreu também de coroidite serosa central, uma doença causada pelo alto grau de stress emocional que provocou-lhe a perda temporária de visão em um dos olhos.

"Quando acontece uma tragédia dessas, e isso eu aprendi isso na carne, não matam simplesmente duas pessoas, eles destruíram uma família, mataram algo dentro de mim."

Filipi conta que como os pais eram pessoas públicas, até hoje encontra pessoas que lhe prestam solidariedade e trazem uma lembrança, um elogio a eles, uma palavra amiga. "Eu tento praticar os ensinamentos deles, seguir em frente, superar, mas é muito difícil. Nisso eu aprendi muito também, aprendi o que realmente importa na vida", declara.

"Eu chego em casa e não tenho eles para dividir meus mais diversos sentimentos. É difícil deixar meus pais partirem, eu me sinto cansado, parece que estou cansado por dentro."
 
Ele conta que gostaria de poder dividir com os pais suas conquistas: "Eu queria muito, na minha vida, realizar coisas para eles se orgulharem, mas não vai dar mais".

"Não adianta falarem para mim 'Eles estão no seu coração', não adianta. É complicado lidar com um sentimento que você não tem como verbalizar. A saudade machuca minha alma, é uma dor que não tem nome."
Para superar e continuar com seus projetos, Filipi diz que pensa no exemplo deixado pelos pais:

"Eles eram muito amados, queridos, pessoas boas que fizeram muito por muita gente. De tudo isso, sou muito grato por ter sido filho deles, tenho muito orgulho dos meus pais e isso ninguém pode me tirar", finaliza.