Policial penal preso “vendia” transferências e informações sigilosas a criminosos, segundo o Gaeco.
Uma caminhonete Ford F-250 foi dada para que não “dessem bonde” no primo de um traficante do PCC (Primeiro Comando da Capital) e outros R$ 25 mil foram pagos para transferir e “dar apagão” em um interno de presídio, por ordem do criminoso. Diálogos interceptados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) mostram que o policial penal aposentado, Alírio Francisco do Carmo, “lucrava” com o crime organizado.
Um ex-diretor da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) de Mato Grosso do Sul, Alírio Francisco do Carmo, foi preso por envolvimento com o crime organizado. Ele foi acusado de receber vantagens financeiras, incluindo uma caminhonete Ford F250 e R$ 25 mil, para facilitar transferências de presos e fornecer informações sigilosas. As investigações, conduzidas pelo Gaeco, revelaram que Alírio atuava como "inteligência" para o Primeiro Comando da Capital (PCC), acessando sistemas públicos para beneficiar criminosos. A Operação Blindagem, que resultou na prisão de Alírio, teve como objetivo desmantelar uma rede de tráfico de drogas e armas comandada por presos. Além de Mato Grosso do Sul, a quadrilha atuava em outros oito estados. A Agepen afirmou que repudia práticas ilícitas e está investigando o caso internamente. A defesa de Alírio não se manifestou até o momento.
Além de cobrar para atender aos desmandos de organização criminosa, o servidor, que chegou a exercer cargos de diretoria na Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) antes da aposentadoria, “ajudava” a quadrilha com informações sigilosas obtidas nos bancos de dados da segurança pública.
Alírio do Carmo foi preso na sexta-feira passada, dia 7, durante o cumprimento de ordens judiciais da Operação Blindagem, deflagrada para derrubar o tráfico de drogas e armas comandado por presos em Mato Grosso do Sul. Alvo de mandado de prisão preventiva (por tempo indeterminado), ele foi pego numa casa em Jaraguari, cidade a 45 km de Campo Grande.
O policial penal já comandou o Centro de Triagem Anísio Lima, no Complexo Penal do Jardim Noroeste, em Campo Grande, além de ter chefiado a Divisão de Ações de Segurança e Custódia, setor responsável pela movimentação carcerária, até se aposentar, com 30
Interceptações – De acordo com a apuração do Gaeco, Alírio foi cooptado pelos criminosos alvos da operação justamente quando virou chefe na Agepen. “Mediante promessa e o efetivo pagamento de vantagens indevidas, realizou transferências de internos do sistema prisional e apreendeu celulares de presos (desafetos da organização criminosa) a mando do grupo”, registraram os promotores Antenor Ferreira de Rezende Neto, Moisés Casarotto, Gerson Eduardo de Araújo e Tiago Di Giulio Freire ao pedirem a prisão do policial.
Tudo foi descoberto a partir da apreensão do celular usado pelo traficante Kleyton de Souza Silva, o “Tom”. À época, o condenado por tráfico cumpria pena no Estabelecimento Penal de Aquidauana.
Kleyton é conhecido no cenário criminal de Mato Grosso do Sul, já que é um dos condenados pelo tráfico de cocaína desviada do depósito de Delegacia de Polícia em Aquidauana e negociada pelo ex-delegado da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Eder Oliveira Moraes.
Conversas pelo WhatsApp entre o presidiário e outro nome famoso no cenário policial sul-mato-grossense, Thiago Gabriel Martins da Silva, o “Especialista” ou “Thiaguinho PCC”, que foi preso na Bolívia em 2023, “entregaram” o policial penal.
Numa das trocas de mensagens, Kleyton demonstra preocupação com “o bonde” que acontecerá no dia seguinte – transferência de presos. Thiago afirma que vai verificar a situação com “Seu Francisco”, que, conforme a investigação, trata-se de Alírio Francisco do Carmo. Neste momento, o criminoso ligado ao PCC revela que já pagou para que o servidor mantivesse um primo no estabelecimento penal onde estava.
“Mané, eu dei uma F-250 pra ele, pra ele blindar meu primo lá que os caras queriam dar bonde, o Wesley foi lá dar bonde, não conseguiu tudinho. A caminhonete vale 75 mil reais, você sabe disso”, diz Thiago a Kleyton.
De acordo com a investigação que antecedeu a Operação Blindagem, o ex-diretor, então, agiu para manter Kleyton no presídio de Aquidauana, com menos rigor na segurança.
Outro pagamento feito ao policial penal, segundo as interceptações, foi para efetivar a transferência de um preso e deixá-lo sem celular. “Da análise das conversas, verificaram-se tratativas com ‘Seu Francisco’ sobre como se daria o pagamento da vantagem indevida no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) que ele receberia para transferir um custodiado (não identificado). Do diálogo, nota-se que foi pactuado que o servidor receberia metade do valor numa sexta-feira e o restante na ocasião em que o interno chegasse ao estabelecimento para onde seria transferido”, diz relatório do Gaeco.
“Além disso, as mensagens também demonstram que foi exigido de ‘Seu Francisco’ que promovesse um ‘apagão’ no interno que seria transferido de presídio, podendo-se acreditar que a expressão ‘apagão’ signifique deixar o preso incomunicável, ou seja, sem acesso a aparelhos celulares”, completam os promotores.
Por fim, para o Gaeco, Alírio do Carmo era um dos integrantes do “setor de inteligência” da organização criminosa. “Há registros de que Alírio [...] acessava indevidamente os sistemas SIGO (Sistema Integrado de Gestão Operacional) e SEEU (Sistema Eletrônico de Execução Unificado), a mando do líder criminoso [Thiaguinho PCC], para lhe fornecer dados sigilosos sobre quem ele desejasse obter informações”.
Outro lado – A Agepen informou, via assessoria de imprensa, “a operação não teve como alvo servidores atualmente em exercício nas unidades penais do Estado”, mas, mesmo assim, “a Corregedoria instaurou procedimento administrativo disciplinar para apuração dos fatos”.
“A Agepen repudia qualquer prática ilícita ou ato de corrupção e atua de forma integrada com os demais órgãos de segurança e de justiça para coibir tais condutas. A instituição trabalha de maneira contínua para impedir o acesso indevido de internos a meios de comunicação externa, investindo constantemente em tecnologia e na capacitação de seus policiais penais para fortalecer esse enfrentamento”, informou em nota.
A reportagem não localizou a defesa de Alírio do Carmo, mas o espaço segue aberto para posicionamento futuro.
A operação – O Gaeco, com apoio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do Batalhão de Choque, foi às ruas no dia 7 de novembro para cumprir 76 mandados de prisão e de busca com o objetivo de desmantelar a organização criminosa armada dedicada ao tráfico de entorpecentes e armas. São investigados ainda crimes de agiotagem (usura) e lavagem de dinheiro.
Os “negócios” comandados de dentro do sistema prisional eram mantidos em Mato Grosso do Sul e em pelo menos outros oito estados: São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás.
Ainda conforme as apurações do Gaeco, a quadrilha enviava drogas para cidades do interior do Estado e para outras unidades da federação, utilizando métodos variados: caminhões com fundo falso que transportavam alimentos lícitos para camuflar o transporte de entorpecentes, remessas pelo Sedex via Correios e uso de veículos comuns e vans com passageiros.
O nome da operação faz referência à “blindagem” que os criminosos recebiam graças à corrupção de servidores.
anos de carreira, em setembro deste ano, conforme publicação no Diário Oficial do Estado.











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